Sempre imaginei que correr fosse um esporte individual, meio solitário. Para falar a verdade, sempre gostei muito disso: passar horas a fio movendo apenas pernas e pupilas – além da mente, claro – é algo quase sublime.
Pensando bem, é difícil encontrar algum ultramaratonista que não se dê bem e curta passar um bom tempo só, perdido entre trilhas e pensamentos.
Mas isso não significa que a corrida, enquanto esporte, seja algo individualista. Descobri isso desde que comecei o outro blog, o Rumo a Comrades, que acabou me trazendo grandes amigos. Houve um inegável clima de camaradagem que durou por todo o treinamento, pela prova e mesmo até hoje, meses depois.
Mas o dia de hoje foi um capítulo à parte. Como muitos sabem, na semana passada um bêbado atropelou algumas pessoas no reduto sagrado de corredores todos os sábados, a USP, e acabou matando o atleta Álvaro Teno.
Imediatamente, corredores de todos os cantos da cidade se juntaram e começaram a organizar uma espécie de protesto/ homenagem pelas ruas da Cidade Universitária – a Black Run. A proposta era simples: fazer o longão de sábado vestido de preto.
Simples, mas impactante.
De camisa preta, fui hoje à USP para o meu longão e, sem saber o que esperar, acabei me deparando com outras muitas centenas de corredores com o mesmo “uniforme”.
O que nasceu como um protesto acabou, ao menos para mim, se transformando em uma prova concreta do quanto a corrida é algo coletivo, fazendo anônimos dos quatro cantos compartilharem pelo menos alguns valores muito, muito importantes.
Que fique registrada essa homenagem ao Álvaro Teno e a esse esporte que consegue unir a solidão ao senso de comunidade de maneira tão espetacular.