Algo acontece em nossa mente quando passamos por situações difíceis ou depois de superarmos desafios cuja intensidade, vista pelo retrovisor, parece verdadeiramente insana. É como se toda uma jornada realmente parecesse ter chegado ao seu fim, forçando um novo foco e uma pergunta muito pouco reconfortante: “e agora?”.
Levei um tempo para entender isso, mas acho que cheguei nesse ponto agora. Não que tenha realizado nenhum feito digno de capa de revista, claro – mas cada um de nós tem os seus próprios limites, determinando as medidas reais de qualquer tipo de autosuperação.
Pois bem.
Me inscrevi na Maratona de SP com o único objetivo de me qualificar para Comrades.
Me qualifiquei, embora a duras penas pelas condições sobrehumanas da prova e, com isso, cheguei ao final da minha temporada de 2014. Sem provas no curto prazo para desviar um pouco o foco de um ano de dificuldades colossais no trabalho, acabei desmoronando.
E agora?
De repente, caí vítima de overtraining e exaustão, perdi a motivação de correr por um tempo, fiquei gripado duas vezes em duas semanas e vi a minha perfomance praticamente evaporar.
Aos poucos, fui me recuperando.
Com um passo de cada vez, ouvindo mais o corpo, cedendo quando sentia a necessidade de ceder e forçando quando sentia que precisava de uma chacoalhada.
Nesse período, decidi montar a minha própria ultra pela Estrada Real em um futuro ainda indefinido. Uma forma diferente de encarar as trilhas, com um aspecto muito mais aventureiro do que o normal.
Me peguei por diversas vezes fuçando percursos novos nas proximidades pela Web e pesquisando trilhas por lugares menos conhecidos.
E agora? Não sabia a resposta – mas sabia que mais do mesmo não resolveria nada.
O desconhecido, aliás, passou a me encantar muito mais que o normal. E agora?
O asfalto perdeu a graça.
O parque ficou monótono.
O cotidiano ficou enfadonho.
Até meus equipamentos mudaram: o relógio Adidas MiCoach deu o seu suspiro final e eu troquei por um Garmin; criei uma conta no Strava para me localizar e me entender melhor; comprei um tênis Salomon S-Lab Ultra para me agarrar melhor às trilhas distantes de São Paulo.
Comrades? Por mais apaixonante que essa prova seja – e por mais que ela tenha mudado a minha vida sob vários aspectos – devo confessar que estou perdendo a motivação de voltar. Afinal… voltar para que, se já conheço o local e se há tantos lugares incríveis no mundo a se desbravar?
Mas ainda não me decidi sobre isso. Esse é um ponto que deve ser encarado sem pressa. Com calma.
Quando estiver inteiro novamente, o que ainda não é o caso.
Por hora, estou me concentrando em dois próximos passos: o Plano Estrada Real e alguma trilha insana lá perto de Villa Angostura (Argentina), onde passarei o ano novo. Já imaginou quantas coisas incríveis existem por lá?
Talvez as respostas estejam nas montanhas ao sul; talvez nas minas abandonadas e cachoeiras ao oeste; talvez no puro ato de desbravar o desconhecido com a calma e o sangue frio com que se costuma correr ultras.
Esteja essa resposta onde estiver, uma coisa é clara: sairei dessa fase de exaustão bem diferente do que entrei.
Que bom. Mudanças, afinal, sempre são boas.

