A lista de desejos (atualizada em 18/02/2016)

O El Cruce cortou dois itens da minha lista: a própria prova, um sonho antigo, e a realização de uma ultra por etapas. Experiências inesquecíveis – que, como praticamente todas as que cruzei da lista, mudaram toda a minha percepção de vida.

O próprio vídeo que adicionei do Cruce, aliás, foi da edição que participei.

Outra prova entrou aqui: a BR135+, que participei como apoio em janeiro passado. Não sei quando, mas um dia ainda a realizarei. E, por hora, é o momento de achar a próxima meta a ser cumprida.

A lista está assim:

 

  • Fazer a primeira ultra: Two Oceans (56K), na África do Sul (feito em MARÇO de 2013):
  • Correr Comrades (89K), também na Africa do Sul (feito em JUNHO de 2014):
  • Fazer a primeira ultra trail (Douro UltraTrail, de 80K, em Portugal, feito em SETEMBRO de 2014):
    • Organizar minha própria ultra (Ultra Estrada Real, de 88K, feita em ABRIL de 2015)
    • Fazer a Comrades no sentido inverso (up-run), ganhando a medalha back-to-back – www.comrades.com – MAIO de 2015:
    • Fazer uma prova com 100 km (Indomit Costa Esmeralda Ultra Trail, feita em 07/11/2015)

 

  • Qualquer ultra em etapas (El Cruce Columbia, feita entre 12 e 14 de FEVEREIRO de 2016)
  • El Cruce Columbia – http://elcrucecolumbia.com/ (feito entre 12 e 14 de FEVEREIRO de 2016):
  • Qualquer prova do circuito do Ultra Trail de Mont Blanc (UTMB) – www.ultratrailmb.com – AGOSTO:
  • TransArabia (Jordânia) ou TransOmania (Oman) – www.thetransarabia.com – NOVEMBRO ou JANEIRO, respectivamente:
  • Fazer qualquer ultra do circuito de Skyrunning
  • Lavaredo Ultra Trail (Itália) – www.ultratrail.it – JUNHO
  • Correr no Grand Canyon (preferencialmente fazendo o Rim2Rim)
  • Correr no Everest – everesttrailrace.com – NOVEMBRO:
  • Qualquer prova com 100 milhas
  • Qualquer ultra em percurso com neve
  • BR135+ – JANEIRO
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Comparando performances e evolução

Quem acompanha este blog sabe que tenho uma certa tara por números e métricas. Guardo com um zelo ridículo minhas marcas, melhores ou piores, além de cada registro que puder colocar as mãos e que me ajude a entender melhor o corpo e a mente.

Na prática, confesso que a utilidade é pouca: não sou e nunca serei um atleta de elite e, no máximo, gosto de satisfazer a minha própria curiosidade quanto a mim mesmo. Digamos apenas que eu seja uma espécie de acumulador virtual.

Nesse espírito, decidi fazer alguns gráficos para entender a minha performance correndo maratonas e trilhas/ ultras desde a minha primeira linha de largada, em 2013. E cheguei a algumas conclusões interessantes.

Maratonas de Rua

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Fiz, até hoje, um total de 8 maratonas “oficiais” (desconsiderando treinos de 42K, naturalmente). Até a de Chicago, minha meta era uma só: tempo. Nunca havia pisado em uma trilha e o máximo de sonho que eu tinha era correr Nova York, Londres, Berlim etc. E exceto por um pequeno soluço na Maratona do Rio de 2013 – que estava com um calor infernal – vinha conseguindo baixar meus tempos praticamente a cada corrida.

E isso durou até a Comrades de 2014.

Ultras e Trilhas

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Depois da Comrades, minha primeira prova foi uma maratona de trilha – a Indomit – que estava usando como preparo para a Douro Ultra Trail. Novidade pura para mim, incluindo terrenos super técnicos, uma necessidade óbvia de se caminhar de vez em quando e um bônus valiosíssimo: as paisagens.

Foi só fechar a Indomit e a DUT, esta última em setembro do ano passado, que virei um trilheiro convicto. Com o abandono das metas de rua, passei a me dedicar mais a treinos de resistência e a focar provas em montanha, com altimetrias mais severas e uma largura de tempo substancialmente maior.

É difícil comparar uma ultra com a outra: cada uma delas tem terreno e distância diferente, o que as faz únicas. Mas dá para perceber que me mantive com uma resistência semelhante dado que a diferença das minhas duas Comrades ficou em ridículos 23 segundos (mesmo considerando a alternância dos percursos).

Mas a velocidade em maratonas ficou nitidamente comprometida, bastando olhar os dois resultados que tive (ambos em São Paulo) depois de Chicago.

Que grande e disruptiva conclusão se pode tirar disso? Nenhuma, claro. Ficar lento em maratonas depois de ser abduzido para o mundo das ultras de trilhas não é nada além do óbvio.

Mas fiquei curioso quanto à minha capacidade de retomar a performance e, quem sabe, bater um sub 3h30.

Quem sabe um dia? Por enquanto, minha vontade de participar de uma prova de rua realmente é mínima…

A Teoria das Crises e Platôs

Depois de duas meias consecutivas no escaldante sol baiano, hoje foi dia de uma meia horinha regenerativa no Parque do Ibirapuera, já de volta ao ameno clima do fim de tarde paulistano. Resultado: ao invés de lento, cruzei o Parque na casa dos 4’50″/km praticamente sem esforço.

E foi aí que veio uma teoria totalmente empírica, sem nenhum embasamento científico ou estatístico que acabei cunhando na volta para a casa: a de que evoluímos em momentos de crise até alcançarmos novos platôs de performance.

Explico:

Quando terminei a Two Oceans, lá em 2013, fiz a Meia da Corpore ainda com dores nas pernas. Bati meu recorde pessoal para a distância.

Depois da Comrades, consegui subir mais a velocidade média e, quando cheguei na próxima ultra, a DUT, estava tinindo.

A DUT, no entanto, era pura trilha e a velocidade acabou sendo bem menos relevante. Quando a terminei, tinha o corpo praticamente perfeito para resistir por horas e horas – mas a velocidade caiu.

A Maratona de SP, no final de 2014, me colocou sob circunstâncias péssimas, com o calor e o percurso monótono destacando a lentidão que herdara das montanhas. Isso mexeu comigo e me fez ajustar o ritmo – sem perceber. Comecei a performar mais.

Em todos os momentos da minha vida de corredor, passar por provações (ou crises) acabou sendo fundamental para me fazer melhorar instintivamente na área que mais estivesse objetivando, fosse resistência ou velocidade.

Minha última meia em Salvador, ontem, foi dura, terminando quase ao meio dia e em um percurso repleto de ladeiras. Quando saí para correr hoje, estava cansado ao ponto de quase abrir mão da rua.

Não abri.

E bati meu recorde pessoal para o percurso sem, repito, precisar me matar. Foi até fácil, eu acrescentaria.

Conclusão? Sair da zona de conforto por alguns treinos chacoalha o corpo e a mente e os eleva a novos patamares de performance geral. Quer crescer? Primeiro, se estaboque em um treino ou uma prova além do que estiver preparado e deixe o próprio corpo se resolver sozinho depois disso.

Essa, pelo menos, virou a minha teoria.

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As montanhas e os seus perigos

Soube ontem que o João Marinho, organizador da Douro Ultra Trail, está desaparecido desde a terça da semana passada.

Saiu para correr solo pelas montanhas das Astúrias, no norte da Espanha, e, em meio a neve, ventos e neblina, se fundiu com a paisagem.

Até a hora deste post o paradeiro dele ainda é desconhecido. Sabe-se apenas que o resgate espanhol nutre poucas esperanças de encontrá-lo com vida dado o tempo desde o último contato e as condições da montanha.

Conheci o João quando decidi me inscrever na DUT: era ele quem respondia as dúvidas diretamente e que ajudava nos detalhes de planejamento da minha ida daqui do Brasil até a largada, na cidade de Peso da Régua.

Dirigiu uma prova sem paralelos por um dos visuais mais incríveis que meus olhos já testemunharam – e em um nível de organização como poucas vezes minhas pernas já percorreram. Sua atenção aos detalhes foi admirável – incluindo me reconhecer, pelo sotaque brasileiro, no instante que nos cruzamos lá na chegada.

É difícil – e triste – imaginar que um corredor tão experiente tenha se perdido ou se acidentado justamente em seu habitat natural, a montanha. Mas é também um alerta importante para todos nós que fazemos das trilhas e ruas uma espécie de segunda casa.

A natureza, afinal, ama apenas a ela própria e não costuma ter pena ou piedade de ninguém. A nós, cabe apenas degustá-la com uma alta dose de respeito.

Espero que o João retorne vivo para a sua família e que esse seja um daqueles casos milagrosos de sobrevivência. E que essa lição possa ser dada a todos os corredores que o conhecem sem mais crueldades do destino.

Abaixo, a última foto dele mesmo postada em sua página no Facebook antes de partir para a montanha. Espero que mais dessas possam ser tiradas por ele em breve.

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Day off

Hoje o despertador tocou cedo, já apontando para o tênis e as roupas organizadas na noite anterior.

Desliguei.

O começo da manhã trouxe, de surpresa, uma espécie de exaustão acumulada que eu nem sabia que tinha.

Ontem mesmo já fui dormir com fortes dores de cabeça, possivelmente resultado de ter assado sob os 36 graus na Maratona de SP. A cabeça até amanheceu boa – mas o restante do corpo, não.

Entre a Comrades e Indomit Bombinhas, minha primeira prova longa em trilha, foram 2 meses; entre a Indomit e a Douro Ultra Trail, 1 mês; e entre a DUT e a Maratona de SP, outros 30 dias. O cansaço acumulou.

Estou sem dores, sem nada que sequer lembre uma lesão e, a bem da verdade, fisicamente inteiro para qualquer tipo de rodagem.

Mas, ainda assim, apareceu uma espécie de sensação de esmagamento de nervos, de exaustão sólida que me impediu de levantar.

Obedeci o instinto. Sair, hoje, definitivamente não me faria bem.

Quem sabe amanhã?

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Resultados oficiais da Douro Ultra Trail

Resultados já confirmados: de um total de 162 inscritos, 9 foram desqualificados e 64 desistiram, deixando 89 concluintes.

Destes, minha posição foi 76, com um tempo de 16h16’53”. A título de comparação, o primeiro chegou em (absurdas) 9h17’16” e o último, em 17h37’32”.

Mais informações sobre essa prova inesquecível podem ser conseguidas no site, aqui, ou no Facebook, aqui.

Estou já a caminho do aeroporto para o Brasil – e para alguma nova meta a ser definida. Ainda não dá para saber qual, mas dá para ter a certeza de que, treinando, absolutamente tudo é possível!

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Douro Ultra Trail: missão cumprida!

Oficialmente meu tempo ainda não saiu – mas fiz os 80 duríssimos quilômetros em um pouco mais de 16 horas!

Duríssimos – mas de uma beleza inesquecível.

A começar pelo clima de largada de ultra trail, com pouco mais de uma centena de corredores devidamente equipados com mochilas, iluminação noturna, poles e aquele olhar que só quem está prestes a encarar um dia de pura aventura e desafio porta.

Depois, logo que o sol nasceu nas montanhas do Douro, começou o espetáculo. As primeiras descidas e subidas eram dentro de vinhedos – algo mágico justamente nesta época, quando as colheitas começam e há cachos de uva para todos os lados. Alimento perfeito para trilhas, aliás.

Depois vieram paisagens diferentes, como uma ponte feita pelos antigos romanos que era parte do percurso. Foi como correr pela história, gerando picos de endorfina.

Até aí, tudo foi relativamente leve. Mas veio a subida do Marão, maior montanha do percurso com 1.430 metros de subida. Um dos trechos, de um quilômetro, era tão íngreme e sem apoio que alguns corredores pararam para vomitar e dois se lesionaram ao ponto de terem que abandonar a prova.

O topo, no quilômetro 34, viu mais algumas desistências. Natural dada a dificuldade, agravada pelos quase 30 graus e um sol forte brilhando no céu.

Quem continuou, foi até o fim: correndo de posto de controle a posto de controle. No meu caso, fui embalado por Coca-Cola e biscoitos de maizena servidos neles, mais uvas dos vinhedos e água, reabastecendo a mochila em fontes das pequenas aldeias que pontilhavam o percurso.

Dores vieram e foram. A gripe que apareceu na véspera e que, embora leve, persistia ainda na largada, foi deixada ao longo do percurso.

Amigos foram feitos no caminho. Vistas ficaram presas para sempre na retina.

Difícil esquecer a paisagem do Douro, patrimônio da humanidade pela UNESCO, ou as tantas aldeias antigas da região.

Ao chegar próximo ao final, avistar a cidade da Régua toda acesa já por volta das 21:30 foi também inesquecível. Chegaria à meta cerca de 40 minutos e uma descida quase sádica depois.

E cheguei inteiro, inclusive em um estado bem melhor do que em Comrades. Os pés estavam marcados por bolhas e dores, claro – mas as pernas, o resto do corpo e o ânimo, intactos.

Hoje, domingo, depois de uma noite bem dormida, é hora de curtir o efeito prolongado da realização de uma ultra – principalmente desta, meta final de um treino que durou três longos e suados meses.

Sensação de missão cumprida, de auto-realização, de orgulho.

E de ter captado paisagens e sensações que certamente levarei por toda a vida.

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Checkup de véspera: momentaneamente abaixo das expectativas

Quando um escritor pensa em começar um livro, ele sonha com uma folha lisa e branca de papel; quando um corredor está prestes a encarar um novo desafio, ele sonha em chegar na largada em perfeitas condições.

Hoje, véspera da Douro Ultra Trail, não posso dizer que estou assim.

Ao contrário: ganhei alguns quilos na viagem, estou inchado, com dores nas costas de levar 13kg de filha no ombro para cima e para baixo, com um pouco de dor de garganta e aquela sensação tenebrosa de princípio de gripe.

Para piorar, são 6 da manhã aqui e estou acordado por total falta de sono. Na somatória, aliás, dormi por menos de 4 horas esta noite.

Prospecto meio ruim, certo?

Pois é.

Mas se tem uma coisa que aprendi correndo ultras é que o corpo aguenta sempre mais do que a mente imagina – e que tem uma capacidade incrível de recuperação.

Ainda tenho um dia inteiro antes da largada e, por mais que isso inclua um vôo de Barcelona ao Porto e uma rápida viagem de carro até a Régua, dá para tirar algum descanso.

Aliás, é fundamental que tire descanso de cada segundo dessas próximas 24 horas, me refazendo e me “reposturando”, mesmo que por meio de mantras mentais constantes e muita concentração.

De agora até amanhã o princípio de gripe precisa ter passado; a garganta precisa estar perfeita; o inchaço, desaparecido; as costas, nova; e o ânimo, revigorado.

Já está amanhecendo aqui na Espanha: é hora de descansar.

É hora de desamassar o papel e deixá-lo lisinho para esse novo capítulo de amanhã.

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Correndo pela história em Barcelona

Há algo de diferente entre correr em uma cidade como Sampa – por mais que eu a ame – e em um local como este aqui, em Barcelona. 

Aqui, há uma espécie de rio de sangue derramado história afora, desde os tempos em que a cidade era uma aldeia fundada por Hamilcar Barca, pai do lendário general de Cartago Hannibal que, ao perder para os romanos em uma guerra lendária, permitiu que Roma virasse o que virou. 

De Cartago, a cidade passou para os romanos, depois para os visigodos, para os árabes, para Carlos Magnum, para os catalãos, para os espanhóis. Com tantas guerras, as ruas tremem de memória histórica, abrindo caminho para catedrais incríveis, castelos, palacetes e até mesmo as famosas escadarias onde os reis espanhóis receberam Cristóvão Colombo tão logo ele retornou das américas. Isso sem falar, claro, nas maravilhas de Gaudí, cuja alma se espalha por toda a cidade.

Hoje foi o último treino antes da Douro Ultra Trail e fiz algo diferente: contratei um “guia corredor” pelo Running Tours Barcelona – algo que já havia feito no passado em outras cidades e que recomendo fortemente aos que curtirem história.

O conceito é simples: um guia corre junto com você e vai contando sobre a cidade e seus pontos ao longo de uma rota traçada por ele. Simples e fascinante pois, assim, consegue-se ter uma visão mais intensa de um lugar tão diferente quanto este. 

Foram, no total, pouco mais de 12km – e em um ritmo mais forte que eu imaginava uma vez que o guia certamente tinha algum sangue queniano. Mas valeu para soltar as pernas, para forçar o pulmão e para já entrar no ritmo. 

Valeu pela inspiração e pelo treino mental, ingredientes essenciais nessa fase de polimento catalão que acabei fazendo. 

Agora é curtir o restinho de Barcelona, equilibrar turismo com o trabalho que chama daí do Brasil e, amanhã, voltar para Portugal e me preparar. 

Sábado é o dia.

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