Correndo pelo tempo, pelo mundo e pelo centro

7 da manhã, hora de sair desbravando um mundo que parece exótico de tão diferente – embora esteja há apenas metros de distância. 

Bastou cruzar a Paulista e seguir mais alguns passos e pronto: estava no centro velho de São Paulo. 

De início, passando pelas zonas mais degradadas da Augusta e Consolação, áreas que parecem ter nascido com um tipo de decadência típica de grandes cidades. São vias que funcionam como túneis do tempo, ligando o moderno ao antigo, o presente ao passado. 

E o passado, afinal, era o destino. 

Com algum zigue-zague proposital, subitamente me deparei com a Boa Vista. Região da Bolsa de Valores, onde ruas não existem e tudo é calçamento. 

Fiquei rodando pelos chãos de cimento ladeados com pedras portuguesas, uma espécie de tentativa de mesclar a solidez de uma cidade moderna à sua velha herança colonial. Prédios incríveis se enfileiravam: Edifício Martinelli, Centro Cultura Banco do Brasil, Banespa e outros. Muitos outros se erguendo do chão como monstros de dinheiro olhando, com algum desprezo, o que acontece aos seus pés. 

Mendigos, ambulantes, imigrantes vestindo cartazes, sacoleiros. O chão, ainda molhado pela ingênua tentativa da prefeitura de tirar o odor fétido do centro, era puro contraste. Todo o centro era contraste. 

De um lado para outro, fui ao grandioso Vale do Anhangabaú, ao Municipal, à Sé, ao Mosteiro de São Bento, ao Páteo do Colégio. De ponta a ponta, o passado colonial de São Paulo ia se transformando em uma Paris dos trópicos e, depois, em uma vila Africana abandonada pelos colonizadores europeus. 

Saí. Fui até o Mercado Municipal, tendo ao lado mais decadência que lembrava de um passado melhor por meio de casarios coloridos e agitados. Dei a volta nele, me esforçando para ignorar o cheiro de frutas podres, e voltei. Estava indo à Luz. 

Na velha estação, dei uma volta pulando drogados que queimavam cachimbos de craque fazendo de conta que eram postes. A única forma de ignorar os perigos do centro de São Paulo, aprendi, é fazendo de conta que eles são apenas parte imóvel da paisagem. E forçando a vista para que ela se concentre na beleza. 

Há beleza. Há a Luz, a Pinacoteca, a Sala São Paulo. Há o Museu da Língua Portuguesa, há as primeiras igrejas plantadas no então sólo indígena. 

Há o oásis que é o Parque da Luz. 

Entrei nele e, de repente, foi como se tivesse atravessado uma dimensão inteira. Tudo era silêncio, exceto por alguns pássaros cantando. A pequena trilha em seu entorno, adornada com alguns lagos e esculturas, ouviam apenas passos de outros poucos corredores e seu interior era tomado por japoneses jogando peteca e rindo em outro idioma. 

Dei mais que uma volta: o contraste fez um bem incrível. 

E depois saí. 

Hora de voltar pela cracolândia, de passar pelos prédios incríveis e de subir a Brigadeiro. Subi tudo. 

Atravessei a Paulista. 

Desci. 

Dali em diante, foi só seguir a rota convencional margeando o Parque do Ibirapuera. 

Aquela parte do dia, no entanto, já havia terminado – e com uma viagem à parte. Em pouco menos de 3 horas e 28km, rodei pela história da cidade, por imigrantes e migrantes, por neo-yuppies bêbados e mendigos esquálidos, por Brasil, Paris, África e Japão. 

Poucas trilhas são mais intensas do que essas que cortam uma malha urbana tão densa quanto a desta incrível cidade. 

   
    
    
   

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