No dia 10 de fevereiro, o Danilo Balu fez um post pra lá de polêmico no seu blog Recorrido sobre nutrição. O título, para ser mais exato, foi “Dica de corrida do dia: jamais vá a um nutricionista!“. Os argumentos do Balu, que não cabe aqui replicar (una vez que basta clicar no link para ver na íntegra), eram agressivos – mas absolutamente coerentes.
O resultado foi um boom de críticas e ataques pessoas, incluindo até mesmo ameaça de processo por conselhos de nutrição. Curiosamente, apenas um ou dois dos quase 800 comentários realmente contestaram, com base em argumentos técnicos, o ponto do Balu. E os que se deram ao trabalho de contestar, ao menos sob os meus leigos olhos, foram mal sucedidos.
Pois bem: depois de apanhar por muito tempo, o Balu escreveu uma série de dez artigos absolutamente embasados, citando pesquisas que iam do século XIX até os dias de hoje. Quem quiser ler – e eu recomendo bastante – acesse os links abaixo:
Sobre nutrição e falácias – parte 1
Sobre nutrição e falácias – parte 2
Sobre nutrição e falácias – parte 3
Sobre nutrição e falácias – parte 4
Sobre nutrição e falácias – parte 5
Sobre nutrição e falácias – parte 6
Sobre nutrição e falácias – parte 7
Sobre nutrição e falácias – parte 8
Sobre nutrição e falácias – parte 9
Sobre nutrição e falácias – parte 10
Para coroar a discussão, o Corrida no Ar fez um episódio dedicado ao assunto, que posto aqui no blog, logo ao final do post.
Não sou especialista no assunto, mas devo concordar que a nutrição esportiva tradicional dificilmente se aplica a ultramaratonistas. Meus pontos, muito mais empíricos (mas, ainda assim, concretos), são:
- Comer de 3 em 3 horas, como a imensa maioria prega, dificilmente conseguirá preparar o organismo para enfrentar 10, 15, 24 horas nas trilhas. Tudo na vida é treinamento – e isso inclui fazer o corpo aprender a otimizar as suas próprias reservas antes de entrar em colapso.
- Exercício físico realmente não é sinônimo de emagrecimento. Sim, maratonistas profissionais são esqueléticos – mas isso é também fruto de uma genética diferenciada e de uma nutrição absolutamente regrada e personalizada. Em ultras, é extremamente comum encontrar corredores muito, muito acima do peso. Gordos mesmo. O motivo? Possivelmente o hábito de saciar a fome bíblica comendo tudo o que encontrar pela frente, sem culpa, depois de passar horas nas ruas.
- Dietas sempre balanceadas são ideais? Não sei. Confesso que como de tudo: carnes, legumes, frutas etc. – e que tenho preferido refeições mais leves. Evito suplementos alimentares a todo custo: há algo sobre tomar colheradas de pó que vem em embalagens com fotos de pessoas deformadamente musculosas que definitivamente não soa bem. Mas o que dizer sobre as dietas paleo, sobre low-carb/ high-fat do Tim Noakes, sobre a dieta 100% de frutas do Michael Arnstein ou sobre os tantos veganos, como o lendário Scott Jurek? Todos tem receitas absolutamente exóticas sob a ótica da nutrição tradicional – e todos, sem exceção, creditam os seus ganhos em performance primariamente às escolhas alimentares. Se tanta coisa oposta funciona bem para tanta gente, então possivelmente a nutrição esportiva é mesmo algo muito, muito distante da receita de bolo comumente utilizada e pregada nos consultórios.
De toda forma, é uma discussão que deveria ser incentivada pelos conselhos e órgãos que reúnem nutricionistas: só o debate leva a melhorias. O que se viu (e o que ainda se pode ver) nos comentários do primeiro post do Balu foi justamente o oposto: uma caça às bruxas ridícula, baixa e muito mais compatível com fanáticos religiosos condenando à fogueira qualquer um que conteste a fé do que a cientistas que, por definição, deveriam ter ceticismo impregnado no DNA.
Que pena. Quem perde com essa postura é a comunidade de corredores.
Muito bom o texto do Balu e infelizmente não se aplica só a nutrição, mas a toda área médica que tem medicina baseada em evidência de menos e “idiotas pró-ativos” de mais.
Pois é Ricardo. Acompanhei a repercussão desde semana passada e também o vídeo do Corrida no Ar. Realmente eu concordo que o Balu se manifestou de maneira agressiva, mas como você mesmo diz de forma coerente. Infelizmente hoje em dia na internet tem muita gente que não aceita uma segunda opinião e defende suas “verdades incontestáveis”. Sem falar naqueles que baixaram o nível do debate, salvo raríssimas exceções. Faz poucos meses estou estudando um pouco sobre dieta Low Carb e Paleolítica. No mínimo é bem interessante os levantamentos abordados sobre o assunto e de como é a visão nutricional de hoje em dia. Se me permite aqui no blog, indico aqui mais dois podcasts do Corrida no Ar sobre o assunto:
-> Dieta Low-Carb e Paleolítica para corredores
-> Dietas Low carb e paleolítica aplicadas à corrida
E o blog do Dr. Souto: http://www.lowcarb-paleo.com.br/
Salvo engano, o mais completo blog brasileiro sobre o assunto. Vale a pena a reflexão.
Abraço.
Excelentes pontos e dicas Juan! Não conhecia o blog, mas já vou mergulhar nele!
Pingback: Low carb, high fat? | Rumo às Trilhas