Dia 4: Abundantemente só

Verdade seja dita, hoje era dia de descanso. Mas como conseguir? Como evitar que o corpo se erguesse sozinho para aproveitar a paisagem exuberante que descansava logo ali, 10 metros depois da janela? Saí.

E, desta vez, fui pela praia. Pela esquerda, rumo ao rio menor, em um naco mais deserto do litoral.

Não fosse a beleza estonteante do lugar, eu poderia até achar que estava correndo em uma esteira: o cenário era tão deserto, mas tão deserto, que a sensação de solidão se mesclava ao seu exato oposto: à de abundância. Tudo era gigante: o mar infinito se estendendo pelo horizonte à direita, a areia dura que se perdia pela frente e atrás, as dunas pontuadas por um ou outro cactus do lado esquerdo, o céu cintilantemente azul ardendo as costas nuas.

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Segui assim por pouco mais de 8 quilômetros até chegar à beira do pequeno rio. À minha frente, torres eólicas se alinhavam como que apontando para pequenas casas de pescadores nas margens, enfeitadas apenas por cores desbotadas e barcos cearenses típicos.

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Voltei.

Mesma abundância na volta, por todo o caminho. Na metade, parei ainda para subir uma duna que se estendia quebrando a horizontalidade do litoral. Suas areias deixavam crescer um pouco de mato rasteiro – o suficiente apenas para chamar a atenção. Do outro lado, um riacho fadado à morte serpenteava até lugar nenhum, sendo invadido pela areia fina de grão em grão.

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Mais para o horizonte, o cenário parecia outro: cactus se alinhavam dando um toque texano ao local e atordoando um pouco a mente. Parei, fotografei, gravei a cena na memória.

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Estava já quente, embora o relógio ainda não tivesse sequer chegado às 7:30 da manhã.

Percebi que dunas e cactus foram cedendo espaço a pequenas falésias cavadas, provavelmente, por insistência das marés altas. Árvores secas pendiam de cima, algumas derrubadas, mostrando todo o poder de se ser persistente mesmo diante de toda a vagarosidade do mundo.

Entrei por uma fenda nas falésias, fazendo o caminho de volta por dentro. Segui, agora ardendo sob o sol nordestino, até a pequena vila, onde dei uma volta na igreja matriz antes de retornar ao hotel. Tudo estava como ontem: calmo, parado, com ares de um eterno domingo.

Perfeito para começar uma quarta.

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