Quando se faz qualquer tipo de transição, costuma-se levar em conta apenas as variáveis já conhecidas. No meu caso, a mudança do asfalto para a trilha incluiu treinos e análises sobre os dois principais parâmetros que considerava em provas: distância e altimetria.
Assim, todo percurso de prova era encarado de maneira bidimensional: contavam quanto eu correria e quanto subiria. Só.
Mesmo quando ouvia que percursos eram excessivamente técnicos o que considerava apenas eram graus mais severos de inclinação – como se isso bastasse.
Aí veio a Indomit Bombinhas e uma lição que todo corredor em transição deve ter.
A altimetria da prova não é tão severa: cerca de 1.200 metros ao longo de 42K – menos do que faço em um longão cotidiano de sábado. As subidas e descidas, em circunstâncias normais, não seriam tão tensas e até permitiriam uma visão que tendesse a esse bidimensionalismo do asfalto.
Mas, em trilhas, há sempre o elemento inesperado. No caso de Bombinhas, a chuva.
Com chuva, a terra vira lama, as descidas viram escorregadores, as subidas viram um desafio mais mental do que físico.
Com chuva, os olhos se focam no chão (e não na paisagem), fazendo o tempo se esticar para além do marcado no relógio.
Com chuva, outros corredores diminuem o pace em trilhas de uma via só, forçando uma queda talvez mais desestimulante do que o efetivamente necessário.
Com chuva, tudo muda.
E aí veio a lição, mesmo que com alguns dias de atraso: o tipo de terreno (aliado, às vezes, a imprevistos meteorológicos) é uma variável tão importante quanto distância e altimetria. A chuva é apenas um exemplo: neve, areia de praia, dunas, trechos que incluam pequenos riachos, enfim: sempre há algo que deva ser levado em consideração.
As quase 6 horas e meia que passei no Indomit – que, diga-se de passagem, foi uma prova sensacional – me deram essa dura (e muito bem vinda) lição.
Agora é digeri-la e usá-la mentalmente em outras provas.
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