No caminho até o trabalho, carros zuniram perto demais, buzinas soaram altas, blocos de pessoas cruzaram outros blocos de pessoas em franco desafio às leis da física.
No trabalho, telefones, vozes, tramas internas, pequenas intrigas e tudo mais que caracteriza qualquer vida coporativa.
Estava de volta.
Sem alternativa, me encaixei já nas primeiras horas contribuindo do meu jeito à talvez irremediavelmente fétida (embora também encantadora) vida metropolitana. Trabalhei, disparei ordens em volumes mais altos, discuti, bolei projetos e, com o cansaço ao qual não estava mais habituado, voltei para casa.
No dia seguinte, hoje cedo, acordei direto para o Ibirapuera: precisava correr para arejar as ideias.
Me deparei com o óbvio: a corrida em nacos mais pacíficos e leves do mundo se dá quase como uma oportunidade de agradecer à natureza pela vida que ela proporciona. Desbrava-se paisagens, afasta-se a pressa, curte-se cada brisa e cada cenário como se fossem milagres.
Aqui, na cidade, corre-se por motivos mais próximos da sobrevivência, do instinto. Não que as cenas em si não sejam belíssimas a seu modo – eu amo cruzar a cidade, mesmo em seus ambientes mais precários. Mas correr em vidas típicas das grandes urbes é mais do que curtir o momento: é um ato de sobrevivência.