Vídeo: Sobre uma prova que nunca farei

Nunca gosto de dizer nunca. Há uns 10 anos, do alto do meu sedentarismo, jamais poderia imaginar que estaria aqui, hoje, escrevendo um blog sobre um esporte que nunca sequer tinha ouvido falar.

Ainda assim, arrisco-me desta vez a pregar o “nunca” em relação à Hurt 100, uma prova de 100 milhas extremamente técnicas e perigosas sobre uma das ilhas do Havaí. A dificuldade é tamanha que, ao menos na minha concepção, a diversão acaba ficando de lado. E qual a graça da vida se ela não puder nos divertir?

Ainda assim, dificuldades e agruras assim são sempre divertidas em filmes. São os extremos vividos pelos outros que nos fazem curtir ainda mais as amenidades às quais nos lançamos com algum tempero de aventura.

Eis Hurt 100:

 

 

Publicidade

Vídeo para matar saudades das trilhas do Cruce

Mesmo com parcos anos correndo em trilhas, posso dizer que poucos são os percursos tao deliciosos quanto os do Cruce. Claro: todo ano os percursos mudam – mas a região é sempre a mesma. 

E isso inclui trilhas lisas e absolutamente corríveis, montanhas belíssimas emoldurando lagos sensacionais ao fundo em três dias de pura endorfina. Quem não foi ainda, recomendo seriamente. 

Para quem foi, eis um vídeo que achei agora na Web com um programa gravado na edição deste ano para a TV espanhola:

Asfaltite aguda

Nunca fui exatamente radical quanto a corridas em trilha: para mim, o que importa mesmo é poder correr, é passar horas a fio cruzando percursos quaisquer imerso nos próprios pensamentos.

Nesse período, de treino pleno para o Caminhos de Rosa, tenho passado mais tempo no asfalto: é mais prático e abre espaço para rodagens mais “amplas”, por assim dizer.

Só há um porém: as paisagens das montanhas e trilhas estão realmente fazendo falta agora.

Talvez tente compensar um pouco treinando no Pico do Jaraguá amanhã… não sei ainda.

Mas essa asfaltite aguda realmente está pesada.

IMG_0136

Vídeo: Indomit São Paulo/ São Bento do Sapucaí

Taí o vídeo de uma das corrida mais duras e belas que já fiz. Se alguém estiver pensando em um desafio sensacional pela inigualável Serra da Mantiqueira, recomendo fortemente. 

Até porque, provavelmente, esse é um que eu repetirei em 2017!

https://www.facebook.com/plugins/video.php?href=https%3A%2F%2Fwww.facebook.com%2Fbombinhasrunners%2Fvideos%2Fvb.289838951129935%2F990101871103636%2F%3Ftype%3D3&show_text=0&width=560

Beleza vicia

Já no domingo, horas depois de chegar em casa de São Bento do Sapucaí, me peguei vasculhando sites em busca de uma próxima ultra. 

Fiz isso escondido, acrescento: ser visto em casa entre gemidos de dor buscando uma próxima prova massacrante poderia ser interpretado como sinal de indiscutível loucura, talvez me rendendo um passeio até o manicômio mais próximo. Era prudente evitar. 

Depois de um tempo, no entanto, entendi melhor o que estava acontecendo. É simples: beleza vicia. 

Não há pontadas de dor nas coxas mastigadas pelos 3.500 metros de subida ou pelas unhas buscando fugir dos seus respectivos dedos que superem um único suspiro de paisagem maravilhosa. Mesmo nos momentos mais difíceis, como chegar ao primeiro cume ou serpentear sem água por um improvável bananal parece, aos olhos atuais, uma frugalidade. 

A falta de água não deixa memória: o bananal com suas folhas abafadas tentando, inutilmente, esconder as montanhas, deixa. 

A lembrança do esforço se esvai antes mesmo dar dor: a imagem da serra se exibindo, com seu verde clorofilático, em um show quase erótico, fica. 

E são essas imagens, essas cenas e sensações, que praticamente ordenam os dedos a passear por sites buscando a próxima serra, as próximas gotas de suor endorfinado, as próximas linhas de largada. 

Sim, beleza vicia. 

Não vou dizer aqui que seja um vício saudável. Talvez nenhum seja, é bem verdade – mas passar 10, 15 ou 20 horas correndo sem parar certamente está ali pertinho de alguma droga pesada. 

Mas, já que não mata, o que se há de fazer senão se entregar de peito, alma e pernas a toda essa beleza que cisma em se traduzir em percursos improváveis? 

Que venha mais beleza. Que venha uma próxima prova. 

  

Checkpoint: Ir até o céu cansa

Gráficos, às vezes, são a melhor maneira de se entender os motivos por trás das dificuldades que sentimos em alguns momentos. Esses abaixo, por exemplo: o ganho altimétrico nos 50K da Indomit foram quase iguais aos 100 do Cruce – sendo que estes foram distribuídos em três dias. 

Sim: a Serra da Mantiqueira não é a Cordilheira dos Andes. Mas a quantidade de montanhas esverdeadas pelo seu caminho, quando se somam, chegam a um desafio como poucos. 

   
 Ainda estou me recuperando, com dores musculares que já já devem deixar as pernas. Mas a grande vantagem de provas belas é que, enquanto mastigam o corpo, deixam o coração impregnado com as cenas de indescritível beleza coletadas pelo caminho. Esse residual é, talvez, a melhor coisa de se correr em montanhas. 

Indomit São Paulo Ultra Trail: Relato da prova

Tenho para mim que poucos lugares no Brasil são tão maravilhosos quanto a Serra da Mantiqueira. Seu verde clorofilático, suas montanhas, a majestosa Pedra do Baú e as pequenas cidades que polvilham a paisagem, encrustrando-se entre os vales, se somam em um cenário ímpar, inesquecível.

Foi por isso que me inscrevi na Indomit São Paulo. Por isso, claro, e pelos 3 pontos que cruzar a linha de chegada me daria para a UTMB.

Cruzei a largada já encantado com a paisagem de São Bento do Sapucaí – principalmente quando começamos s subir e deixamos a névoa que encobria a manhã para baixo.

Tudo era tão bonito que difícil foi não parar para tirar fotos e simplesmente respirar a Mantiqueira.

Pelo menos até determinado ponto.

Em algum momento lá pelo km 15, comecei a ouvir muitas preocupações quanto ao tempo de corte no km40 ena prova em si. Olhei pra o relógio e para cima.

Nas outras Indomit que participei, o terreno encharcado transformou as tantas trilhas técnicas em um pesadelo. Nessa, praticamente não havia trilhas técnicas e tudo estava relativamente seco – mas as dificuldades foram outras.

O calor, por exemplo, batia facilmente os 35, 37 graus. E isso não era nada perto da altimetria insana: os 3.500 metros de subida em 50K eram crueis. Árduos, áridos, gerando cenas com direito a corredores encostados em algum paredão vomitando seus estômagos para tentar manter guardadas as almas.

Em um determinado ponto, o coração disparava incerto, remexendo as entranhas inteiras. Onde achava sombra, parava para respirar e descansar uns minutos. Mas não muito: pela primeira vez na vida me senti pressionado por um cut-off e sabia que fotos e descansos deveriam ficar para uma outra prova.

Nesses momentos de cansaço extremo uma outra dificuldade se abateu: a falta de água. A temperatura engolia as mochilas de hidratação com uma sede insana, quebrando sem dó o planejamento da organização. Pelo menos 3 ou 4 dos 10 postos estavam secos quando eu passei, forçando os corredores a seguirem em frente bebendo apenas a força de vontade. Um deles foi especialmente marcante: o do corte no km40, depois de uma interminável subida. Passando por ele, um grupo de 5 ou 6 corredores estavam sentados no meio do estradão perguntando a quem passava se eles tinham água para compartilhar.

Eu ainda tinha alguns goles e, assim, fomos dividindo a sede por uns 3 ou 4km (de mais subida sob o sol, claro).

Os meros 15 minutos de folga com que eu tinha passado no corte do km40 foram evaporados pela força do sol e da altimetria. Àquela altura, muitos corredores haviam ficado no corte ou desistido e eu já duvidava se conseguiria chegar antes das 10h de prova – principalmente depois que me deparei com um trilha estilo vala, onde correr era impossível. Fui lento, tentando recuperar um pouco o organismo remexido e aproveitando cada milímetro de sombra e descida. 

Funcionou: depois de uns 3km, estava inteiro. O tempo, no entanto, já era inimigo.

Corri o quanto pude, usei os poles para forçar velocidade nas subidas, parei o mínimo possível. 

Quando cruzei a linha de chegada já havia estourado o tempo: 10h11m31s. 

Ainda assim, alguma compaixão deve ter acometido os organizadores que me deixaram cruzar, penduraram a medalha no meu peito e me entregaram a camiseta de Finisher. Se esses 11 minutos me tirarão os 3 pontos para Mont Blanc ainda não sei – mas espero que não.

Descobrirei no futuro próximo.

O balanço da prova? Linda como poucas, dura como menos ainda, com algumas falhas da organização mas, ainda assim, altamente recomendável. Altamente.

Com ou sem pontos, mesmo com o cansaço e os miseráveis 11 minutos e 31 segundos, testemunhar esse percurso foi, por si só, algo inesquecível.

Tão inesquecível que, embora ainda com as dores do dia seguinte, já ouso dizer que são grandes as possibilidades de eu voltar no ano que vem.

(Só espero que eles aumentem esse tempo de corte para que pelo menos possamos parar em alguns pontos para aproveitar a paisagem, esse sim o ponto mais alto da prova!)