Diminuindo as distâncias para aumentar a velocidade

Meu treinador é adepto da troca de distância por velocidade durante treinos para ultras.

Não que a distância deva ser ignorada, obviamente: mas é a obsessão pelos quilômetros que acaba condicionando o corpo a aguentar tempo demais na rua por ritmos desnecessariamente lentos.

O problema, no meu caso, é que eu genuinamente gosto de passar tempo demais na rua. É o único momento realmente meu, de pleno egoísmo, que uso durante um cotidiano abarrotado de tarefas e responsabilidades. Por outro lado, é claro que, como qualquer corredor, também quero melhorar minhas marcas nas ruas e raspar alguns minutos dos meus recordes pessoais.

Se não fosse por isso eu estaria com outro treinador, aliás.

Mas e quando se começa lentamente, sorrateiramente e quase inconscientemente a desobedecer as planilhas? Aqui e ali, tenho me pegado inserindo uma voltinha a mais nesse percurso, uma ladeirinha a mais naquele, 20 minutinhos somados ao longão. Ao invés de ficar na casa dos 50-60km semanais, pulei para os 60-70km.

E ao invés de cortar tempo, fiquei meio congelado nos mesmos paces de sempre.

Ok: minha próxima ultra será apenas em abril, na Estrada Real – e os céus sabem o quanto tenho precisado desses quilômetros a mais no organismo.

Mas está na hora de ajustar um pouco o treino e ouvir mais o treinador.

Na terça, saí para uma primeira sessão conscientizado da necessidade de mudança: uma tempo run de 20 minutos a ritmo sub-5. Consegui completar a meta – mas às custas de uma dor significativa nas pernas. Além do esperado, inclusive.

Tradução: o corpo precisa se adaptar a um modelo de treino mais ágil e curto, mais intenso e menos extenso. Tudo bem: há tempo para isso.

Resta saber se há paciência para ser mais rápido.

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Subindo e descendo o Pico do Jaraguá

Hoje foi dia de brincar nos desníveis.

Logo que acordei, empolgado, voei para o Pico do Jaraguá para uma sessã com três subidas e descidas alternando entre a estrada e a Trilha do Pai Zé.

Preferi começar pela estrada, com seus quase 5km intermináveis – mas lindos – de pura subida serpenteando a montanha. Serviu para aquecer em uma manhã fria e com neblina encobrindo o pico.

Depois, a parte divertida: descer. Faz algum tempo que tomei as descidas como a parte mais deliciosa de qualquer treino, principalmente quando consigo ir rápido. Mérito do meu treinador que inseriu um negócio chamado de Kenyan Hills na minha planilha: algo como subir e descer morros como se o mundo estivesse prestes a acabar.

Chegando na base de volta, hora de pegar a trilha. Já tinha feito ela uma vez, mas é impressionante como intimidade vem rápido.

Subir em trilha, claro, é mais demorado do que na estrada – mas depois que se perde o medo dela tudo fica mais instigante. A pressa vem nas horas certas, a cautela chega nos momentos precisos, pernas e pulmões se alternam no cansaço. Até o topo.

De lá para baixo, tudo é diversão novamente, voando morro abaixo sem medo do solo. Aliás, medo é um negócio curioso: basta perdê-lo que nada de errado parece acontecer. Ao contrário: ele parece ser trocado por pura segurança nas pisadas. Perfeito.

O terceiro “round” foi uma alternância: subi pela estrada, para somar mais volume, e desci de novo pela trilha, para fechar com mais sorrisos.

E assim foi o dia, com perfeitos 1.300 metros de ganho altimétrico e um belo treino para os desafios que estão por vir!

Não é tão comum ir ao Pico do Jaraguá – mas certamente é algo muito esperado por ser, na minha opinião, um dos lugares mais perfeitos para se correr aqui em Sampa.

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O que nos faz perder velocidade: ultras ou não saber treinar?

Quando fiz a Maratona de Chicago, em outubro de 2013, meu treinamento girou quase todo em cima de velocidade – com intervalados de sobra e tempo runs até não poder mais. Foi cansativo e intenso – mas gerou o meu recorde pessoal de 3h38. Nada de espetacular, devo assumir, embora importante para mim.

Foi nessa época que, ao garantir tempo para a baia C da Comrades, comecei a treinar para a ultra. Matei os intervalados e fartleks e me concentrei apenas em morros e tempo runs. Depois, na medida em que o tempo na rua subia, acabei trocando as tempos por volume. Resultado: minha velocidade despencou.

Fiz Comrades dentro da minha meta de sub-11 mas senti que poderia ter me saído melhor.

Quando voltei para Sampa, voltei a dar mais atenção a velocidade. Um treino específico na planilha me “acordou”, por assim dizer: 1 hora em pace de maratona.

Bom… no meu caso, isso significava algo na casa dos 5’/km – pelo menos de acordo com o tempo de Chicago. Mas quem disse que consegui? Se muito, mantive esse ritmo por 10 minutos antes de quase engasgar na respiração!

A meta estava, portanto, definida. Não sabia em quanto tempo, mas definitivamente precisaria recuperar a velocidade que se perdeu nos treinos de ultra.

Já cheguei a comentar sobre isso no último post, mas o fato é que estou me esguelando em treinos duros, fortes. E não é que eles estão dando resultado mais rapidamente do que o imaginado?

Hoje saí para quatro tiros de 6 minutos (algo que beira uma tempo run). Como tenho prova no domingo, a ideia era não me matar e pegar mais leve.

Olhei para o relógio em um dos tiros: estava a 4’30″/km praticamente sem alterar a respiração! De alguma forma, talvez magicamente, alguma parcela da velocidade parece ter voltado às pernas mesmo com apenas um mês de treino intenso!

Nos tiros seguintes, a mesma constatação. Estava bem, inteiro e, ao menos pelos parâmetros pós-Comrades, veloz.

Por outro lado, meu volume semanal caiu para a casa dos 65km, ao menos por enquanto. Isso será um problema?

Dado que ainda restam 2 meses para o DUT, tudo aponta para um “não”. A princípio, tenho tempo para ganhar volume e essa recuperação de velocidade deve ser mantida em uma espécie de equilíbrio que não sacrifique nenhum dos dois elementos.

Sempre ouvi dizer que corredores de ultra são lentos por natureza. Mas talvez isso não seja exatamente verdade. Talvez seja apenas uma questão de saber dosar bem o treinamento, algo que realmente fica mais difícil na medida em que os quilômetros se alongam.

Difícil, no entanto, sempre esteve longe de ser impossível. Não é?

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