Qual a melhor maneira de fechar a fase de tapering, ou polimento, de um treino para uma ultra de 80K?
Se perguntar para qualquer treinador, a resposta provavelmente será “alternando treinos intensos e curtos com longos períodos de descanso”. Pois é…
É o oposto do que devo fazer.
Ontem à noite deixei Portugal e estiquei um pouco a viagem, cruzando a Espanha e aterrissando em Barcelona, minha nova casa pelos próximos três dias. E, depois de um sono de 4 horas, já acordei pronto para devorar – com os pés – a terra de Gaudí.
Estou próximo à Cidade Velha, então rumei para lá e, entre ruelas e obras de arte arquitetônicas, acabei de frente para o mar.
Acelerei. Fiz uma tempo para curtir a brisa quente do Mediterrâneo reforçada pelo sol que já saía ardendo. Voltei. Circulei pela Rambla, tangenciei o Bairro Gótico, conferi o morro de Montjuic.
Subi um outro morrinho na praia para ver mais o mar.
Voltei, circulando sem rumo. E depois tomei o caminho de casa um pouco preocupado com o relógio que já brigava comigo pelo excesso de tempo nas ruas.
Está quente aqui: quando chegamos, já depois da uma da manhã, os termômetros marcavam 28 graus.
Mas temperatura alguma consegue fazer frente para a inspiração que vem desse museu ao ar livre tão vivo quanto é Barcelona. Museu, diga-se de passagem, que ainda percorrerei em longas caminhadas para cima e para baixo pelos próximos dias, pondo os pés à prova antes mesmo da prova.
Talvez isso – mesmo considerando a total inversão lógica – é que faça valer a fase de polimento.
Nada de preparar o corpo depois de meses de treinamento intenso: esse tipo de estratégia funciona melhor, acredito, para provas mais curtas.
Em ultras, é a mente que precisa estar melhor preparada, focada, oxigenada, inspirada. E inspiração se consegue deixando-a voar mais livre por cenas e momentos novos, bebendo vistas, vozes e ecos de histórias milenares que sempre encantam os ouvidos. Provando novos sabores, sentindo novos ares e testemunhando outros hábitos.
Dando um tratamento de choque para que ela – a mente – já comece a semana em um estado de êxtase forte o bastante para que consiga encarar bem as trilhas no Douro, um lugar igualmente magnífico (embora absolutamente diferente daqui).
A melhor estratégia de polimento, portanto, é se focar na mente e deixar o máximo possível de vida entrar para oxigená-la. A partir daí se estará pronto para encarar qualquer desafio.
Agora, 9 da manhã daqui – 4 no Brasil – é hora de aproveitar as horas antes das ligações e dos emails de trabalho e curtir a cidade.
A pé, claro.
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