Correr sob o sol é perfeito. Nesse momento, enquanto treino para 140km em pleno sertão do Rosa, mais ainda: fora o gosto que já tenho por homenagear esse Deus amarelo, possivelmente incutido no meu DNA baiano, a experiência certamente é bem vinda.
A cidade já amanheceu um forno. Às 8, quando saí, São Paulo parecia um Rio de Janeiro sem praia, um Saara com prédios. O céu estava com um azul meio opaco, forte, que dava a sensação de estarmos cozinhando sob uma redoma. Nem vento aparecia.
O caminho? Parques Alfredo Volpi e Burle Marx, incluindo portanto todo um sobe-desce pelo Butantã e Morumbi. Os parques foram um alento, aliás: entre suas pequenas trilhas e sob a mata fechada, uma umidade inexistente no céu descoberto parecia me transportar para outra cidade. Abafada, pesada, mas com sombra e uma umidade daquelas densas, pesadas como a consciência dos errados.
Mas seus bosques eram pequenos – 1 ou 2 quilômetros, no máximo, em cada parque. O restante do caminho era a céu aberto, feito de céu claro e deixando um rastro de suor por onde eu passava. Houve uma hora que cheguei a achar me ridículo por gostar de um clima tão opressor quanto aquele – mas o que se há de fazer contra os jeitos do coração?
A desconcentração, aliás, foi tamanha, que acabei me perdendo no caminho de volta, já do outro lado do Rio Pinheiros. Me perdi por 5km – o suficiente para me tirar do centro e fazer o corpo protestar veementemente contra essa falta de consideração.
Parei no primeiro boteco que vi, tomei uma Coca para acalmar as pernas e recobrar as energias, e segui em frente.
Acabei fazendo algo como 35km em 4 horas – bem mais que o planejado.
Cheguei destroçado, cansado, com uma leve dor de cabeça pela desidratação, mas feliz.
É possível mesmo alguém aguardar com ansiedade o sol do sertão?