Voltei da Argentina na terça passada.
No mesmo dia, acordei para um último trote em San Martin de Los Andes, rodando 10km pela inacreditavelmente linda estrada que margeia o Lago Lácar, deixando por lá meus agradecimentos pelos chãos e montanhas que, mais uma vez, mudaram minha forma de ver o mundo.
Apesar de ter chegado do Cruce apenas no domingo à tarde, corri relativamente solto, leve, sem dores ou nenhum tipo de cansaço muscular. Aliás, estava tão leve que nem parecia que estava terminando um ciclo que começou em novembro, com os 100K da Indomit, chegou a janeiro com 85Ks rodados na BR135 e se fechou com esses outros 100K nas 3 etapas andinas.
A vida, no entanto, tem essa mania de nos puxar para a realidade sem dó: já na própria terça, varei o dia e a viagem inteira trabalhando, alternando ligações no celular, trocas de email e construções de projetos até as 2 da manhã da quarta, já em solo brasileiro. De lá para cá foram apresentações, reuniões nas primeiras horas do dia e todo um leque de tempestades cotidianas feitas para me relembrar que vivo em São Paulo, não em uma pequena cidade encrustrada nas montanhas. Não estou reclamando: essa dualidade, essa existência quase esquizofrênica tanto nas trilhas quanto nas artérias e arranha-céus paulistanos, é uma das coisas que mais amo da minha vida.
Mas houve um preço.
Com o resto da semana insanamente focada no trabalho, realmente não consegui sair para correr. Nem tentei: estava claro para mim que, depois dessas três provas, precisava de pelo menos alguns dias de folga.
O que não podia imaginar é que o corpo desenvolveria uma vontade própria de descanso. Sem uma prova marcada para o futuro próximo, sem uma planilha montada e uma disciplina a ser seguida, ele simplesmente desabou-se em si mesmo.
Saí para correr hoje em um despretencioso percurso de 10K pelo Ibira: quase não consegui. Dores musculares, articulações excessivamente rijas, calor e indisposição fizeram esses 10K parecerem 100. Voltei quase me arrastando para casa e sem ter aproveitado nenhum único minuto do parque.
Conclusão: talvez eu realmente precise dar um pouco mais de tempo ao corpo, recomeçando mais levemente. Talvez ele precise mesmo de umas férias merecidas (embora curtas).
O corpo, afinal, sente. E sente mais o acúmulo, o alto volume de treinos e provas do passado recente, as sucessivas metas batidas emendadas umas nas outras. Não tenho do que reclamar: ele respondeu perfeitamente a tudo o que a mente demandou. Nada mais justo que dar a ele uma pequena folga. Nada mais justo do que obedecer as suas demandas.
E, enquanto isso, que essas sejam as imagens guardadas na cabeça até a volta de vez aos treinos: as da minha última corrida em San Martin, também uma espécie de celebração pessoal dessas 3 grandes metas batidas em apenas 3 meses.