Quando um escritor pensa em começar um livro, ele sonha com uma folha lisa e branca de papel; quando um corredor está prestes a encarar um novo desafio, ele sonha em chegar na largada em perfeitas condições.
Hoje, véspera da Douro Ultra Trail, não posso dizer que estou assim.
Ao contrário: ganhei alguns quilos na viagem, estou inchado, com dores nas costas de levar 13kg de filha no ombro para cima e para baixo, com um pouco de dor de garganta e aquela sensação tenebrosa de princípio de gripe.
Para piorar, são 6 da manhã aqui e estou acordado por total falta de sono. Na somatória, aliás, dormi por menos de 4 horas esta noite.
Prospecto meio ruim, certo?
Pois é.
Mas se tem uma coisa que aprendi correndo ultras é que o corpo aguenta sempre mais do que a mente imagina – e que tem uma capacidade incrível de recuperação.
Ainda tenho um dia inteiro antes da largada e, por mais que isso inclua um vôo de Barcelona ao Porto e uma rápida viagem de carro até a Régua, dá para tirar algum descanso.
Aliás, é fundamental que tire descanso de cada segundo dessas próximas 24 horas, me refazendo e me “reposturando”, mesmo que por meio de mantras mentais constantes e muita concentração.
De agora até amanhã o princípio de gripe precisa ter passado; a garganta precisa estar perfeita; o inchaço, desaparecido; as costas, nova; e o ânimo, revigorado.
Já está amanhecendo aqui na Espanha: é hora de descansar.
É hora de desamassar o papel e deixá-lo lisinho para esse novo capítulo de amanhã.