Green Number na Comrades?

Eu participo de um grupo no Whats com os corredores que vão para Comrades. Participo desde o começo, aliás, em grande parte por conta do www.rumoacomrades.com, que inaugurou toda a minha jornada tanto pelo mundo das ultras quanto pela blogosfera como um todo.

Quando cruzei a linha de chegada em Pietermaritzburg no ano passado, recebendo a medalha back-to-back, fiz um último post lá no blog dizendo que aquela seria a minha última Comrades. Fazia sentido: já havia percorrido os dois sentidos, vivenciado a experiência da prova e estava pronto para novos desafios. Fazer mais 8 edições até conquistar o Green Number era algo que não fazia sentido para mim.

Até que o calendário correu e comecei a ver tantos amigos animados e cozinhando as suas ansiedades para ir à África.

Aí bateu saudade do Shosholoza, do clima de Durban, daquele país inacreditável que é a África do Sul, da profusão de idiomas que cortam os ares, das tradições, do oceano Índico.

Aí entendi a mágica por trás do Green Number.

Já não sei mais se deixei a minha última Comrades em 2015.

Talvez já esteja tarde para 2016 mas, a essa altura, confesso que o prospecto de eu me organizar para correr atrás do Green Number é grande. Muito grande.

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A lista de desejos (atualizada em 18/02/2016)

O El Cruce cortou dois itens da minha lista: a própria prova, um sonho antigo, e a realização de uma ultra por etapas. Experiências inesquecíveis – que, como praticamente todas as que cruzei da lista, mudaram toda a minha percepção de vida.

O próprio vídeo que adicionei do Cruce, aliás, foi da edição que participei.

Outra prova entrou aqui: a BR135+, que participei como apoio em janeiro passado. Não sei quando, mas um dia ainda a realizarei. E, por hora, é o momento de achar a próxima meta a ser cumprida.

A lista está assim:

 

  • Fazer a primeira ultra: Two Oceans (56K), na África do Sul (feito em MARÇO de 2013):
  • Correr Comrades (89K), também na Africa do Sul (feito em JUNHO de 2014):
  • Fazer a primeira ultra trail (Douro UltraTrail, de 80K, em Portugal, feito em SETEMBRO de 2014):
    • Organizar minha própria ultra (Ultra Estrada Real, de 88K, feita em ABRIL de 2015)
    • Fazer a Comrades no sentido inverso (up-run), ganhando a medalha back-to-back – www.comrades.com – MAIO de 2015:
    • Fazer uma prova com 100 km (Indomit Costa Esmeralda Ultra Trail, feita em 07/11/2015)

 

  • Qualquer ultra em etapas (El Cruce Columbia, feita entre 12 e 14 de FEVEREIRO de 2016)
  • El Cruce Columbia – http://elcrucecolumbia.com/ (feito entre 12 e 14 de FEVEREIRO de 2016):
  • Qualquer prova do circuito do Ultra Trail de Mont Blanc (UTMB) – www.ultratrailmb.com – AGOSTO:
  • TransArabia (Jordânia) ou TransOmania (Oman) – www.thetransarabia.com – NOVEMBRO ou JANEIRO, respectivamente:
  • Fazer qualquer ultra do circuito de Skyrunning
  • Lavaredo Ultra Trail (Itália) – www.ultratrail.it – JUNHO
  • Correr no Grand Canyon (preferencialmente fazendo o Rim2Rim)
  • Correr no Everest – everesttrailrace.com – NOVEMBRO:
  • Qualquer prova com 100 milhas
  • Qualquer ultra em percurso com neve
  • BR135+ – JANEIRO

Por que não criamos ultras mais relevantes no Brasil?

Todas as ultras mais desejadas do mundo tem uma característica essencial: um apelo emocionalmente poderosíssimo para os corredores. E esse apelo pode ir por três lados: relevância histórica, dificuldade colossal ou beleza estonteante. Frequentemente, aliás, esses três elementos estão juntos.

Exemplos?

O percurso da Comrades não é exatamente incrível – mas seus mais de 90 anos de história, a força que exerce sobre toda uma nação e as lendas que giram em torno dela a fazem ímpar.

Spartathlon, na Grécia? Junta a dificuldade homérica de se completar 246km em menos de 36 horas – com pontos de corte no mínimo sádicos – com o peso histórico de se estar refazendo o percurso de Filípides.

El Cruce? Precisa falar alguma coisa da sua beleza estonteante? A experiência de cruzar os Andes e beber uma paisagem daquelas por dias está longe – muito longe – de ser considerada corriqueira.

A Marathon de Sables, com quase uma semana para se cruzar 254km no Saara, não é considerada tão difícil quanto outras do gênero por ter postos de corte mais generosos – mas, da mesma forma que o Cruce, permite se testemunhar cenas absolutamente inesquecíveis.

E por aí se vai. TransVulcania, Barkley, Mont Blanc (UTMB)… todas tem um ou mais destes três ingredientes.

Agora olhemos o Brasil.

Das poucas ultras que temos em nosso solo, a única que realmente se destaca é a Jungle Marathon – e que é mais famosa no exterior do que aqui. Mas há tantos locais incríveis no Brasil que, honestamente, não fazer uma ultra neles é jogar fora oportunidades. Exemplos práticos?

Começo com o que nós mesmos fizemos no começo do ano, por conta própria: a Ultra Estrada Real. Refazer o caminho dos mineiros no auge do ciclo do ouro e terminar aos pés da estátua de Tiradentes em Ouro Preto em plena Páscoa, época que toda a região fica deslumbrante, certamente é uma candidata. Dezenas de corredores participaram dessa iniciativa que começou por aqui e que, aparentemente, terá alguma continuidade.

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E outros locais?

Correr no sertão em pleno verão escaldante certamente seria um belo desafio. Aliás, o amigo André Zumzum organiza o Caminhos de Rosa que é justamente isso – com o bônus de acontecer na trilha das histórias do mestre Guimarães Rosa. Não fosse tão longa – ela tem 263km – eu participaria na mesma hora.

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Há outro sertão perfeito: Canudos. Terra de santos, beatos, guerras e de um dos episódios mais marcantes da nossa história, seria um desafio e tanto.

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E Lençóis Maranhenses? Uma prova por suas dunas seria inesquecível e atrairia gente de todo o mundo.

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Chapada Diamantina? Que me conste, há apenas uma maratona por lá – mas há terreno suficiente para se explorar distâncias maiores com pérolas espalhadas por ela.

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Falando em Chapada, há a dos Veadeiros que tem o pitoresco Vale da Lua.

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O Rio de Janeiro também poderia receber uma ultra. A cidade é inegavelmente uma das mais lindas do Brasil e conta com pontos perfeitos como o Pão de Açúcar, o Cristo, a região da Vista Chinesa. Sua cidade irmã, Cape Town, fez uma ultra pela cidade que rapidamente cresceu (Ultra Trail Cape Town).

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Lá no sul há a região das Missões ou a Serra Gaúcha. Locais PERFEITOS para se correr em trilhas animais e memoráveis.

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Isso sem contar com locais de mais difícil acesso como o Monte Roraima, o Jalapão e tantos outros.

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O fato é que vivemos em um país que, embora não esbanje praias como as do Caribe ou montanhas como as dos Alpes, tem belezas inquestionáveis. Também é fato que, senão todos, a grande maioria dos ultramaratonistas vivem para beber cenas marcantes nas trilhas ou ruas do mundo.

Por que, então, as ultras que acontecem por essas bandas cismam em não aproveitar quase nada das nossas belezas naturais?

Tomara que alguém leia esse post e tome alguma providência organizando algo mais parrudo. Uma coisa eu garanto: a minha participação entusiasmada.

Comparando performances e evolução

Quem acompanha este blog sabe que tenho uma certa tara por números e métricas. Guardo com um zelo ridículo minhas marcas, melhores ou piores, além de cada registro que puder colocar as mãos e que me ajude a entender melhor o corpo e a mente.

Na prática, confesso que a utilidade é pouca: não sou e nunca serei um atleta de elite e, no máximo, gosto de satisfazer a minha própria curiosidade quanto a mim mesmo. Digamos apenas que eu seja uma espécie de acumulador virtual.

Nesse espírito, decidi fazer alguns gráficos para entender a minha performance correndo maratonas e trilhas/ ultras desde a minha primeira linha de largada, em 2013. E cheguei a algumas conclusões interessantes.

Maratonas de Rua

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Fiz, até hoje, um total de 8 maratonas “oficiais” (desconsiderando treinos de 42K, naturalmente). Até a de Chicago, minha meta era uma só: tempo. Nunca havia pisado em uma trilha e o máximo de sonho que eu tinha era correr Nova York, Londres, Berlim etc. E exceto por um pequeno soluço na Maratona do Rio de 2013 – que estava com um calor infernal – vinha conseguindo baixar meus tempos praticamente a cada corrida.

E isso durou até a Comrades de 2014.

Ultras e Trilhas

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Depois da Comrades, minha primeira prova foi uma maratona de trilha – a Indomit – que estava usando como preparo para a Douro Ultra Trail. Novidade pura para mim, incluindo terrenos super técnicos, uma necessidade óbvia de se caminhar de vez em quando e um bônus valiosíssimo: as paisagens.

Foi só fechar a Indomit e a DUT, esta última em setembro do ano passado, que virei um trilheiro convicto. Com o abandono das metas de rua, passei a me dedicar mais a treinos de resistência e a focar provas em montanha, com altimetrias mais severas e uma largura de tempo substancialmente maior.

É difícil comparar uma ultra com a outra: cada uma delas tem terreno e distância diferente, o que as faz únicas. Mas dá para perceber que me mantive com uma resistência semelhante dado que a diferença das minhas duas Comrades ficou em ridículos 23 segundos (mesmo considerando a alternância dos percursos).

Mas a velocidade em maratonas ficou nitidamente comprometida, bastando olhar os dois resultados que tive (ambos em São Paulo) depois de Chicago.

Que grande e disruptiva conclusão se pode tirar disso? Nenhuma, claro. Ficar lento em maratonas depois de ser abduzido para o mundo das ultras de trilhas não é nada além do óbvio.

Mas fiquei curioso quanto à minha capacidade de retomar a performance e, quem sabe, bater um sub 3h30.

Quem sabe um dia? Por enquanto, minha vontade de participar de uma prova de rua realmente é mínima…

Uma história de desistência e autoconhecimento na Comrades 2015

Quando alguma prova grande termina, é normal vermos a Web recheada de casos de sucesso e de “lendas” formadas pelos quilômetros amontoados. É muito raro, no entanto, lermos relatos de desistências, de abandono de provas e metas. 

Nessa Comrades, um grande amigo meu abandonou a prova no km 65 depois (da insanidade) de chegar em Durban apenas às 17:00 do dia anterior, com 5 horas de fuso na cabeça e todo um cansaço mesclado à ansiedade que fez da sua mera presença na linha de largada algo difícil de se conceber. 

Ele escreveu um relato, que reproduzo abaixo, que acaba narrando uma história de autoconhecimento e humildade – ambos conhecimentos tão (ou até mais) essenciais para corredores de ultra quanto saber comemorar as vitórias. 

Para vencer, preparação e autoconhecimento

Decidi que faria a back-to-back logo após a primeira Comrades, em 2014. Devido a fatores diversos, os treinos não foram tão fortes quanto deveriam, mas persisti, fiz a maratona de Santiago como qualify e, mesmo com a panturrilha estourada, me senti pronto. 

Devido ao trabalho viajei um dia antes para Durban, ou seja, embarquei às 23h da sexta, após uma semana bem puxada na empresa. Cheguei no sábado às 17h, depois de 24h de avião com 2 conexões. Entre jantar e jet lag, consegui descansar umas 6h, pois o frio na barriga me fez perder o sono e às 4 da manhã já não consegui mais dormir.

Às 5:25 estava na baia F ouvindo o hino africano, shosholoza, carruagens de fogo. O galo cantou 3 vezes e o tiro da largada anunciava 87 Km. Como neste ano havia mais corredores que o habitual, os primeiros Km’s foram bem tumultuados, lotados e com alguns trechos em que você era obrigado a caminhar e seguir o ritmo da grande massa.

Após alguns tropeços aqui e acolá, perdi minha água batizada com uma “vitamina” anti-fadiga que havia até treinado para tomar a cada 15km, (e combinado com a minha noiva Cláudia para repor no km 60). Quando percebi fiquei um pouco assustado e chateado, mas não tinha outra opção há não ser “keep running”.

Os primeiros 45km foram de subida, o calor era esperado e, por volta das 10h, já dava para sentir que ele seria forte. No Km 30 comecei a sentir muito meu tornozelo (pela primeira vez na vida). O calor me obrigava a passar em todos os postos e já recorrer à Coca-Cola desde cedo em busca de açúcar. Precisava comer algo, mas só percebi que havia comida no caminho depois da metade da prova. Dores nas costas apareceram em uma intensidade maior do que imaginava ser possível.

Sabia que o momento mais difícil viria entre os 45km e 70km (entre 11 e 14h) e que deveria tentar fixar um pace razoável, lidar com as dores, manter hidratação e me alimentar. Cheguei a beber mais água que deveria – mas o que me pegou forte foi o cansaço mental. Tentei acompanhar dois ônibus (turma que corre com uma meta específica de tempo), mas os perdi nos postos de água com o acúmulo de corredores.

Em vários momentos da prova você vê pessoas de todos os tipos e com situações diferentes da sua. A partir do km 40 já era comum ver pessoas apagadas (ao lado da estrada, em macas, nas vans médicas já lotadas de desistentes). Isso vai minando a sua mente e, ao mesmo tempo, mostra que humildade e preparação em todos os sentidos fazem a diferença.

Consegui encontrar a Cláudia (minha noiva) no Km 58, onde ela me entregou uma nova dose anti-fadiga e fez uma boa massagem nas costas e tornozelo. Mas a parte mental estava fraca: pensava em como desistir, queria desmaiar, queria que o carro do corte me alcançasse, enfim, procurava algo maior do que eu mesmo para me derrubar. Não encontrava e, com isso, as lágrimas vieram umas 3 ou 4 vezes.

Comecei a fazer contas e pensei: “se mantiver um pace de 8, 9 ou 10, será que consigo?” 

Mas eu não conseguia: me perdia nos resultados. Usei o celular e mesmo com a conta feita não conseguia raciocinar se era ou não possível.

Após o km 60 percebi que o anti-fadiga não ia mais funcionar: estava além do meu limite.  Fisicamente o tornozelo me impedia de correr mais de 400m; o excesso de líquido me forçava a tentar vomitar, gerando dores adicionais; a mente ficava mais fraca.

Até que, no km 65, joguei a garrafa de água fora revoltado com a derrota que sofria para mim mesmo. Mãos no joelho, uma longa subida e muitas lágrimas encerraram ali meu sonho da back-to-back, mesmo com várias pessoas de fora gritando para que eu não parasse, entoado frases como “you are a hero, keep moving, well done, don’t stop”. 

Mas não encontrava mais forças.

Meu último pensamento: “estou a ponto de apagar ou me lesionar mais a qualquer momento, eu preciso saber diferenciar a persistência da burrice, sou atleta de fim de semana e não profissional”. Enquanto esperava a van para ser “resgatado”, esses 30min foram de lágrimas e imaginação sobre como seria entrar no corredor da chegada pela segunda vez, com tanta gente incentivando e comemorando. Esse sonho, ao menos por enquanto, foi adiado.

Eu não consegui completar a segunda Comrades. Lidar com isso após a corrida é difícil, mas ao mesmo tempo é motivador para continuar treinando, conhecendo melhor meu corpo e cuidando tanto do físico quanto do psicológico: a vitória vem na preparação. Corrida, afinal, é algo que faz parte de mim e me ajuda em vários momentos da vida.

I love running <3.  


– João de Andrade

  

Cansaço atrasado do corpo

O corpo funciona de maneira curiosa.

Estava, não minto, meio orgulhoso e espantado com a velocidade da minha recuperação pós-Comrades. Mesmo com 12 horas de viagem na terça, acordei cedo na quarta para fazer 11K praticamente perfeitos.

Na quinta, mais 13K. Não sentia nem lembrança de dor – era como se eu estivesse no meio de um novo ciclo de treinamento, inclusive buscando paces agressivos.

No sábado, pouco menos de 20K para espichar o dia azul, voando baixo pelas ruas paulistanas até o Villa-Lobos.

Só que aí veio o domingo. Acordei com as pernas pesadas, mas tão pesadas, que elas pareciam de outra pessoa. Correr era uma impossibilidade: coxas, panturrilhas, tornozelos, plantas dos pés: tudo doía como se tivesse acabado de correr uma ultra.

Até caminhar parecia mais difícil, mais lento. Era como se eu estivesse vivendo debaixo da água, sentindo uma gravidade mais forte dificultando cada impulso de movimento. 

Caiu a ficha: era o corpo me lembrando que eu havia corrido 90K há apenas uma semana – e que ele precisava descansar. Mensagem anotada.

Trote do domingo cancelado. 

Hoje já acordei melhor – mas nada de forçar. Descanso também.

Desta vez, a dor acumulada pós-ultra levou uma semana para chegar – algo que nem sabia ser possível. O importante, me parece, continua sendo o mesmo: saber escutá-la.

Vamos ver como estará o corpo amanhã.

  

Checkpoint: Revisando a chegada e resetando os sistemas

Ainda é difícil de acreditar que a Comrades foi há apenas uma semana e que, nesta exata hora, eu estava já comemorando com os amigos lá em Pietermaritzburg, vestindo as duas medalhas com o peito estufado de orgulho. 

É igualmente difícil acreditar que meu ciclo naquele naco da África, região que mais amo em todo o mundo, se encerrou. 

Dizem, no entanto, que se deve encarar finais de ciclos como início de novos tempos. Talvez seja mesmo hora de me concentrar em outras provas da minha lista de desejos – ou mesmo de varrer a mesma África em busca de outras ultras e desafios, seja em Victoria Falls, nas Drakensberg, em Lesotho, no Kilimanjaro ou em qualquer outro local. Uma coisa é certa: meu tempo na África está longe de ter terminado: se não para a Comrades, ainda voltarei lá para correr algum outro solo. 

Enquanto isso, claro, essa semana foi de pura recuperação. Recuperação equilibrada, devo acrescentar: corri um total de pouco mais de 40km, me entregando à vontade de estar nas ruas, fiz novos planos, busquei novas provas, respirei novos ares. Aproveitei esse (muito) bem vindo feriado para repassar esses últimos meses e todo esse treinamento que se foi. 

Curioso: no final das contas, a quantidade de trilhas que fiz no caminho até a Comrades foi tão grande, gerando tantos altos e baixos do ponto de vista de volume de rodagem e pace médio, que facilmente se deduziria que a linha de chegada seria cruzada com muito mais dificuldade. Não foi o caso: possivelmente pela somatória de experiência com variação muscular no treinamento acabou funcionando de maneira perfeita e cheguei em Pietermaritzburg com um tempo melhor e com muita, muita energia ainda sobrando. É só ver abaixo, pelos gráficos:

  
Só isso já diz muito sobre o quanto a variação em terreno pode fazer bem para o corpo. 

Agora é hora de recomeçar. Minha próxima grande meta é apenas em novembro, fechando meus primeiros 100K nas trilhas de Santa Catarina. Até lá ainda há muito chão pela frente. 

Que bom.

A semana pós-meta

Há uma sensação incrível de missão cumprida sempre que conseguimos bater alguma meta importante.

É como estou desde que retornei da África do Sul trazendo comigo a medalha back-to-back da Comrades, indubitavelmente a prova mais “mágica” e contagiante que já participei na vida.

Ela foi no domingo passado, há menos de uma semana – mas o corpo já está aproveitando o que se pode chamar de “louros” em treinos descompromissados e desplanilhados pelo parque. Saí para 11K na quarta, já plenamente recuperado, e fiz mais 13K no feriado de ontem. Sábado tem longão e domingo, regenerativo. Uma espécie de rotina se mantém – mas de forma mais suave, descansada, do que antes. Ao menos para a mente.

Esse descanso, para mim, não significa ficar jogado no sofá: significa apenas poder correr de acordo com o ritmo do corpo, sem nenhum tipo de pressão ou controle, sem nenhuma meta assustando a mente. Significa apenas fazer uma das coisas que mais amo na vida: correr.

E, entre uma passada e outra, começar a pensar em próximas metas, em próximas provas.

Por hora, tenho apenas os 100K da Indomit planejados para novembro… mas a vontade de inserir o calendário com pelo menos mais uma ultra já começa a bater. Quais seriam? O que há planejado por essas bandas? Quais oportunidades podem ser aproveitadas?

Começarei a buscar essas respostas entre hoje e amanhã, caçando desafios pela Web enquanto monto a minha própria planilha uma vez que estou órfão de treinador. Estava com saudade de cuidar de mim mesmo neste sentido.

E estava também com saudade de aproveitar esse período pós-meta de pura endorfina correndo solta pelo sangue.

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