Green Number na Comrades?

Eu participo de um grupo no Whats com os corredores que vão para Comrades. Participo desde o começo, aliás, em grande parte por conta do www.rumoacomrades.com, que inaugurou toda a minha jornada tanto pelo mundo das ultras quanto pela blogosfera como um todo.

Quando cruzei a linha de chegada em Pietermaritzburg no ano passado, recebendo a medalha back-to-back, fiz um último post lá no blog dizendo que aquela seria a minha última Comrades. Fazia sentido: já havia percorrido os dois sentidos, vivenciado a experiência da prova e estava pronto para novos desafios. Fazer mais 8 edições até conquistar o Green Number era algo que não fazia sentido para mim.

Até que o calendário correu e comecei a ver tantos amigos animados e cozinhando as suas ansiedades para ir à África.

Aí bateu saudade do Shosholoza, do clima de Durban, daquele país inacreditável que é a África do Sul, da profusão de idiomas que cortam os ares, das tradições, do oceano Índico.

Aí entendi a mágica por trás do Green Number.

Já não sei mais se deixei a minha última Comrades em 2015.

Talvez já esteja tarde para 2016 mas, a essa altura, confesso que o prospecto de eu me organizar para correr atrás do Green Number é grande. Muito grande.

cool-cropped-it-will-define-you

A domesticação do sono

De vez em quando acabo me pegando com o despertador.

Não costumo ter muitos problemas com horário, mas há dias em que levantar cedo parece uma tarefa impossível. Pelo menos até que aprendi a domesticar o sono.

É assim que estou considerando esse “momento Eureka” que, aparentemente, tive nas últimas semanas. Por algum motivo esquisito qualquer – e sobre o qual não tenho absolutamente nenhum embasamento científico – meu sono parece funcionar por ciclos.

Esses ciclos se abrem de maneira natural: é bem provável que, mesmo sem ter consciência, eu começo efetivamente a dormir em horários parecidos todos os dias. E digo provável porque ninguém sabe, ao certo, em que instante se despede da consciência e mergulha nos sonhos.

Pelos meus cálculos, meu sono tem ciclos de 45 minutos. Isso não significa que durmo apenas 45 minutos, claro – mas que acabo emendando um ciclo no outro, sendo que a janela perfeita para acordar é no instante em que um ciclo termina e outro está prestes a iniciar.

Sendo prático: 5 da manhã é um horário perfeito para eu acordar: por mais cedo e escuro que esteja, eu levanto inteiro, descansado e pronto para o dia. Se o despertador tocar 5:30, tudo muda de figura: levanto com aquela sensação de ter sido arrancado do sono e estapeado pelo zumbido infernal do dia que insiste em começar.

Mas some mais 15 minutos ao despertador, fazendo-o soar às 5:45, e consigo acordar novamente perfeito.

A mesma coisa acontece se ele tocar às 6:30 ou 7:15.

Eu sei: isso parece pura loucura. Possivelmente até seja, acrescento com um pouco de medo da própria mente.

Só que é uma loucura que tem funcionado miraculosamente bem, me levando à conclusão que, sem querer, eu talvez tenha realmente conseguido domesticar o sono!

wake-up-happy

Considerações sobre o modelo de treino para correr os 140km do Caminhos de Rosa

Essa será, provavelmente, a semana mais light que já tive em muito tempo.

Faz parte de um modelo novo de treinamento que estou testando para o Caminhos de Rosa. Verdade seja dita, estou adaptando esse modelo tanto de um outro post que li há algum tempo quanto de dicas da Zilma Rodrigues, uma das mais experientes ultramaratonistas que conheço.

A diferença do que vinha fazendo antes – de certa forma, afinal, esse modelo já fazia parte do meu ritmo cotidiano – é que agora estou realmente levando a sério.

Ele prega 3 semanas com volumes altos, praticamente estáveis e “no talo”, seguidas por uma semana de descanso. Não exagero quando falo da radicalidade da volumetria, diga-se de passagem. Por exemplo:

Essa próxima semana é de descanso. No total, terei 4 corridas a fazer: duas de 1h10 (terça e quarta) e 2 de 1h30 (sábado e domingo). É quase que metade do que fiz nesta última semana.

As próximas 3, no entanto, serão diferentes: todas terão 3 corridas de 1h10 em dias úteis mais uma de 4h no sábado e outra de 2h no domingo. Total: 9h30, provavelmente encostando na casa dos 90km rodados por 3 semanas seguidas. A semana depois disso? Uma redução para 6h40 divididas em 5 sessões leves.

E, assim, vou recuperando as energias nas semanas leves e forçando o volume nas altas.

Não há muita preocupação aqui com alta intensidade, embora eu esteja acrescentando mais velocidade nas corridas feitas em dias úteis. A ideia não é essa: uma prova de 140km sob o sol do sertão será percorrida muito mais com resistência do que com explosão. É também por isso que essas 3 semanas pesadas e seguidas servem: para acostumar o corpo a correr mais cansado, forçando um pouco mais os próprios limites.

Uma coisa digo: chegar na semana leve é também uma espécie de meta muito bem vinda. Chegar no portão de casa depois dos últimos passos do domingo foi quase como cruzar uma linha de chegada de uma prova real! Isso também entra na conta: achar motivação ao longo do caminho é sempre fundamental em uma jornada dessas.

Agora é seguir adiante. Por enquanto, estou bem contente com esse modelo, embora ainda seja cedo para falar de resultados práticos.

Screen Shot 2016-04-18 at 11.09.32 AM

Checkpoint: Cruzando a linha dos 90

Não foi uma semana exatamente fácil: a semana da Indomit São Paulo foi, do ponto de vista de planilha de treino, o oposto do tradicional: ela abriu caminho não para um descanso, mas sim para uma escalada no volume. Ou seja: ao invés de tirar o pé na semana seguinte, acabei somando mais 10km no volume total, que recebeu outros 10km nessa última semana. 

Faz parte do modelo de treino que estou utilizando para os 140K e que falo mais amanhã. Ainda assim, não preciso dizer que terminei o domingo muito, mas muito cansado por tanto acúmulo. 

Pelo menos o dia ontem foi fechada com uma versão política de uma final de campeonato e que acabou eliminando qualquer tipo de dor que ocupava a mente por conta das expectativas e comemorações – mas isso é papo para outro blog :-) 

   
 

Oi Suunto

Adeus, Garmin. 

Ninguém pode me acusar de não ter tentado. 

Tentei com o Forerunner 620, que quebrou e me fez passar por um kafkiano processo de assistência técnica. 

Insisti e comprei o Fenix 2 por conta da bateria e tive o mesmo problema. Foram esperneadas no suporte, súplicas via Facebook, gritos via ReclameAqui até ter um novo relógio entregue. 

Durou uma prova e cerca de 2 meses e o mesmo defeito decidiu aparecer. 

Chega. 

Comprei um Ambit3 na esperança de ser um casamento mais duradouro. 

  

E vamos às maratonas!

Tenho uma relação esquisita com a Maratona de São Paulo. 
Foi minha primeira maratona, lá em 2012. Estava com febre, nariz entupido, dor de cabeça e nenhum preparo físico para encarar o que acabou sendo 5 horas da mais pura tortura. A baixa de energia foi tamanha que nem consegui comemorar direito: por vezes me pego considerando a Maratona do Rio, feita poucos meses depois, como a minha primeira. Do ponto de vista de aproveitamento, pelo menos, a orla carioca certamente foi melhor do que o asfalto paulistano. 

Depois disso acabei participando de mais algumas edições. Nunca fui tão apaixonado pela prova – e por motivos que considero justos. A organização da Yescom é sofrível, a largada é tumultuada até o extremo e o público apoiando é praticamente nulo. Mas nada é pior do que o percurso: em uma cidade com tantos atrativos históricos quanto São Paulo, enfiar milhares de corredores na cotidiana e tediosa USP de sempre e evitar trechos como a Paulista é algo que simplesmente não me entra na cabeça. É como se o evento fosse feito só para constar ao invés de ser encarado como um atrativo de potencial turístico como tem as maratonas de Nova York ou Chicago. 
Mas, enfim, é o que se apresenta. É a oportunidade de correr 42km em um percurso demarcado, com hidratação e em pleno domingo. 
Nesse ano, serão duas oportunidades: a de abril, tradicional no calendário, e a Golden Run, entre o primeiro e segundo semestre, que tende a ser mais organizada. 
Me inscrevi em ambas. 
Como tenho um casamento no feriado de abril, ainda não estou certo de conseguir chegar a tempo na primeira maratona – mas tentarei. No mínimo será uma oportunidade de ouro para eu reencontrar meus amigos de Comrades que provavelmente estarão fazendo seus últimos longões antes de embarcar para Durban. 
A maior esquisitisse da relação com a prova? Ela é, provavelmente, a que menos gosto de todo o calendário de corridas – mas a que mais participo!
  

Checkpoint: Business as usual

Às vezes, a sensação de realização vem de onde menos se espera. 

Voltei de São Bento do Sapucaí feliz pelos 50Kms na majestosa Serra da Mantiqueira, mas com o corpo mastigado pelas pouco mais de 10 horas de trajeto. Se a ideia era encarar a prova como um treino, então a semana posterior – esta – deveria ser uma espécie de volta ao normal, com um tempo de recuperação muscular mínimo. 

E foi exatamente isso que aconteceu. 

No final das contas, o domingo acabou fechado com 80km rodados, incluindo três longões de 20, 31 e 17, respectivamente, e praticamente emendados. Cansaço? Claro: mas dentro dos limites do esperado.

O pace, ainda mais lento que pretendo que fique em mais algumas semanas, já se acelerou um pouco; a motivação veio a toda. 

Ainda falta muito tempo para o Caminhos de Rosa, é fato. Mas o treino parece estar já muito bem engatado. E foi daí que a sensação de realização apareceu: nenhuma relação com prova, medalha o tempo de conclusão de nada, mas sim com uma transição absolutamente fluida, perfeita, para o estado normal de treino pesado. 

   
 

Business as usual

Indomit SP já está no passado. Apesar dos aprendizados, com uma boa notícia colhida ontem: no final das contas, mesmo tendo estourado o tempo em 11 minutos, a organização me considerou concluinte e acabei ganhando os três pontos para Mont Blanc – ufa! 

Agora é seguir viagem – ou melhor, seguir no treino rumo aos sertões em agosto. 

E não dei muito sossego para o corpo essa semana. Sim, as dores no corpo que permaneciam me geraram a prudência de evitar os 10K previstos para a terça – mas, como acabei me sentindo zerado no dia seguinte, encaixei 10 a mais ao longo da semana. E hoje, pressionado por um compromisso às 10, levantei às 5 para rodar 30K.

Não tenho problema de acordar às 5 – até gosto, por incrível que pareça. A cidade fica vazia, o silêncio impera e todos os caminhos parecem mais abertos. O problema é a escuridão – demais para ir correndo atravessar a Marginal ou perambular pelo centro que, sem a luz do sol, fica tomado por zumbis. 

Conclusão? Fui pro Ibirapuera! 4 voltas grandes pela trilha somada à ida e volta faziam o tempo perfeito. Só que faziam, também, uma espécie de tédio perfeito. 

Como conseguirei rodar provas de 6 ou 12 horas em pista, uma de minhas metas futuras, não tenho ideia: mas a última volta foi percorrida com direito a xingamentos e a uma quase – quaaaaaaase – desistência. 

Treinamento para a alma, talvez? Se for, que bom que acabou concluído. 

Amanhã tem mais. 

Ou, como se diz no jargão corporativo, “business as usual”. 

(Que bom que, nesse caso, isso significa testemunhar cenas como essas abaixo):

   
 

A lição do menosprezo

Eis uma lição que aprendi na Indomit São Bento do Sapucaí: menosprezar provas faz mal. 

Quando me inscrevi, a ideia era apenas ter uma espécie de treino de luxo, uma etapa relativamente simples no caminho até os 140km dos sertões mineiros em agosto. 

A semana que me levou até os 50K não teve nenhum milímetro de diminuição de ritmo ou volume – foi uma semana normal, por assim dizer. 

Ignorei a altimetria acumulada de 3,450m: o máximo de subida que treinei ficou no Cruce, lá no distante mês de fevereiro. 

Quando cheguei em São Bento não sabia direito sequer o horário da largada de tão despreparado que estava. O resultado foi óbvio: penei muito mais do que deveria ter penado. 

Cheguei até o final, é verdade: mas certamente poderia ter feito o mesmo em um estado menos cadavérico. 

Prova é prova – mesmo que seja parte de um treinamento. E uma prova da Indomit carrega no sobrenome a certeza de desafios que estão longe de serem meras brincadeiras. 

O que dizer agora? Lição aprendida!