Adeus Forerunner, olá Fenix

Hora de atualizar o equipamento. 

Nada contra o Forerunner, mas estava na hora já de eu ter em mãos um relógio um pouco mais compatível com as minhas preferências de corrida – algo com uma bateria que dure mais que 5 horas, com um altímetro mais confiável e com possibilidades de gravar rotas em GPS para evitar que me perca como já ocorreu antes, lá na Argentina. 

Acabei de comprar o Fenix 2, que deve chegar amanhã em minhas mãos. 

Mal posso esperar para testá-lo nas trilhas (ou mesmo no quarteirão)! 

  

Maratona Bertioga-Maresias no caminho!

Enquanto a luz amarela continuava acesa, acabei pesquisando mais sobre meu treinamento até os 100K da Indomit Costa Esmeralda, no dia 7 de novembro. E olha o que encontrei: a Bertioga-Maresias, prova que sempre quis fazer e que, este ano, acontecerá em 17/10.

Em outras palavras: acontecerá no dia perfeito para o último longão pre-Indomit. E contará ainda com sol, trechos em areia e aquele clima de prova que sempre bate qualquer treinamento.

Serão 75km que pretendo fazer na categoria solo, pegando leve com o pace e buscando apenas um último treino. Depois, descanso e recuperação.

Com a inscrição já devidamente feita, é hora de passear pelo Youtube e curtir alguns dos vídeos de edições passadas para adrenalinar corpo e alma!

Programando o futuro

Como diz o ditado, “o que era doce, acabou-se”. Estou neste exato momento curtindo os primeiros sinais daquela típica depressão pós-viagem, em que a perspectiva de correr no (embora amado) Ibira posa como um contraste absoluto em relação às dunas e praias do Ceará. 

Mas, enfim, parte da graça de correr é poder justamente aproveitar o mundo de uma maneira solitária, intensa, egoista e, sobretudo, completa. Foi-se o Ceará, virão novas trilhas. 

A começar pela que está programada para o dia 7 de Novembro: meus primeiros 100K sob o solo hiper técnico e traiçoeiro de Santa Catarina, na Indomit UltraTrail Costa Esmeralda. Não minto que estou levemente aterrorizado com o prospecto de encarar aquelas trilhas novamente – minha primeira vez foi no Indomit Bombinhas, de 42K, que me tomaram mais de 6 horas. Mas, de lá para cá, muita coisa já aconteceu e amadureci bastante como corredor. Não que esteja pronto para encarar uma Marathon de Sables, claro – mas 100K não há de ser, espero, tão infernal assim. 

E a parte divertida começa agora, com a programação montada por mim mesmo. 

No começo, esta semana, pegarei leve: preciso livrar a musculatura das dores e recome;car o ciclo, embora os 100K com areia fofa que carrego da semana certamente serão uma bela base. 

Depois sigo com microciclos: duas semanas evolutivas com tiros e tempo runs seguidas de uma semana mais leve. Os longões estão até modestos: fora os 50K da semana de pico, já em meados de outubro, os outros variam entre 3 e 4 horas, mais ou menos. Procurarei fazê-los em trilhas diversas, seja na Serra do Japi, no Parque do Carmo ou em qualquer outro canto próximo a Sampa. 

É claro que, como toda boa programação, ajustes devem ser feitos. Mas é sempre bom ter uma base a partir de onde improvisar. 

Agora é foco puro. Em pouco mais de 3 meses terei completado meus primeiros 100K. 

   
    
   

O dia que faz tudo valer a pena

Às vezes, quando viramos uma esquina no meio de uma trilha ou erguemos a cabeça, nos deparamos com paisagens que dificilmente sairão da retina. São essas vezes, infelizmente menos comuns do que se costuma sonhar, que fazem corridas em locais pouco cotidianos valerem a pena.

Ontem foi um desses dias.

Acordei sozinho, sem despertador, por volta das 5:30 da manhã – e já saí do quarto bêbado com o cenário. Uma praia que beirava o infinito se estendia em minha frente, pontilhada apenas por jangadas cearenses espalhadas pelo areal e, lá no fundo, atrás de falésias vermelhas, um conjunto de torres eólicas.

Corri pela praia, que ostentava uma maré baixíssima que fazia o chão parecer um espelho ocre ilustrando o céu inatacavelmente azul. Fui por uns 6, 7km até chegar no Rio Jaguaribe e segui margeando-o. O cenário cedeu, ficando mais parecido com um mangue, e barcos ainda adormecidos pareciam ansiosos para carregar turistas para a outra margem, onde ficava Canoa Quebrada.

Ainda assim, segui até onde consegui: parei apenas quando um cachorro furioso decidiu avançar sobre mim, me fazendo entrar com tudo no rio, o que certamente gerou uma carga de adrenalina eletrizante. Continuei um pouco dentro do rio até sair do seu alcance e voltei para a areia. Estava na hora de mudar de rota.

Entrei à esquerda por uma ladeira invadindo um pequeno povoado, daqueles que mistura pobreza com o ar bucólico que apenas o nordeste guarda. Passei por uma igrejinha típica, de uma vila típica, com pessoas típicas varrendo o chão. Tudo era tão típico que parecia até cenário de novela. Não era.

Fui mais algum trecho por ela até decidir tomar uma trilha de areia fofa que parecia margear o oceano. Sob o calor já escaldante, aquele momento pertencia ao suor e ao ácido láctico que cismava em reclamar.

Pelo menos até que os arbustos subitamente ficaram menores e o horizonte inteiro se abriu.

Se abriu não: se impôs em forma de susto visual, roubando cada gota de concentração para si. Estava rodeado por campos secos, dunas, mar e céu azul, todos pontilhados apenas por um farol distante e grandes pedras vermelhas como o fogo. A paisagem era tão incrível que foi difícil até mesmo entendê-la: entre passos, ficava olhando atentamente a tudo e tentando gravar na memória cada átomo de pura beleza.

Tirei fotos, parei, respirei fundo. Corri de um lado para outro, tentando alcançar vistas mais belas como se fosse possível. E pior: era. A cada morro, uma nova cena se abria, intensa, forte.

Fiquei até aqueles segundos antes do cansaço.

A volta, já pela praia, poderia ter sido pelo asfalto de alguma periferia qualquer: estava com tudo aquilo tão gravado na memória que nada mais, nem o calor ou o sol, nem o mar, nem o cansaço e nem mesmo a perspectiva de repetir o percurso inteiro faria qualquer diferença. Minha retina estava irremediavelmente manchada pela beleza.

Foi uma das corridas mais incríveis da minha vida.

   
    
    
    
 

Replanejando (de novo)

Desta vez, no entanto, não é por nenhum problema mais dramático. Ao contrário: neste sábado farei uma espécie de “mudança temporária de CEP”. Me mudarei, ainda que por uma semana, para o litoral cearense. 

Poucos termos parecem mais apropriados, aliás, do que “mudança de CEP”: afinal, continuarei trabalhando normalmente, fazendo reuniões via Skype e tocando a vida como se a geografia fosse irrelevante. Do ponto de vista dos treinos, no entanto, haverá impactos. 

A minha ida será no sábado pela manhã, me fazendo chegar ao destino apenas a noite. O Ceará é mais longe de São Paulo do que costumamos supor. Minha volta será no sábado seguinte, também matando todo o dia. 

Resultado: perdi dois dias de longões. 

Há o lado positivo, claro: não se pode falar em “perda” quando se vai passar uma semana sob o sol nordestino. Pode-se falar em rearranjo. 

O primeiro já está em curso: esta semana teve treinamento na segunda, descanso na terça (até porque tive que fazer um bate-volta até Brasília, a trabalho) e ritmo puxado de hoje a sexta. Por puxado, entenda-se de corridas de 1h30 a tiros e intervalados. 

Meu próximo longão será no domingo, com 3 horas pelo litoral – embora esteja pensando em fazer um pequeno teste que possivelmente mude isso. 

E se, ao invés de deixar o longão para o final de semana, o fizer na sexta a noite? Alguns amigos meus o fazem como maneira de poupar o sábado para a família e nao nego que isso já passou pela minha cabeça algumas vezes. Claro: esse é um tipo de mudança que altera todo o estilo da corrida: mesmo que consiga sair do trabalho às 18, algo difícil, ficaria rodando por parques até as 21:00, já tarde. 

Ainda assim, talvez valha um teste – uma espécie de rereplanejamento. Veremos nos próximos dias. 

Mais mudanças, claro, virão na semana que vem. Estarei no Pontal do Maceió, com possibilidade de correr na areia da praia e sob o sol escaldante, perfeito para sessões diferentes de treino. 

Espremerei 4 dias de treino no período, incluindo um longão na sexta de 3 horas. Nesse aspecto, aliás, estou na mais pura empolgação: mudanças de cenário, principalmente as mais drásticas, são sempre bem vindas.

E, no final das contas, tudo isso servirá também de teste, de experiência para ver como corpo e mente se adaptam a rotinas diferentes. 

  

Checkpoint: Sobre mochilas de hidratação, centro de gravidade e biomecânica

Nada melhor que um giro de desbravamento por alguma cidade, praia ou montanha para estabilizar corpo e mente. E por estabilizar, neste sentido, entenda-se esfriar a cabeça, aquecer o peito e deixar o corpo em estado mais sólido. 

Ainda não estou 100% daquela dor no joelho direito – mas agora já posso chamá-la de um leve incômodo que desaparece na medida em que passos são dados na rua. Principalmente, aliás, quando estou sem a mochila de hidratação. 

Li em algum lugar que mochilas tem esse lado negativo, de forçar uma espécie de quebra na biomecânica e atrapalhar o delicadíssimo equilíbrio que se traduz em um centro de gravidade claro. Confirmei isso ontem, depois da (inspiradora) corrida pela Mooca e centro de São Paulo. No total, fiz apenas o equivalente a uma meia maratona – mas pausas para fotos e para checagem do mapa fizeram o tempo se estender por cerca de 3 horas. Resultado: no período da tarde, quando o corpo já estava frio e livre de qualquer resíduo de ácido láctico, o tal incômodo (que não dava as caras faz dias) voltou a me visitar.

Pensei bastante antes de correr hoje…. mas o dia estava tão azul, tão convidativo, que fui guiado quase que espiritualmente até o tênis. Para a minha surpresa, não senti nem vestígio de dor. Foi o suficiente para me levar à conclusão relacionada ao uso da mochila. 

Bom… mas essa conclusão, verdade seja dita, não me serve de nada: em longos percursos, usá-la é algo simplesmente obrigatório. Terei apenas que redobrar a atenção quando o fizer, garantindo que ela meio que seja parte integrante do corpo, por assim dizer. 

Correndo e aprendendo :-)

   
 

Vibram FiveFingers e postura

Postura. Biomecânica. Atenção.

Repeti essas palavras como um mantra ontem cedo quando saí para correr, ainda com uma preocupação leve quanto ao joelho direito.

Tinha um aliado: o Vibram FiveFingers. 

Não sou muito partidário dos que crêem em poderes mágicos de tênis ou qualquer outro acessório. Esse negócio de estrutura, pronagem, drops altos… nada disso nunca fez muito sentido para mim. Quer correr bem, fluindo pelas trilhas e asfaltos sem perigo de lesões sérias? Concentre-se na forma de correr, na biomecânica, na postura. Em tocar o chão com o peito do pé, bem abaixo do seu centro de gravidade, em usar os braços como equilíbrio e aceleradores naturais, em dar passadas pequenas em uma cadência em torno dos 180/ minuto. 

E tudo isso é muito, muito mais fácil do que queimar dinheiro e preocupação apostando em salvações que venham da indústria ao invés do corpo.

Ok… mas por que, então, o Vibram é um bom aliado? Justamente pela falta total de estrutura. O tênis é tão leve, tão sem amortecimento ou nada que mais parece uma meia endurecida apenas na sola. Resultado: ou se corre corretamente com ele ou a dor de cada pisada se torna insustentável. É um tênis que te força a correr como se estivesse descalço, por assim dizer.

Foi um excelente “remédio”. Fechei a hora em um tempo leve, dentro dos planos, e sem sinal algum de dor. 

Cautela ainda se faz necessária pela recência dessa “mini-lesão” – mas o caminho parece estar liberadíssimo para a volta à rotina.

  

Correr não é sofrer

Para quê?” costuma ser a primeira frase que qualquer corredor – principalmente quem curte ultras – ouve de não corredores. O raciocínio que a embasa é simples: “correr é sofrer”. Ou seja: se para manter um estilo de vida saudável a la comercial de margarina basta fazer uns 5km de vez em quando, para quê sair por horas a fio, cruzando a cidade e atravessando montanhas? 

Uma coisa posso afirmar: certamente não é por saúde. Correr ultras pode ser tudo, afinal – menos saudável. Claro: continua sendo melhor do que viver em um regime de engorda a base de feijoada e pão – mas isso não significa que seja um estilo de vida “cientificamente eficaz”, por assim dizer. 

Em ultras se maltrata as articulações, se exagera no uso dos rins, se testa a capacidade do estômago, se abusa do poder de concentração da mente. E quer saber? Basta ir a uma prova qualquer que rapidamente se verifica um excesso de corredores acima do peso, fruto daquela indulgência turbinada pós longões que praticamente elimina o auto-controle corporal na mesma velocidade em que pizzas e bolos são deglutidos garganta adentro.

Bom… se não é por saúde, então, por que correr tanto? 

O difícil de dar esta resposta é porque ela não cabe, ao menos não com perfeição, em palavras. Mas é só olhar uma foto como essa, abaixo, e entender que ela vai além do cenário e inclui estado de espírito, de “completude”, de oxigênio, de vida. Corre-se tanto para poder testemunhar e sentir esse tipo de coisa. 

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