Vai ser bem difícil conciliar essa prova no calendário do ano que vem. Verdade seja dita, o fato dela acontecer na Venezuela, por si só, coloca em dúvida a própria existência da prova.
Ainda assim, um vídeo como esse abaixo empolga bastante!
Vai ser bem difícil conciliar essa prova no calendário do ano que vem. Verdade seja dita, o fato dela acontecer na Venezuela, por si só, coloca em dúvida a própria existência da prova.
Ainda assim, um vídeo como esse abaixo empolga bastante!
Taí o vídeo de uma das corrida mais duras e belas que já fiz. Se alguém estiver pensando em um desafio sensacional pela inigualável Serra da Mantiqueira, recomendo fortemente.
Até porque, provavelmente, esse é um que eu repetirei em 2017!
Eis uma lição que aprendi na Indomit São Bento do Sapucaí: menosprezar provas faz mal.
Quando me inscrevi, a ideia era apenas ter uma espécie de treino de luxo, uma etapa relativamente simples no caminho até os 140km dos sertões mineiros em agosto.
A semana que me levou até os 50K não teve nenhum milímetro de diminuição de ritmo ou volume – foi uma semana normal, por assim dizer.
Ignorei a altimetria acumulada de 3,450m: o máximo de subida que treinei ficou no Cruce, lá no distante mês de fevereiro.
Quando cheguei em São Bento não sabia direito sequer o horário da largada de tão despreparado que estava. O resultado foi óbvio: penei muito mais do que deveria ter penado.
Cheguei até o final, é verdade: mas certamente poderia ter feito o mesmo em um estado menos cadavérico.
Prova é prova – mesmo que seja parte de um treinamento. E uma prova da Indomit carrega no sobrenome a certeza de desafios que estão longe de serem meras brincadeiras.
O que dizer agora? Lição aprendida!
Gráficos, às vezes, são a melhor maneira de se entender os motivos por trás das dificuldades que sentimos em alguns momentos. Esses abaixo, por exemplo: o ganho altimétrico nos 50K da Indomit foram quase iguais aos 100 do Cruce – sendo que estes foram distribuídos em três dias.
Sim: a Serra da Mantiqueira não é a Cordilheira dos Andes. Mas a quantidade de montanhas esverdeadas pelo seu caminho, quando se somam, chegam a um desafio como poucos.
Ainda estou me recuperando, com dores musculares que já já devem deixar as pernas. Mas a grande vantagem de provas belas é que, enquanto mastigam o corpo, deixam o coração impregnado com as cenas de indescritível beleza coletadas pelo caminho. Esse residual é, talvez, a melhor coisa de se correr em montanhas.
Tenho para mim que poucos lugares no Brasil são tão maravilhosos quanto a Serra da Mantiqueira. Seu verde clorofilático, suas montanhas, a majestosa Pedra do Baú e as pequenas cidades que polvilham a paisagem, encrustrando-se entre os vales, se somam em um cenário ímpar, inesquecível.
Foi por isso que me inscrevi na Indomit São Paulo. Por isso, claro, e pelos 3 pontos que cruzar a linha de chegada me daria para a UTMB.
Cruzei a largada já encantado com a paisagem de São Bento do Sapucaí – principalmente quando começamos s subir e deixamos a névoa que encobria a manhã para baixo.
Tudo era tão bonito que difícil foi não parar para tirar fotos e simplesmente respirar a Mantiqueira.
Pelo menos até determinado ponto.
Em algum momento lá pelo km 15, comecei a ouvir muitas preocupações quanto ao tempo de corte no km40 ena prova em si. Olhei pra o relógio e para cima.
Nas outras Indomit que participei, o terreno encharcado transformou as tantas trilhas técnicas em um pesadelo. Nessa, praticamente não havia trilhas técnicas e tudo estava relativamente seco – mas as dificuldades foram outras.
O calor, por exemplo, batia facilmente os 35, 37 graus. E isso não era nada perto da altimetria insana: os 3.500 metros de subida em 50K eram crueis. Árduos, áridos, gerando cenas com direito a corredores encostados em algum paredão vomitando seus estômagos para tentar manter guardadas as almas.
Em um determinado ponto, o coração disparava incerto, remexendo as entranhas inteiras. Onde achava sombra, parava para respirar e descansar uns minutos. Mas não muito: pela primeira vez na vida me senti pressionado por um cut-off e sabia que fotos e descansos deveriam ficar para uma outra prova.
Nesses momentos de cansaço extremo uma outra dificuldade se abateu: a falta de água. A temperatura engolia as mochilas de hidratação com uma sede insana, quebrando sem dó o planejamento da organização. Pelo menos 3 ou 4 dos 10 postos estavam secos quando eu passei, forçando os corredores a seguirem em frente bebendo apenas a força de vontade. Um deles foi especialmente marcante: o do corte no km40, depois de uma interminável subida. Passando por ele, um grupo de 5 ou 6 corredores estavam sentados no meio do estradão perguntando a quem passava se eles tinham água para compartilhar.
Eu ainda tinha alguns goles e, assim, fomos dividindo a sede por uns 3 ou 4km (de mais subida sob o sol, claro).
Os meros 15 minutos de folga com que eu tinha passado no corte do km40 foram evaporados pela força do sol e da altimetria. Àquela altura, muitos corredores haviam ficado no corte ou desistido e eu já duvidava se conseguiria chegar antes das 10h de prova – principalmente depois que me deparei com um trilha estilo vala, onde correr era impossível. Fui lento, tentando recuperar um pouco o organismo remexido e aproveitando cada milímetro de sombra e descida.
Funcionou: depois de uns 3km, estava inteiro. O tempo, no entanto, já era inimigo.
Corri o quanto pude, usei os poles para forçar velocidade nas subidas, parei o mínimo possível.
Quando cruzei a linha de chegada já havia estourado o tempo: 10h11m31s.
Ainda assim, alguma compaixão deve ter acometido os organizadores que me deixaram cruzar, penduraram a medalha no meu peito e me entregaram a camiseta de Finisher. Se esses 11 minutos me tirarão os 3 pontos para Mont Blanc ainda não sei – mas espero que não.
Descobrirei no futuro próximo.
O balanço da prova? Linda como poucas, dura como menos ainda, com algumas falhas da organização mas, ainda assim, altamente recomendável. Altamente.
Com ou sem pontos, mesmo com o cansaço e os miseráveis 11 minutos e 31 segundos, testemunhar esse percurso foi, por si só, algo inesquecível.
Tão inesquecível que, embora ainda com as dores do dia seguinte, já ouso dizer que são grandes as possibilidades de eu voltar no ano que vem.
(Só espero que eles aumentem esse tempo de corte para que pelo menos possamos parar em alguns pontos para aproveitar a paisagem, esse sim o ponto mais alto da prova!)
Ansiedade, expectativa, preparação.
Quando uma prova se aproxima, qualquer que seja ela, é difícil não ter essas três palavras como parte do cotidiano dos dias que antecedem a trilha. E são palavras desejadas, aguardadas com aquele tipo de vontade que só se entende quando a linha de largada está próxima.
Basta olhar o calendário e enxergar uma viagem e pronto: o corpo já fica ouriçado. Problemas cotidianos? Todos parecem sumir como que a passe de mágica, encobertos pela espessa neblina da expectativa. Sim: ainda há alguns dias a serem vencidos até que pegue o carro e dirija até São Bento do Sapucaí; ainda há projetos, planos, apresentações e toda aquela gama de afazeres típicos da vida na selva profissional paulistana.
Mas… quem se importa? O que são essas pequenas tarefas quando se tem 50km pela Serra da Mantiqueira logo ali?
Eu deveria programar mais provas no meu calendário: o efeito que elas tem nos níveis de empolgação são simplesmente únicos.
Essas últimas duas semanas deveriam ser as mais secas e quentes do sudeste ao menos no último ano. Eu nem pediria tanto: ficaria feliz apenas com a falta de chuva.
Mas não: os Deuses, aparentemente, curtem sincronizar as suas águas com o calendário da Indomit. Comigo, pelo menos, foi assim nos 42K de Bombinhas e nos 100K da Costa Esmeralda.
A Indomit São Bento do Sapucaí, ao que tudo indica, será tanto corrida quanto nadada.
Cheguei até a questionar a ida – a perspectiva de escorregar e de tentar me equilibrar em rios de lama me dá uma preguiça digna de Macunaíma.
Mas aí tem os pontos. Os tais 3 pontos que essa prova me garantirá para a OCC, em Mont Blanc, no ano que vem…
Haverá outras oportunidades para somá-los? Certamente. Provavelmente.
Mas, em um ano complicado em que o calendário de viagens para corridas ficou invariavelmente mais escasso, melhor garantir do que esperançar.
Águas, nos veremos no sábado.
Afinal, já que ainda há algum tempo, já que é aqui pertinho e já que vale os pontos que preciso para tentar novamente o sorteio da OCC… Por que não?
Indomit São Bento do Sapucaí, lá vamos nós!
Vídeo Oficial 2ª Edição INDOMIT SÃO PAULO 2015 from BOMBINHAS ADVENTURE RUNNERS on Vimeo.
Voltei da Argentina na terça passada.
No mesmo dia, acordei para um último trote em San Martin de Los Andes, rodando 10km pela inacreditavelmente linda estrada que margeia o Lago Lácar, deixando por lá meus agradecimentos pelos chãos e montanhas que, mais uma vez, mudaram minha forma de ver o mundo.
Apesar de ter chegado do Cruce apenas no domingo à tarde, corri relativamente solto, leve, sem dores ou nenhum tipo de cansaço muscular. Aliás, estava tão leve que nem parecia que estava terminando um ciclo que começou em novembro, com os 100K da Indomit, chegou a janeiro com 85Ks rodados na BR135 e se fechou com esses outros 100K nas 3 etapas andinas.
A vida, no entanto, tem essa mania de nos puxar para a realidade sem dó: já na própria terça, varei o dia e a viagem inteira trabalhando, alternando ligações no celular, trocas de email e construções de projetos até as 2 da manhã da quarta, já em solo brasileiro. De lá para cá foram apresentações, reuniões nas primeiras horas do dia e todo um leque de tempestades cotidianas feitas para me relembrar que vivo em São Paulo, não em uma pequena cidade encrustrada nas montanhas. Não estou reclamando: essa dualidade, essa existência quase esquizofrênica tanto nas trilhas quanto nas artérias e arranha-céus paulistanos, é uma das coisas que mais amo da minha vida.
Mas houve um preço.
Com o resto da semana insanamente focada no trabalho, realmente não consegui sair para correr. Nem tentei: estava claro para mim que, depois dessas três provas, precisava de pelo menos alguns dias de folga.
O que não podia imaginar é que o corpo desenvolveria uma vontade própria de descanso. Sem uma prova marcada para o futuro próximo, sem uma planilha montada e uma disciplina a ser seguida, ele simplesmente desabou-se em si mesmo.
Saí para correr hoje em um despretencioso percurso de 10K pelo Ibira: quase não consegui. Dores musculares, articulações excessivamente rijas, calor e indisposição fizeram esses 10K parecerem 100. Voltei quase me arrastando para casa e sem ter aproveitado nenhum único minuto do parque.
Conclusão: talvez eu realmente precise dar um pouco mais de tempo ao corpo, recomeçando mais levemente. Talvez ele precise mesmo de umas férias merecidas (embora curtas).
O corpo, afinal, sente. E sente mais o acúmulo, o alto volume de treinos e provas do passado recente, as sucessivas metas batidas emendadas umas nas outras. Não tenho do que reclamar: ele respondeu perfeitamente a tudo o que a mente demandou. Nada mais justo que dar a ele uma pequena folga. Nada mais justo do que obedecer as suas demandas.
E, enquanto isso, que essas sejam as imagens guardadas na cabeça até a volta de vez aos treinos: as da minha última corrida em San Martin, também uma espécie de celebração pessoal dessas 3 grandes metas batidas em apenas 3 meses.