Havia compromisso hoje cedo: o longão teria que ficar para depois das 10.
Sem problemas: já saí pronto e equipado para o que deveria ser mais um dos percursos de desbravamento da selva urbana, iniciando pelo centro e cruzando Memorial da América Latina, passando pela casa do Mário de Andrade, subindo e descendo ladeiras de Perdizes.
Em um dia de sol a pino e com um calor daqueles que amo, poucos prospectos seriam melhores.
Só que algo estava errado.
O primeiro sinal veio pelo ouvido: o fone que usava quebrou de vez, me impedindo de ouvir as instruções de rota sussurradas pelo Google Maps. O percurso teria que mudar, saindo do centro e indo para algum lugar com o qual estaria mais familiarizado.
Sem problemas. Joguei fora o fone e segui.
Olhei o Garmin como faço instintivamente, já sem perceber. Segundo sinal: ele estava travado, reiniciando. O mundo digital estava sendo claro comigo: eu estava perdido, ao menos “espiritualmente”.
Respirei fundo e notei que um cansaço extremo subia pelo corpo: pernas doíam, joelho direito simulava uma pontada, pálpebras pareciam ter sono.
Me lembrei da semana anterior, onde acumulei talvez mais do que deveria de quilômetros sobre dunas. Olhei para cima: o sol, que sempre me inspirou excelentes corridas por mais ardido que estivesse, parecia severo, quase malvado.
Olhei para trás: havia praticamente acabado de começar.
Olhei para a frente: o mais sensato seria seguir uma reta até em casa e dar o dia por encerrado.
Foi o que fiz.
O menor longão da história acabou com pouco mais de 3km em 18 minutos.
Hoje, o corpo queria descanso – e ignorá-lo realmente não parecia boa ideia.