Checkpoint: No ponto

Último checkpoint antes da largada, que ocorrerá nesta sexta.

Diferentemente das últimas provas, essa fase de tapering (ou polimento) foi suave – muito suave. O que fiz? Deixei a ansiedade de lado, quase ignorei a planilha e fiz minhas últimas dias semanas focando um descanso cauteloso.

Não fiz os 60 previsto na semana retrasad0 – fiz 43; e, nessa última, acabei cumprindo naturalmente os 35, com os últimos 16K percorridos no mais puro e endorfinado êxtase em torno da Lagoa e do trecho entre Leblon e Arpoador, no Rio.

Terminar o preparo para uma prova imerso no clima de Olimpíadas é, sem dúvidas, algo único.

Bom… agora é administrar esses últimos dias. O corpo está perfeito, a gripe já se foi, a ansiedade está bem controlada e mesmo as dores fantasma, que costumam aparecer nesses períodos, sequer deram sinal.

Perfeito.

No ponto.

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Checkpoint: Acostumado

Com 113km rodados, essa foi uma das semanas mais pesadas que já tive em treinos. A essa altura, no entanto, o preparo construído ao longo dos últimos meses já amorteceu o corpo para a quantidade de horas nas ruas como rotina. 

Não que tudo esteja leve, claro. Mas confesso que, embora cansado, senti muito menos dores rastejando pelo corpo nesta última semana do que na anterior, quando diminuí o volume para quase metade com o objetivo de descansar. 

Acho que chega um determinado ponto em que o volume acaba sendo tanto que o corpo estranha mesmo é a folga que acaba recebendo de surpresa. Acho que, no final das contas, tudo é acostumável, como poderia ter dito Guimarães Rosa. 

A semana que começa hoje tem um bônus: a São Paulo City Marathon, no domingo. O plano será óbvio: ir correndo até a largada, rodar os 42K e voltar correndo para casa. Não sei ainda sequer onde é largada – mas certamente isso deve totalizar algo próximo aos 50K previstos para o longão do final de semana. 

A partir daí é tudo ajuste fino e preparo mental. 

Os Caminhos de Rosa estão chegando. 

Como anda o preparo mental?

Para esta prova em especial, o Caminhos de Rosa, o preparo mental vai muito além do que se costuma imaginar em uma ultra. Nada de forçar treinos tediosos simulando horas e mais horas de nadismos pelo percurso: tudo isso é secundário. 

Há que se lembrar do motivo de ser do percurso: uma espécie de ode à inspiração que elevou um sertanejo perdido pelos ermos dos gerais a se tornar um dos – senão “o” – mais genial dos nossos escritores, Guimarães Rosa. 

Sorte dos corredores ter um preparador como estes tão ao alcance. 

Nesses últimos dois meses devorei quase mil páginas do mestre, incluindo toda a saga de Riobaldo em Grande Sertão: Veredas e os primeiros dois volumes de Corpo de Baile com as histórias de Miguilim, Manuelzão, Pedro Orósio, Cara-de-Bronze e Lélio e Lina. Nesses dois últimos meses me tornei íntimo dos sertões que cruzarei em agosto com a ajuda espiritual de todos esses tantos personagens que desafiaram o caos para contornarem aquele estado de ser que nenhum de nós consegue fugir. 

Falta um mês para o Caminhos de Rosa, mais ou menos.

Falta também o terceiro e último volume de Corpo de Baile, Noites do Sertão. 

A largada para esta última etapa do treino começa hoje.

 

 

Checkpoint: Semana de mudança

Literalmente, aliás. Seguir uma planilha em uma semana que inclui mudança de carro e viagem a trabalho não é exatamente uma tarefa fácil. Quando se tem uma gripe repentina para apimentar ainda mais as dificuldades, aí sim a coisa fica tensa. 

Bom… Fiz o possível. Rodei uma maratona na segunda à noite e espalhei o resto da planilha onde deu. Mas perdi uma meia. 

Contrapartida: meu pace foi muito, mas muito melhor, ficando na média abaixo dos 6/km mesmo considerando os 91K rodados com tantos semáforos e cruzamentos nos caminhos. São os pros de se mudar a rotina algumas vezes: independentemente da manutenção ou não do volume, o corpo acaba se desencaixando de seus próprios hábitos e nos entregando surpresas. 

É um pouco do que acontece em provas também – e essa semana serviu para me relembrar disso. Alguém treina o mesmo volume que pretende correr? Em ultras, pelo menos, dificilmente. Treinar, afinal, é treinar: é preparar o corpo para ter resistência e flexibilidade o suficiente para que saiamos da linha de largada e cruzemos bem a de chegada. E estar preparado não é a mesma coisa que estar “comprovado”.

Não minto que esteja um pouco preocupado com o treinamento com um todo. Sim, estou seguindo quase tudo à risca – mas, até agora, meu maior longão foi uma maratona (ainda que feita por semanas consecutivas e ainda que tenha algumas sessões de 50K pela frente). Mas tudo a seu tempo: é inegável que minha resistência tem aumentado significativamente e, às vezes, precisamos dar um jeito de largar a preocupação de lado e apenas confiar. 

Tapering? Testemos uma prova sem isso

Quem acompanha o blog sabe que nunca me dei muito bem com o tapering – aquela fase final de preparo para uma prova em que se diminui drasticamente o volume de treino para recuperar a musculatura. 

Em todas as vezes que tentei seguir o “livro de receitas” o resultado foi o mesmo: dores fantasma começaram a brotar pelo corpo com uma intensidade insana, atrapalhando as largadas mais do que qualquer cansaço. Isso sem contar com gripes, ansiedade e tudo mais. Histeria pura? Pode ser – mas que diferença faz ter um diagnóstico se o resultado não mudará? 

Em todos esses ajustes finais, o melhor modelo para mim foi fazer o inverso do que costuma ser pregado: diminuir o volume cerca de um mês antes e depois voltar a subir gradativamente, como se a prova fosse o pico do treino. 

Bom… Para a Indomit, talvez por não ser a prova alfa do meu calendário, o modelo será diferente. Na semana passada cheguei num pico de 81K, o máximo desde que voltei do Cruce, e nessa semana estou mantendo um ritmo fixo, firme, para não dar sinais ao corpo de qualquer tipo de diminuição. 

A ideia é largar nos 50K como se fosse um sábado qualquer – incluindo alguma fadiga muscular que espero que passe nos próximos dias com uma diminuição leve na carga e uma folguinha quase imperceptível estrategicamente inserida na planilha. 

Vamos ver que resultado isso trará. 

   

A retirada do kit: organização que impressiona

Confesso que a fila que dava a volta ao quarteirão não me animou muito – mas há coisas que nenhuma organização consegue impedir.

Fora isso, fiquei embasbacado com o nível da organização.

E não só pelo uso de email e Facebook como ferramentas organizacionais, a exemplo do cronograma com as etapas abaixo – mas pelo desenrolar absolutamente tranquilo de cada uma das três etapas:

  
1) Acreditação

No espaço de convenções de um hotel, retira-se uma senha de acordo com o “status” (argentino, estranheiro, estrangeiro com saldo a pagar etc.). Feito isso, deve-se aguardar por poucos minutos até que a senha apareça em um painel. Na dúvida, uma atendente com microfone também reforça os números da hora.

Chamado, recebe-se um crachá que deve ser utilizado nas demais etapas, o número da barraca (no meu caso, ficarei na 131), paga-se o montante devido e se retira o formulário da imigração chilena, que precisará ser apresentado assim que se cruzar a fronteira no primeiro dia. 

Feito isso, que não dura mais que poucos minutos, deve-se ir a um endereço vizinho para pegar o chip.

  

2) O chip e o kit

A primeiro coisa que se pede na “segunda fase” é o preenchimento do formulário de imigração chilena. E tudo é facilitado: eles tem caneta – algo raro em situações assim – e gente que sabe responder a perguntas relacionadas às burocracias alfandegárias.

O formulário fica com a organização na entrega do chip – e o crachá de controle é perfurado em um local pra dizer que a etapa está “cumprida”.

  
  

Atravessando o ginásio, retira-se a sacola – fantástica, diga-se de passagem.
Junto com ela, meias, kits de comidas, casaco polar e camiseta. Nunca recebi tanta coisa, com tanta qualidade, em uma corrida!

Material retirado, se vai a outro canto do ginásio para tirar uma foto. Essa é importante: vincula o número de peito ao Facebook, permitindo que quem quiser acompanhe o progresso durante a prova.

Pronto. Depois disso, pode-se passar a qualquer hora no ginásio para retirar um retrato.

  

3) Entrega da bolsa montada

É a última e mais óbvia parte – mas a que requer mais atenção. A bolsa deve receber todo o equipamento e roupas para os campings e ser deixada em um terceiro endereço, também perto dos outros.
Agora, portanto, é hora de fazer as malas – ainda que com bastante antecedência.

  

El Cruce: checklist de equipamentos

Com o Cruce chegando perto, já era hora de resolver a questão dos equipamentos. Pois bem: munido nas informações (meio confusas) do site e de dicas de alguns amigos, saí às compras ontem e está tudo quaaaaaase pronto. 

Além da mochila de hidratação (a mesma Quechua RaidTrail 10L de sempre), os seguintes itens estão devidamente preparados: 

  

Itens fornecidos pela organização:

  • Camiseta de prova
  • Número de competidor e chip
  • Camiseta manga longa (ou remera)
  • Polar (jaqueta)
  • Mochila resistente à água para os acampamentos

Itens obrigatórios:

  • Mochila de hidratação (não está na foto, mas está conferida)
  • Manta térmica (na foto, número 5)
  • Casaco impermeável (4)
  • Gorro (7)
  • Bivac ou vivisac (3)

Itens recomendados:

  • Isolante térmico (1)
  • Saco de dormir (alugarei junto à organização)
  • Poles (2)
  • Headlamps (6)
  • Luvas para trilhas (8)
  • Toalha
  • Kit com talheres
  • Kit para bolhas (também não está na foto, mas está já preparado)

O que falta, então? Apenas 3 itens: 

  1. kit com talheres
  2. Pilhas AAA para a headlamp

Resolvo ainda esta semana. 

(A propósito, participar dessa prova dá muito mais trabalho do que de qualquer outra que já fiz antes!!!)

Motivação excessiva versus autocontrole pre-prova

Um dos momentos mais curiosos depois de alguma prova grande é a distância colossal que se interpõe entre a motivação e o corpo. 

Voltei da BR com sede de ruas, trilhas e provas. Já no dia seguinte mandei email ao organizador perguntando sobre a inscrição do próximo ano; na sequência, passei mais de uma hora vasculhando a Web em busca de provas de 100K a 100 milhas; e, na segunda, saí para rodar (exagerados) 16K no centro de São Paulo. 

Por outro lado, embora eu realmente não esteja nem de longe tão cansado quanto imaginaria depois de ter rodado 84K, não dá para negar uma certa fadiga nas pernas. Ponto de atenção: dado que o Cruce é em menos de 3 semanas, é ele que deve entrar em foco. 

Pois bem: a planilha, ao menos no restante desta semana, foi parar no lixo. Estou me coordenando pelo puro “feeling”: se acordo dolorido um dia, cancelo a saída; se a dor esmaece no outro, mas o sono é intenso demais pela manhã – outro sinal de cansaço – tento me programar para uma corrida noturna; e assim por diante. 

Até agora, por exemplo, o único treino que fiz foi na própria segunda, feriado em São Paulo. Claro: ainda há o final de semana onde, somando sábado e domingo, devo rodar algo como 45K. Mas, em linhas gerais, o plano é manter a semana ativa e não exagerada, cair o volume na semana que vem (mas aumentando a intensidade) e, na próxima, voltar a subir de leve como se fosse um “esquenta” para o Cruce. 

Domingo será o dia de fazer um “assessment”, de rodar uma espécie de check-up mental. A meta: estar fisicamente preparado, com fadiga apenas marginal e sem nenhuma daquelas dores-fantasma que costumam aparecer em fases de tapering, motivo pelo qual evito, a todo custo, cair de maneira intensa demais o volume. 
De qualquer forma, o nome do treino agora definitivamente mudou. Agora, ele se chama “autocontrole”.
 

Checkpoint: Agora é esperar mais alguns dias e largar!

Última semana finalizada.

Não vou dizer que estou recuperado da Bertioga-Maresias – pelo menos não ao ponto de enfrentar 100K daqui a alguns dias. Mas estou quase.

Na semana passada fiz quase nada: 30km apenas para evitar que o corpo perdesse o mo-jo. Nessa semana, o plano era chegar a perto de 70, mas fechei em 56. Cortei um dia na rua e, hoje, ao invés de 1h30, fiz 30 minutos depois de sentir a musculatura dolorida. Para a tarde, massagem e um Flanax para diminuir a inflamação.

Ainda tenho uma semana e, com um pouco mais de descanso, tenho certeza que tudo ficará bem. Mas o lado realmente instigante da semana foi sair para correr nas trilhas do Ibiraquera com tudo escuro e sob toró!

Curti tanto que, no longo que fiz na sexta à noite, de 2h30, nem vi o tempo passar enquanto dava as 3 voltas. Para quem costuma se entediar facilmente com voltas repetidas isso realmente faz a diferença.

E o mais importante: ter me divertido rodando à noite, com chuva, de headlamp acesa e sentindo os cheiros e sons que costumam dar as caras quando o sol desaparece, foi um boost sem precedentes na motivação.

Agora é seguir o resto do plano e confiar no que foi feito!

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Checkpoint: Semana de recuperação

Às vezes o sentimento de sensatez parece dominar o impulso de simplesmente sair e correr. Pode não parecer, mas quem curte um esporte onde se passa, por vezes, um dia inteiro deslizando pelas trilhas, tem um óbvio problema de obsessão. Não disfarço isso nem um pouco – aliás, me dou impressionantemente bem com essa característica que transcende a vida atlética e domina praticamente todos os aspectos do meu dia-a-dia e dos meus planos futuros. Em tese, hoje eu deveria completar 1h de treino para fechar a semana com 40km. 

Não deu. 

Acordei com dores musculares que deveriam ter aparecido há dias, com sono e com uma vontade de dormir maior do que a de conferir as trilhas do Ibirapuera ou a Avenida Paulista exoticamente fechada para carros. 

Enquanto ainda estava na cama, rolando de um lado para outro, fiquei ricocheteando os pensamentos até tomar uma decisão. Tomei: continuei dormindo. 

Em tese, afinal, o objetivo desta semana seria a pura recuperação da Bertioga-Maresias. Ora… dores tardias, sono esquisito… de que outra forma o corpo poderia falar mais alto?

No total, portanto, esta foi a semana com menos volume de muito, muito tempo: 30km. 

Tenho mais duas semanas de treino – ou quase isso, dado que a segunda já terminará nas areias de Porto Belo. Bom… parece que a única coisa a fazer é me entregar ao que o próprio corpo mandar fazer e aproveitar cada dia ao máximo.