Aprendendo com a gripe

A noite de anteontem para ontem foi infernal: acordei duas vezes com febre, depois suei até quase me afogar e cultivei uma dor de cabeça sem paralelos. Tudo bem: sexta era dia de descanso, tempo suficiente para eu me recuperar.

Como já há “feriados” demais em época de Copa, faltar ao trabalho não era uma possibilidade.

Fui. Com menos roupa do que deveria, diga-se de passagem.

Aguentei a manhã com frio e dor de cabeça, mas sem febre. Bom sinal: a gripe estava indo embora.

Mas aí chegou a tarde e o corpo voltou a ficar mole, lento, lerdo. E com frio.

Voltei para a casa e me enfiei nas cobertas, tomando a dose esperada de Naldecon e torcendo. Sábado – hoje – seria dia de longão. E nunca perdi um longão antes.

No dia seguinte, acordei sem despertador. A noite não foi exatamente tranquila – mas foi sem dúvidas melhor. A cabeça doía um pouco, parecendo pesada, e algumas levíssimas dores articulares se faziam presentes.

Hora de sair.

Sob os protestos da família, me transformei de doente em corredor e saí para os planejados 20K. Que poderiam se transformar em 15, se necessário fosse.

Comecei forte, abaixo dos 5min/km: queria provar ao corpo que quem mandava era a mente. Afinal, não é isso que sempre aprendemos nos treinos de ultra?

Até certo ponto, funcionou: a dor de cabeça sumiu, o nariz se descongestionou e o pulmão estava amando o passeio para fora do ar infecto do quarto. Estava no paraíso, feliz: mas por apenas 2km.

De repente, todas – todas – as articulações começaram a doer. Músculos se contraíram por conta própria, joelhos deram sinais de vida, tornozelos começaram a gritar!

De onde saíram tantas dores justamente na única parte que, em tese, deveria ter ficado isenta de problemas: os músculos? E com 2km – menos do que costumo usar como aquecimento!

Nos 2,5k, já me sentia como no final de uma ultra. Era pura dor.

Aparentemente, o corpo estava fazendo greve. E era melhor ouvir sob o risco de transformar teimosia em lesão.

Me arrastei até o marco dos 3k. Dei meia volta, desistindo do percurso original, e segui para casa. No caminho, a cabeça voltou a doer, tosses deram facadas no pulmão e as dores articulares pioraram. Até um pouco de câimbra senti.

A greve do corpo funcionou e a mente entendeu, se entregando.

Voltar esses míseros 3km foi uma das tarefas mais árduas que já fiz, tamanhas as dores. Mas voltei. Cheguei em casa. Desabei.

Agora, enquanto escrevo este post, todas as dores parecem ter evaporado por completo: músculos estão normais, pulmão a todo vapor, cabeça inteira. E isso porque só voltei há 20 minutos!

A pergunta que fica é: como é possível tantas alterações no corpo em tão pouco tempo? Se há uma explicação fisiológica – e provavelmente há – eu não sei.

Mas há uma lição que eu já deveveria ter aprendido faz tempo: correr longas distâncias não é fazer mente guerrear com corpo, mas sim buscar uma sintonia quase espiritual entre eles.

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