Caminhos de Rosa: Relato da prova

Talvez a mais célebre frase de Guimarães Rosa na sua obra prima, Grande Sertão: Veredas, seja “viver é muito perigoso”. É fácil imaginar perigo lendo as páginas de um romance repleto de tiros e jagunços – mas, às vezes, só se entende mesmo esse perigo vivenciando-o. Há imprevistos, há calor, há perrengues, há distâncias, há isolamento – como também há companheirismo, gestos ímpares de altruísmo e aromas que perfumam o ar de vontade de seguir adiante como nada mais.

Não duvido que viver realmente seja perigoso – mas é também absolutamente maravilhoso. Se ficou uma lição de correr 140km pelos sertões, foi essa.

E comecemos pelos imprevistos: já havia relatado aqui que um pacer, o Paulo, havia desistido por questões pessoais. Acontece: estava ainda com uma pacer – Luana Bianchi Ornelas – e uma comadre – Mayra Galha – que, mesmo sem entender direito esse esporte doido que tanto amamos, topou vir junto para conhecer o sertão, fotografar e ajudar. Havia ainda um terceiro membro que dividiria a tarefa de pacer com a Lu e que se juntou de última hora, o amigo comradeiro Thiago.

Infelizmente, ele veio e se foi com a mesma velocidade: imprevistos também o tiraram da rota na sexta de manhã, poucas horas antes da largada.

Enfim, nos agrupamos. A tarefa seria mais difícil, mas ainda viável: contaria apenas com uma pacer, que precisaria dividir seu tempo entre o tênis e o carro.

Nos reorganizamos. Refizemos o planejamento.

Às 14:00, sob o sol do sertão e logo depois de um vaqueiro perfeito seguir com uma boiada perfeita, largamos.

Trecho 1: 

Eu gosto de calor. Não só não me incomodo com o sol, mas costumo dar as boas vindas a ele seja qual for a temperatura.

Nada, no entanto, era igual àqueles 40 graus onipresentes se disfarçando entre meio metro de poeira fina que pulava do solo seco a cada pisada. O céu estava incrivelmente azul, não havia sombra e a paisagem era provavelmente a mesma pela qual Riobaldo, Diadorim e a jagunçada correu para tumultuar o sertão.

Corri esse primeiro trecho, de 45km precisamente marcados, exatamente conforme o planejado: em 6 horas. Houve apenas um porém (que acabou se mostrando crítico depois): as meias que levei tinham uma pequena saliência na sola do pé e começaram a fazer bolhas já depois do km 30.

Cheguei a parar para trocar os pares mas nada: as bolhas estavam ali para crescer e tudo o que eu podia fazer era aguentar.


A Luana entrou como pacer nos 8km finais do primeiro trecho, deixando a Mayra fotografando embasbacada com a beleza árida do sertão. Perfeito.

Chegamos na entrada do segundo trecho no pôr-do-sol, já vendo as florestas de eucaliptos que nos acompanhariam dali em diante.

Trecho 2: 

Mais 45km pela frente…. ou mais.

Pois é: à noite, a marcação da prova realmente estava com pontos falhos e a quantidade de bifurcações era tamanha que achar o caminho certo se transformava em um desafio à parte. Fitas? Impossíveis de enxergar sob a luz pálida da lua e a poeira turvando o ar. Setas reflexivas? Pequenas como eram, só se mostravam quando iluminávamos o local exato com uma mira cirúrgica.


Mas funcionamos bem como time, principalmente pelos olhares sempre atentos das meninas e, no final das contas, nos perdemos por apenas 2km.

Ainda assim, as horas que passamos na noite sertaneja foram, arrisco dizer, as mais difíceis de toda a prova. O isolamento era poderoso; as bifurcações eram cansativas; a sensação de estar correndo no mesmo lugar era torturante.

A solução? Quando estava correndo só, isolado no meio do sertão iluminado apenas pela lanterna e pela lua, cantar. E cantei alto feito um alucinado, gritando melodias desafinadas para o céu estrelado até rir de mim mesmo para, depois, engolir as risadas e me alimentar de bom humor.

Funcionou.

Ainda assim, todo o resto do planejamento morreu nesse segundo trecho, quando as bolhas começaram a assumir proporções realmente devastadoras.

Por fim, chegamos no ponto de controle que separava o trecho 2 do 3.

Ou não.

Ponto de controle? Nada: havia apenas uma barraca de camping com dois irmãos que nos ajudariam a atravessara BR e a começar o terceiro trecho diretamente.

Já eram 5:30 da manhã e o sol já começaria a raiar. O que fizemos?


Montamos o nosso próprio PC. Abrimos o carro, preparamos a cadeira e nos demos uns 20 minutos para recuperação com os pés para cima.

Era hora de rumar para a fazenda.

Trecho 3: 

Em tese, seriam 17km de onde estávamos até a fazenda, principal posto de controle da prova.

Com o sol raiando mas ainda sem o calor, toda a força reapareceu sabe-se lá de onde. Já estava com quase 100km rodados mas, tirando as bolhas, me sentia praticamente inteiro.

Corri o começo do trecho forte, aproveitando o frio da manhãzinha e aquele cheiro delicioso do sertão. Creio que foi mais ou menos por esse momento que algumas formações esquisitas começaram a aparecer para abrilhantar o caminho de exoticidades – como um conjunto de fornos de fabricação de carvão ou mini montanhas cortando leitos secos de rio que um dia deviam ter sido oceanos à parte. Tudo de uma lindeza sem tamanho.


Aí decidi andar um pouco.

Aí as bolhas apertaram ainda mais, me apresentando um novo estágio de dor.

Aí a marcação de quilometragem complicou avida.

17km? Só no papel. Na prática, foram 22 – e esses 5km a mais tiveram um efeito mental terrível para mim.

Mas, já sabia bem, ultras são jornadas que se faz sem parar – e acabei seguindo meu caminho. Cheguei na fazenda já sem plano e, no instante em que senti o cheiro delicioso de comida de verdade, abri um sorriso.

Sentei com os pés para cima em uma sombra na varanda, comi um prato de frango, tomei uma Coca e me dei ao luxo de dormir por exatos (e perfeitos) 10 minutos.

Só se entende o poder de uma brisa na sombra depois de passar tantas horas assando no calor do sertão, concluí.

Trecho 4: 

Ainda restava o último trecho. A distância? Já não arriscava mais confiar nem no GPS e nem na marcação da prova.

Apenas levantei, troquei de roupa e fui.

Fui andando, acrescento: correr já era uma impossibilidade.

Ali, naquele último trecho, tanto Mayra quanto Luana se revezaram como pacers, mantendo a conversa em alto e evitando os baixos tão comuns à exaustão.

Era um trecho difícil: em um ponto, havia algo como 8km de subida a céu aberto, assando ainda mais os miolos. Calor, cansaço, tudo se somou.

Em um dado momento, fui praticamente forçado pelas meninas a sentar e descansar: estava andando já em ziguezague sem saber, exaurido e mal humorado. Forcei por mais alguns metros mas acabei cedendo na última sombra antes de uma ladeira aberta.

Lá, enquanto descansava, um outro carro parou do lado e perguntou se estava bem. Depois que fiz que sim, a moça apenas falou: “já tem gente chegando e ainda falta muito, muito chão para você!”.

Se tivesse uma arma, Riobaldo certamente teria encarnado em mim e aquela moça estaria atravessando os céus. Ainda bem que o regulamento proibia assassinatos.

Levantei de novo, já razoavelmente recomposto depois de algumas castanhas de caju, uma barrinha de chocolate e uma Coca.

Segui andando, chegando até outra floresta de eucalipto, depois outra, depois outra.

Dado que o GPS já marcava 140km, esperava ver a chegada a cada curva – mas ela não vinha.

Enfim, chegamos à Gruta do Maquiné deixando para trás a poeira e entrando no asfalto que nos levaria a Cordisburgo.

“Devem restar apenas alguns metros”, pensei.

O apoio de uma outra equipe que estava próxima decidiu conferir a distância exata e voltar para contar, evitando essa angústia do inchegável. E ele voltou com uma notícia devastadora: “ainda faltam 4,5km, dos quais cerca de 400 metros são de subida e o restante é quase todo de descida!”

Pedi para sentar e descansar um pouco.

Respirei.

Me levantei.

A noite já havia caído de novo e, se eram só menos de 5km que me separavam da chegada, era isso que eu teria que enfrentar.

Luana e Mayra se revezaram novamente como pacers, sempre buscando manter o moral elevado. Funcionou.

Descer algo como 4km com tantas dores nas coxas não foi nada fácil, asseguro – mas foi viável. Tudo é viável quando se tenta.

Finalmente, uma pequena igreja e o portal dos sertões: estávamos em Cordisburgo.

Viramos uma esquina. Depois outra.

Mais uma.

À frente, o pórtico de chegada.

É impressionante como um arco tão simples pode representar tanta coisa. Tudo é sempre relativo na vida, tudo sempre depende da jornada. Tudo é a jornada.

Faltando poucos metros, pedi para a Mayra, que estava ao volante, estacionar o carro.

Estava tão grato às duas pelo colossal trabalho de ser apoio em uma prova dessas que queria muito cruzar a chegada com ambas.

Assim fomos, buscando energia de algum lugar qualquer para correr os últimos metros e terminar a prova.

Ali, 29 horas e 37 minutos depois, estavam concluídos os Caminhos de Rosa.

Ali, naquele momento, sob as palmas de Riobaldo e sua jagunçada, de Cara-de-Bronze, de Pê-Boi, de Dona Lina, de Miguilim e Dito, os caminhos também passaram a ser meus: viraram, ao menos em minha mente e em meu coração, Caminhos de Ricardo.

No final, meu GPS marcou quase 148km – uma jornada e tanto que certamente mudou muito a maneira com que enxergo a vida.

Toda ultra difícil cumpre esse papel, aliás, e é provavelmente por isso que as corremos: para conhecer melhor cada pedaço dos nossos corpos; para testar as nossas mentes; para abrir novos rumos aos nossos corações.

29 horas e 37 minutos depois eu era uma outra pessoa.

Estava exausto, mas renovado; quebrado, mas mais inteiro do que nunca; estava em puro estado de contradição. Estava entendendo que, sim, como dizia Guimarães Rosa, “viver é muito perigoso” – mas que importante mesmo é a palavra “viver”, não a parte do “perigoso”.

Perigos passam: o que fica é a jornada.

Se pudesse tecer algumas recomendações à organização e ao meu amigo Zumzum, diria para deixar as marcações noturnas maiores e mais reflexivas, para se assegurar melhor da extensão do percurso e para erguer mais pelo menos um ou dois postos de apoio. Mas não exagero em críticas: não tenho dúvidas da dificuldade monumental que deve ter sido organizar algo assim.

E, além do mais, tudo acabou transcorrendo bem, funcionando quase como deveria principalmente se considerarmos que seguir qualquer plano à risca no meio do sertão seria uma impossibilidade científica.

Deixo, portanto, dois agradecimentos aqui neste post que encerra uma jornada de mais de 5 meses de treinamento intenso: ao próprio Zumzum e à organização por nos proporcionarem essa oportunidade e, claro, às minhas duas queridas amigas e apoiadoras, Luana e Mayra, sem as quais jamais teria conseguido cruzar o pórtico de Cordisburgo.


Agora é hora de descansar um pouco.

Percurso completo:

https://www.strava.com/activities/683171669/embed/a952d3ac47176b7519d726c3948c1dc8c5db136d

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Percurso completo

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Análise de pace

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Vídeo para matar saudades das trilhas do Cruce

Mesmo com parcos anos correndo em trilhas, posso dizer que poucos são os percursos tao deliciosos quanto os do Cruce. Claro: todo ano os percursos mudam – mas a região é sempre a mesma. 

E isso inclui trilhas lisas e absolutamente corríveis, montanhas belíssimas emoldurando lagos sensacionais ao fundo em três dias de pura endorfina. Quem não foi ainda, recomendo seriamente. 

Para quem foi, eis um vídeo que achei agora na Web com um programa gravado na edição deste ano para a TV espanhola:

Ode ao Cantareira

Terceira maratona do mês concluída.

O corpo está moído de cansaço acumulado e agradecido pela planilha indicar uma semana de descanso no horizonte. Mas uma coisa é fato: dificilmente eu poderia ter escolhido local melhor para correr do que esse conjunto de Horto com Cantareira.

E mais: no Cantareira, deu ainda para partir do Núcleo Pedra Grande e chegar ao Núcleo Águas Claras aproveitando trilhas daquelas perfeitas se abrindo no caminho!

Há como falar mais? Não sei. Mas há como mostrar:

Sábado na USP

Quem não é de São Paulo provavelmente terá dificuldades em entender o que significa a USP para corredores. 

Sempre fui apaixonado por esta cidade mas, verdade seja dita, encontrar uma natureza pardisíaca para se correr aqui não é tarefa fácil. Sim: há o Pico do Jaraguá e o Cantereira – mas eles são distantes, fora de mão quando se busca um treino mais fácil. 

Há o Ibirapuera, sem dúvidas – mas este acaba sendo cotidiano demais quando se pega o hábito de corrê-lo em 3 dias úteis por semana. Há a cidade em si? Claro: cruzar o centro velho é sempre um prazer para mim – mas às vezes queremos aquele tipo de paz que apenas passos cruzando o verde proporciona. 

É aí que entra a USP. 

Aos sábados, ela costuma ficar tomada de corredores e ciclistas como se fosse uma prova de rua, com todos querendo aproveitar o seu espaço verde, bem cuidado e quase vazio de vida urbana. Seu entorno abre diversos percursos: três grandes e um com uma pequena trilha fechada que nos dá a sensação de ter entrado no meio de uma floresta virgem. 

Em dias chuvosos, então, tudo fica ainda melhor. Além de respirar esporte como em todo sábado, o movimento fica suavemente mais leve e se consegue cruzar seus bosques e ladeiras sentindo na pele a umidade fria da capital paulista, clima responsável, em última instância, para que a cidade tivesse sido fundada aqui. 

Tinha uma maratona para rodar no sábado passado e fui para lá. Além do caminho de e para casa, foram necessárias 3 voltas. Alternei o percurso nelas e, por todo o tempo, corri com o fone desligado apenas escutando a mata. Ali, no meio da cidade, dava para ouvir apenas sons de pássaros, plantas chacoalhando ao vento e eventuais passadas de corredores. 

Dava para sentir o cheiro da umidade, para sentir o clima provocar uma mescla de suor com frio arrepiando os braços.

Dava para estufar o pulmão e deixar nas ruas todo o estresse que cisma em grudar em nossos peitos em tempos difíceis. 

Dava para correr com uma leveza bem próxima à perfeição.

Não vou à USP com tanta frequência assim: na maior parte das vezes acabo cavando percursos inéditos ou cantos mais isolados da cidadade. Tudo depende sempre do estado de espírito no sábado pela manhã. 

É sempre bom, no entanto, saber que ela estará lá, à espera, sempre que precisar. E que imagens como essas abaixo, que instagramei no meio do treino, estarão sempre ao alcance.

 

Cantareira

Fazia tempo – muito tempo – que eu planejava desbravar o Parque da Cantareira. 

Nas duas tentativas anteriores dei de cara com o portão fechado: o parque abre para o público apenas quando as condições meteorológicas indicam possibilidade nula de chuva. E, com isso, a soma da distância da minha casa com o imprevisível do tempo foi deixando o parque lá no fundo da mente, como uma espécie de meta de treino a ser cumprida um dia. 

O dia foi hoje. 

Tinha uma maratona planejada para o treino, o que, por si só, já abria espaço para uma corrida até o final da Zona Norte. Chequei a meteorologia: nada de sol a pino, infelizmente – mas nada de chuva também. 

Segui. Na pior das hipóteses, imaginei, rodaria pelo Horto. 

Não foi necessário: às 8:15, quando cheguei na entrada do Núcleo Pedra Grande, a bilheteria estava aberta e algumas pessoas já perambulavam por lá. 

Entrei. 

Desliguei o podcast. 

Respirei o ar da Cantareira e me concentrei em tudo o que estava ao redor: pássaros, macacos, o cheiro da mata virgem, o ar limpo como São Paulo sonha em ter. 

Tomei o rumo da Pedra Grande. Confesso que não gostei do caminho até lá ser por asfalto, muito embora em (perfeitas) más condições e serpenteando por um caminho que mais parecia ter sido retirado do paraíso. 


Não marquei a quilometragem até lá: estava tão entusiasmado com a beleza do local que esqueci desse detalhe. Detalhe mesmo, reforço: há algumas corridas tão em sintonia com tudo o que existe que qualquer tentativa de marcação ou controle mais parece ingenuidade. 

Sejam lá quantos quilômetros tiverem sido, em algum tempo cheguei a uma clareira. Olhei: era a Pedra Grande. Subi. 

Mal acreditei: em minha frente, um paredão de floresta virgem parecia abraçar a maior metrópole da América do Sul, apequenando-a, emoldurando-a como se fosse apenas um ponto cinza no mar verde. Uma outra perspectiva da cidade se desenhou em minha mente: nada de uma São Paulo disforme, gigante, metendo medo na natureza com seu poderio industrializador: de lá do alto da Cantareira, a cidade parecia tímida, como que encolhida no pouco espaço que a natureza permitiu à civilização. Difícil até de imaginar essas palavras – talvez sejam do tipo que só vendo para crer. 


Passei alguns minutos ali, tentando registrar em fotos aquela beleza poderosa. Falhei. Nem os filtros do Instagram fizeram as imagens chegar aos pés da realidade. 

Segui em frente na corrida, dando a volta na Pedra e voltando. No caminho, entrei pelas trilhas que apareciam: do Bugio, das Figueiras, da Bica. Todas pequenas, de 1 a 1,5km – mas todas permitindo uma incursão mata adentro por single tracks perfeitos. Daria para passar horas ali apenas vendo, ouvindo, sentindo. 


Bebendo das bicas pelo caminho com aquela água clara, gelada, deliciosa. Voando trilhas abaixo, naquele tipo de brincadeira de velocidade que sempre termina com um sorriso involuntário no rosto do corredor. 

Daria para ir e voltar pela estradinha incontáveis vezes. 

Só que era hora de voltar. 

O retorno, aliás, ajudou na perspectiva: me imaginei entrando naquela minúscula cidade que vi de lá da Pedra Grande. 

Minúscula de longe, imensa de dentro: cruzei a Zona Norte, atravessei a Marginal Tietê, voei pela Barra Funda, subi a Pacaembu. Ao meu redor, só gigantezas: as avenidas, os zunidos, os prédios, as casas. 

Em um dado ponto, olhei para trás: dava para ver apenas alguns morros distantes ao fundo – morros que pareciam tímidos de tão pequenos. Nada de paredão verde, de floresta, de mata atlântica: estava no inverso. 

Mas pelo menos já sabia que o que via não era, necessariamente, o retrato da realidade.