Karl Meltzer, um dos mais reconhecidos ultramaratonistas americanos, costuma dizer que 100 milhas não é uma distância tão longa assim.
Não sei se concordo e duvido que um dia queira percorrer tanto terreno – mas tenho uma certa inveja de quem consegue passar mais de 24 horas mergulhado em si mesmo e sendo levado pelo movimento das pernas. A força zen de quem completa 100 milhas – 160km – é certamente algo digno de um guru indiano.
Mas, independentemente da minha intenção em correr 100 milhas, sempre tive curiosidade em relação ao processo de treinamento. Afinal, como alguém se prepara para algo tão longo assim?
Decidi buscar informações na Web e cheguei a três pontos no mínimo interessantes:
1) Fazer uma ultra de 100 milhas inclui ficar mais de 24 horas de pé. E, para isso, é necessário se habituar ao combate do sono, como correr no meio da madrugada ou em momentos em que exaustão (por qualquer que seja o motivo) estiver dominando a mente. Não parece algo muito agradável – mas é quase uma unanimidade entre os ultra-ultracorredores.
2) 100 milhas é um esporte totalmente diferente. É como passar de uma meia para a maratona ou da maratona para as 50 milhas ou 100km. Os músculos parecem mudar, a mente passa a ser mais importante e a tolerância ao cansaço se torna a principal arma. Só que passar de 50 milhas para 100 é, de acordo com muitos, algo bem mais difícil do que passar de uma maratona para os 100km. Isso também significa que é altamente recomendável que se faça ao menos algumas provas “menores” (50 milhas ou 100km) antes de se aventurar por algo tão grande.
3) Ao contrário do que se imagina, no entanto, as planilhas de treino não são tão diferentes do que as utilizadas para provas “menores”. Veja o exemplo de uma abaixo (retirado desse post aqui): a semana mais intensa (fora a da prova) tem 75 milhas – 120km. A média em si é menor, em torno das 60 milhas (ou 95km, algo muito próximo do que eu fiz por semanas durante o treinamento para os 90km de Comrades).
Esses três pontos indicam uma coisa bem clara: 100 milhas são mais possíveis do que muitos acreditam. Mas, embora o corpo precise de um treinamento físico compatível com o tamanho do desafio, é a cabeça que precisa de preparo de verdade. A minha ainda não está pronta (e não sei se um dia ficará). Mas, até lá, imagino que permanecerei sendo assombrado por essa “instigante curiosidade”.
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