Quando cruzei a linha de chegada da Bertioga-Maresias na semana passada, fui surpreendido com uma notícia que me pareceu chocante: um dos primeiros colocados havia, aparentemente, feito parte do percurso de moto, sendo desclassificado in loco. Reforço o aparentemente: alguns dias depois, a organização voltou atrás e decidiu manter a premiação.
Ainda assim, houve toda uma confusão em torno do assunto, um clima de “pre-briga” nas areias de Maresias e, claro, um espanto generalizado.
Na boa… estamos falando de ultras. Por mais que amemos esse esporte, todos sabemos que ele é nichado, de alto custo e com retorno quase nulo para a elite. Mesmo essa prova, uma das mais tradicionais do Brasil, não tinha nenhuma premiação em dinheiro. O que levaria, então, alguém a trapacear nela?
Depois, no grupo de Whatsapp de Comrades, quando o caso virou assunto, um outro amigo comentou que pegar carona era uma prática comum na Bertioga-Maresias.
Sabe o que menos consigo entender? Por que alguém em sã consciência se inscreve em uma prova cujo único mote é superação e o único prêmio é o orgulho para, depois, trapacear? Qual o sentido disso??
Falar para amigos que conquistou algo que é quase irrelevante para quem não ama esse esporte? Como é possível que o sentimento de vergonha não aniquile o de orgulho?
Essa semana alguns amigos lançaram uma página no Facebook chamada de Fiscal dos Corredores. No começo, sendo bem sincero, não sabia bem o que achar. Afinal, para mim, um amador, tanto faz quem “rouba” ou não. Quem perde é o ladrão.
Mas aí me lembrei de Maresias. E se a trapaça tivesse mesmo sido confirmada? O que aconteceria com quem treinou, se organizou e se esguelou para chegar no podium? Seria justo perder o podium de maneira tão incorreta assim? Não, não seria.
É triste que precisemos ter uma página de amadores que fiscalize atletas – e espero que isso não acabe virando linchação sumária de suspeitos inocentes. Mas, se não há outro jeito, se a desonestidade existe até quando não há um “ganho tangível” que a “justifique” (se é que algo pode justificar a desonestidade), então longa vida para os fiscais.
Quer conhecer a página? Acesse no https://www.facebook.com/pages/Fiscal-dos-Corredores/1623055784624957
Parabéns por abordar esse assunto aqui, lamentável o que vem ocorrendo nas corridas, nao sei para que as pessoas fazem isso. mas todos que são honestos devem cobrar mais dos organizadores e boicoitar provas assim.
Bons treinos,
Jorge Cerqueira
http://www.jmaratona.com
Ricardo,
Instigante sua abordagem a um tema extremamente complexo. No passado, apelidei-o “fantasma do pedal”. A insatisfação do amigo Jorge Cerqueira reflete o sentimento da corrente majoritária dos guerreiros canelas secas, entretanto, penso que o caminho do “boicote” às provas, é um remédio por demais amargo e que, com certeza, desagradaria e/ou afetaria aos que correm por pura paixão.
Para juízo de valor, recordo-me de haver lido no Rumo a Comrades, algo sobre split negativo na Rainha das Ultras, pelo qual os estudiosos identificaram dados inconsistentes de alguns corredores, ou seja, encontraram os que tentaram burlar o sistema.
Para encerrar, vou citar o ensinamento do companheiro de corrida Nilo Resende, “a corrida é a arte que reconcilia o homem com o tempo”.
Forte abraço e bons treinos!!!
Dionísio Silvestre
http://correrpurapaixao.blogspot.com.br/
É isso aí, Dionísio. Boicotar não dá – pra que faríamos isso com nós mesmos?
A responsa oficial de garantir que não haja trapaça é da própria organização mas, neste sentido, o Fiscal pode até ajudar. Os casos de Comrades foram detectados por um corredor amador que estudou paces, viu inconsistências e investigou. Perfeito.
Reforço que acho uma pena precisarmos de algo assim no nosso esporte mas, tanto aqui quanto no mundo, impera uma falta de bom senso generalizada. Só espero mesmo que uma fiscalização por amadores não transforme nossas trilhas e ruas em uma Salem do século XVIII!