Confesso que amo, insanamente, correr pela paisagem urbana de São Paulo.
Faz pouco sentido, sei, para quem curte tanto a paisagem de trilhas, montanhas e natureza de forma geral.
Mas o que é uma grande cidade senão um pedaço exoticamente legítimo da natureza, adaptado pelas mãos de seus protagonistas na cadeia alimentar? E o que é uma paisagem urbana senão o testemunho simultâneo à grandiosidade e à decadência de tantos ideais das mais diversas correntes de pensamento?
No meu cotidiano eu tomo retas por ciclovias, subo escadarias esquisitas, atravesso trilhas de trens e perambulo por zonas tomadas por aquele clima de devastação típico de centros latinoamericanos. Tudo com o contraste de um audiolivro cantando Wilde, Achebe ou Tólstoi ouvidos adentro, transformando toda a experiência de correr em algo ainda mais singular.
No meu cotidiano, vejo coisas assim enquanto corro:
É algo tão fenomenal quanto cruzar cadeias montanhosas nos alpes europeus? Provavelmente não. Mas não moro nos alpes.
E, se tem uma coisa que aprendi, é que sempre faz bem aproveitarmos o que nos é posto à frente pela própria vida.
Sábado tem um outro ultra-longão: mal posso esperar o que essa sempre mutante cidade de São Paulo reservará pelo caminho.