E assim se foi o primeiro dia antes dos primeiros dias: da mesma forma que começou, em compasso de espera.
Cheguei em San Martin de Los Andes por volta das 13:30 absolutamente sonado. Era segunda, feriado de Carnaval, e teria ainda dois dias inteiros para descansar – desconsiderando apenas umas pequenas pausas para o onipresente trabalho, claro.
A primeira coisa que fiz – depois de um bem vindo banho, claro – foi rodar pelo povoado. Em um par de minutos, acrescento: San Martin cabe na palma de uma mão, não tendo mais que meia dúzia de quarteirões. Ainda assim, respira ares mais forasteiros do que interioranos: embora poucas, suas avenidas são tomadas por lojas de esporte de aventura; pequenas agências pontilham a paisagem; corredores e ciclistas dividem espaço com crianças brincando soltas; e um clima de adrenalina extrema parece ter subjugado um local que certamente nascera com propósitos muito mais bucólicos.
A vista também era única: dos dois lados, paredões de montanha afunilavam a vila para o Lago Lácar, formando uam espécie de praia tornada ainda mais gelada por ventos cortantes que espalhavam poeira e pinçavam os nervos. O céu, inquieto, já dedurava a geografia ao se pintar com as cores exatas da bandeira da Argentina.
E, como não poderia deixar de ser, o cheiro de parrilla acentua a fome de qualquer um que pensar em atravessar a frente dos restaurantes.
Tudo em San Martin era convidativo, do clima às paisagens e aos sons. Mas o cansaço, ao menos neste primeiro dia, estava extremo demais para eu aproveitá-la. Feito o reconhecimento, almocei logo antes da hora do jantar, invadi uma ou outra loja, tentei – sem sucesso – agendar alguma aventura turística de última hora para o dia seguinte, e voltei para o hotel.
Nada mais poderia me fazer sair da cama, nem mesmo a claridade insistente do outro lado da janela.
Hoje havia terminado.
E amanhã, ainda bem, será dia de fazer o reconhecimento como ele realmente deve ser feito: a passos rápidos, trotando povoado afora. Ainda não tenho ideia de que lado irei ou de quanto cobrirei – embora obviamente deva pegar leve por conta do Cruce. Mas uma coisa é certa: a Patagonia e os Andes parecem estar tão ansiosos quanto eu para se metamorfosear de paisagem em aventura.