2015 vs. 2014: Comparando 2 anos de treinos e resultados

Fiquei encafifado com o post de ontem, quando efetivamente analisei meu pace médio e comecei a ver que uma tendência de lentidão que começou a (finalmente) ser interrompida.

Aí me lembrei que registrei cada semana também do meu treinamento para a Comrades 2014, base no mínimo interessante para um comparativo.

Ei-lo nos gráficos abaixo, que consideram a semana 1 (S1) como a primeira de novembro do ano anterior ao de análise:

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O primeiro gráfico é o de volumetria – e já deixa uma informação preciosa: nas últimas 14 semanas, apenas 2 tiveram menos rodagem que em 2014: a que incluiu a ultra de 50K e a da semana imediatamente posterior, que dediquei a recuperação.

O outro gráfico, de pace médio, reforça os efeitos disso: tirando os dois picos de lentidão nas semanas que incluíram a viagem recheada de trilhas por montanhas nos Andes e os 50K da ultra de aventura na Serra do Mar.

Uma olhar mais superficial já enxergaria uma clara relação entre rodar mais e acelerar menos. No entanto, há algo mais aí.

A rodagem realmente aumentou, mas nada que tenha sido exagerado ou mesmo fora de um natural ganho de experiência. O que aconteceu mesmo foi redução de velocidade por conta da transição para trilhas. Ou seja: na medida em que terrenos vão ficando mais técnicos e subidas, mais íngremes, realmente se cria uma espécie de zona de conforto em que se aceita melhor uma menor agilidade. Natural.

Natural, no entanto, não significa correto. Aliás, análises assim são perfeitas para se ajustar o treino.

Meu objetivo agora: voltar a paces médios sub-6′ mantendo (ou pelo menos reduzindo apenas minimamente) a volumetria.

Checkpoint: Evolução nítida com uma pitada de medo

Fazia tempo que eu não batia 85km em uma semana de treino. Aliás, a última vez foi no meio de setembro do ano passado, na semana em que fiz a Douro Ultra Trail em Portugal.

Para completar, meus tempos estão melhores. Aliás, fazia algumas semanas que não atualizava meu gráfico de pace médio e vê-lo hoje me surpreendeu:

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Não tinha me ligado que, aos poucos, estava efetivamente me tornando mais e mais lento em um processo que vinha desde outubro, depois da Maratona de São Paulo. Foi como se um botão tivesse simplesmente sido desligado em mim: diminuí ritmo e rodagem ao mesmo tempo. Gráficos sempre permitem boas conclusões.

Enfim, estava na hora de mudar – e já faz duas semanas que decidi me sincronizar melhor com meu treino e aumentar a intensidade geral. A parte boa é que, ao menos de acordo com os dados, está funcionando:

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Se tudo está indo bem, então, de onde vem o “medo” que entrou no título do post?

Bom… a dor nas costas que havia desaparecido desde os 50K na Serra do Mar voltou. E voltou subitamente, depois de um treino quase perfeito durante a semana. Suas características são idênticas: ela some durante corridas mas incomoda em momentos que o corpo está mais frio e descansado, praticamente soletrando a palavra “hérnia”. E, nos 21K de hoje, um incômodo esquisito no joelho direito – lado oposto do da dor na coluna – apareceu.

Não costumo ter dores no joelho – o próprio conceito é meio alienígena para mim, o que me fez acender uma luz amarela. Minha conclusão imediata: o corpo está tentando compensar a dor no lado esquerdo colocando mais peso no direito, quebrando a biomecânica de maneira imperceptível durante os treinos mas nítida depois.

Preciso ficar de olho nisso – além de parar de empurrar com a barriga e efetivamente fazer exames na coluna.

Enquanto isso, aproveitar bem o dia de descanso amanhã certamente me fará bem!

Comrades 2015: passagens compradas e reservas feitas!

Pronto.

Agora não tem mais volta.

Primeira parcela devidamente paga, garantindo os vôos e hospedagens na costa leste africana.

Chego em Durban no dia 28 de maio, com 2 dias para me ambientar. De lá, vou (naturalmente) correndo até Pietermaritzburg no dia 31.

Durmo no interior, recuperando as energias de peito estufado com a medalha back-to-back reluzindo.

Volto no dia 1 para Durban, onde passo a noite.

E volto para São Paulo no dia 2 pela manhã.

Cruzar a linha de chegada em qualquer ultra é sempre uma incógnita, por mais que se esteja preparado – mas a linha de largada, pelo menos, está já garantida.

Shosholoza!

O sábado que fecha um capítulo (e abre outro)

Faz tempo que não descanso em um sábado. Normalmente não curto isso: é um dia inteiro que considero perdido não apenas sob o aspecto do treino, mas (talvez principalmente) pelo bem que ele me faz ao proporcionar horas perdido nos próprios pensamentos e por caminhos diferentes da cidade.

Mas hoje, verdade seja dita, a realidade é outra.

Hoje estou encarando esse descanso mais como uma espécie de marco de diferentes fases de treino. Quando se coloca uma quebra mais brusca, mais radical, na rotina, se informa também ao corpo que algo está prestes a mudar – e essa informação acaba sendo vital para que ele se prepare melhor.

Hoje é como aquele momento de plena calma antes de alguma tempestade, com aqueles instantes mais elétricos em que tudo está prestes a acontecer – mas nada efetivamente acontece.

Hoje é o dia que marca o fim de um capítulo e o início de um outro, mais voltado para ganho de velocidade sem perda de endurance. Há duas ultras pela frente, afinal, e ambas ainda no primeiro semestre.

Hoje é hora de dizer ao corpo e à mente que está na hora dos dois ficarem mais sérios.

Começando por amanhã.

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A nova fase de preparação

Janeiro está sendo fechado para mim com alguma dose de orgulho (por ter concluído os pantanosos 50K no sábado) e autoconhecimento (por ter esclarecido que esse tipo de corrida não é para mim).

Às vezes apenas ter algumas coisas no currículo já são o suficiente.

Agora, no entanto, começa uma nova fase. Entre abril e junho tenho duas ultras – a Estrada Real e a Comrades – ambas com suas próprias peculiaridades. A Estrada Real será majoritariamente percorrida em trilhas, entre amigos e sem nenhum tipo de organização oficial.

A Comrades é, provavelmente, a ultra mais organizada do mundo, corrida em asfalto e com multidões torcendo pelos 87km do percurso de up-run.

A semelhança entre as duas? Ambas são relativamente velozes, o que significa que todo o meu treino agora deve se focar nisso.

Costumo fazer uma semana mais light depois de provas mais duras e essa não está sendo diferente: recomecei a correr apenas na quarta e o longão tradicional de sábado foi cancelado (embora o motivo tenha sido mais profissional do que pessoal).

Mas, ainda assim, o norte para os treinos já ficaram claros: desde a quarta tenho aumentado o ritmo sensivelmente. Mesmo em intervalados, como os que fiz ontem, a parte “light” foi quase toda acima da zona de regeneração, forçando um pouco o corpo. Coloquei uma imagem da análise de pace, feita pelo Strava, abaixo.

Hoje, não tenho problemas em passar horas e mais horas nas trilhas: a mente segura bem e o organismo resiste sem problemas. Mas, claro, ser mais rápido ajuda em uma recuperação melhor. E velocidade, sendo sincero, era algo que eu estava me dedicando menos do que deveria.

De agora até as próximas provas, portanto, que venha a intensidade!

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Para quem quiser viver (ou reviver) a Comrades 2014…

Comrades está chegando.

Tenho postado alguns vídeos e conteúdos por aqui que, a cada vez que vejo, geram aquela mescla de expectativa com ansiedade e emoção. Quem participou de alguma edição dela sabe exatamente do que estou falando; quem quer participar, por sua vez, já fica com vontade de pular diretamente para o site da prova e confirmar a inscrição.

Em um dos últimos posts, o Eduardo Neves comentou colocando o link para um vídeo-cobertura que ele fez. Curiosamente, apesar de não nos conhecermos, nós dois corremos juntos durante quase todo o percurso – o que significa que ver a filmagem dele é como reviver cada passo que eu mesmo dei no caminho de Pietermaritzburg a Durban.

Compartilhando abaixo:

Por que correr a Comrades?

Se me perguntassem isso, eu provavelmente teria dificuldade em enumerar os tantos motivos para se entregar à Rainha das Ultras. Não foi à toa, aliás, que criei todo um blog só para isso, o Rumo a Comrades, com centenas de posts ao longo do meu treinamento na semana passada.

Esse ano devo ir de novo e já está na hora de começar a aquecer os motores com conteúdo e vídeo, mesmo considerando que ainda tenho uma ultra nesse final de semana e, claro, a Ultra Estrada Real em abril.

Voltando ao cerne da questão, fizeram essa mesma pergunta para Bart Yasso, um dos editores da Runner’s World Americana, que já percorreu todo o mundo em busca de “aventuras para as pernas”, por assim dizer.

Sabe a resposta dele?

Veja no vídeo abaixo:

Checkpoint: 50K de aventura adicionados ao currículo

Terminar uma ultra sempre dá uma sensação incrível de realização. Não importa tempo ou mesmo condições: importa apenas que ela foi devidamente vencida, gerando medalhas adicionais para as pernas e a mente.

Essa última, então, foi quase épica para mim: estava com noite virada, dores nas costas e nem imaginava que se tratava de uma corrida de aventura até me deparar com um rio a ser atravessado já nos primeiros quilômetros. A partir daí charques, mais rios, subidas e descidas íngremes e muita, muita lama apenas somaram a uma lista de obstáculos não imaginados.

Hoje, passado o primeiro dia, as dores finalmente começam a ceder (exceto pela unha de um dos dedos que, aparentemente, não quer mais ficar nele). Já estou andando normalmente e até encararia uma corridinha leve no final da tarde para abrir uma nova temporada. Mas evitarei: apesar de ter aguentado bem, principalmente por conta da (sábia) troca de um treino por uma massagem na quarta, preciso dar mais algum descanso à coluna.

Semana que vem ainda pegarei um pouco mais leve e, a partir de então, está na hora de focar os treinos na Ultra Estrada Real e em Comrades. Por essas, preciso começar a acrescentar mais velocidade aos longões, que tenho dedicado principalmente a corridas em ritmo baixo entrecortadas por pausas para fotos. De alguma maneira terei que conciliar as duas coisas, pois não quero abrir mão de nenhuma.

Mas, enfim, a estratégia para isso fica para a semana que vem. Por enquanto é hora de deixar o orgulho de ter finalizado a Serra do Mar dominar o restante do domingo!

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Mudança geral

Algo acontece em nossa mente quando passamos por situações difíceis ou depois de superarmos desafios cuja intensidade, vista pelo retrovisor, parece verdadeiramente insana. É como se toda uma jornada realmente parecesse ter chegado ao seu fim, forçando um novo foco e uma pergunta muito pouco reconfortante: “e agora?”.

Levei um tempo para entender isso, mas acho que cheguei nesse ponto agora. Não que tenha realizado nenhum feito digno de capa de revista, claro – mas cada um de nós tem os seus próprios limites, determinando as medidas reais de qualquer tipo de autosuperação.

Pois bem.

Me inscrevi na Maratona de SP com o único objetivo de me qualificar para Comrades.

Me qualifiquei, embora a duras penas pelas condições sobrehumanas da prova e, com isso, cheguei ao final da minha temporada de 2014. Sem provas no curto prazo para desviar um pouco o foco de um ano de dificuldades colossais no trabalho, acabei desmoronando.

E agora?

De repente, caí vítima de overtraining e exaustão, perdi a motivação de correr por um tempo, fiquei gripado duas vezes em duas semanas e vi a minha perfomance praticamente evaporar.

Aos poucos, fui me recuperando.

Com um passo de cada vez, ouvindo mais o corpo, cedendo quando sentia a necessidade de ceder e forçando quando sentia que precisava de uma chacoalhada.

Nesse período, decidi montar a minha própria ultra pela Estrada Real em um futuro ainda indefinido. Uma forma diferente de encarar as trilhas, com um aspecto muito mais aventureiro do que o normal.

Me peguei por diversas vezes fuçando percursos novos nas proximidades pela Web e pesquisando trilhas por lugares menos conhecidos.

E agora? Não sabia a resposta – mas sabia que mais do mesmo não resolveria nada.

O desconhecido, aliás, passou a me encantar muito mais que o normal. E agora?

O asfalto perdeu a graça.

O parque ficou monótono.

O cotidiano ficou enfadonho.

Até meus equipamentos mudaram: o relógio Adidas MiCoach deu o seu suspiro final e eu troquei por um Garmin; criei uma conta no Strava para me localizar e me entender melhor; comprei um tênis Salomon S-Lab Ultra para me agarrar melhor às trilhas distantes de São Paulo.

Comrades? Por mais apaixonante que essa prova seja – e por mais que ela tenha mudado a minha vida sob vários aspectos – devo confessar que estou perdendo a motivação de voltar. Afinal… voltar para que, se já conheço o local e se há tantos lugares incríveis no mundo a se desbravar?

Mas ainda não me decidi sobre isso. Esse é um ponto que deve ser encarado sem pressa. Com calma.

Quando estiver inteiro novamente, o que ainda não é o caso.

Por hora, estou me concentrando em dois próximos passos: o Plano Estrada Real e alguma trilha insana lá perto de Villa Angostura (Argentina), onde passarei o ano novo. Já imaginou quantas coisas incríveis existem por lá?

Talvez as respostas estejam nas montanhas ao sul; talvez nas minas abandonadas e cachoeiras ao oeste; talvez no puro ato de desbravar o desconhecido com a calma e o sangue frio com que se costuma correr ultras.

Esteja essa resposta onde estiver, uma coisa é clara: sairei dessa fase de exaustão bem diferente do que entrei.

Que bom. Mudanças, afinal, sempre são boas.

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Day off

Hoje o despertador tocou cedo, já apontando para o tênis e as roupas organizadas na noite anterior.

Desliguei.

O começo da manhã trouxe, de surpresa, uma espécie de exaustão acumulada que eu nem sabia que tinha.

Ontem mesmo já fui dormir com fortes dores de cabeça, possivelmente resultado de ter assado sob os 36 graus na Maratona de SP. A cabeça até amanheceu boa – mas o restante do corpo, não.

Entre a Comrades e Indomit Bombinhas, minha primeira prova longa em trilha, foram 2 meses; entre a Indomit e a Douro Ultra Trail, 1 mês; e entre a DUT e a Maratona de SP, outros 30 dias. O cansaço acumulou.

Estou sem dores, sem nada que sequer lembre uma lesão e, a bem da verdade, fisicamente inteiro para qualquer tipo de rodagem.

Mas, ainda assim, apareceu uma espécie de sensação de esmagamento de nervos, de exaustão sólida que me impediu de levantar.

Obedeci o instinto. Sair, hoje, definitivamente não me faria bem.

Quem sabe amanhã?

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