Checkpoint: Semana de recarga

Pronto. 

A partir da semana que vem, começa uma nova fase de intensidade. Serão aproximadamente 45K em 3 dias úteis + uma maratona no sábado e pouco menos de uma meia no domingo. Devo bater os 100K e segurar a rotina por 3 semanas – algo que, vale ressaltar, não consegui fazer no último ciclo. Vamos para uma nova tentativa. 

Para a semana que passou, os cerca de 60K rodados foram um descanso bem vindo, embora as coxas estejam levemente doloridas por conta dos dois ‘bate-volta’ no Pico do Jaraguá ontem. Ainda assim, valeu a pena: não é toda semana que tenho uma programação que se encaixe perfeito no maravilhoso pico: menos acaba não compensando, mais pode ser excessivamente pesado. 

Além disso, o tempo fechado e frio de ontem acabou me deixando inteiramente só naquela paisagem deslumbrante, o que sempre transforma a corrida em uma experiência muito mais espiritual do que física. Experiências espirituais valem mais: limpam mente e peito e deixam aquela sensação residual de bem estar correndo pelas veias por horas ou mesmo dias a fio. 

Agora é reforçar a concentração e, na terça cedo, largar para o começo de um novo ciclo. 

  

No teto de São Paulo

Cruzei o portão de acesso do Pico do Jaraguá às 7:10, 10 minutos depois dele abrir: gosto de começar a correr cedo, antes do dia acordar. 

Normalmente, uma pequena fila de carros já está formada a essa hora, com corredores e ciclistas se preparando para enfrentar a subida. Hoje, não.

O frio intenso, a garoa fina e a neblina espantaram praticamente todos. Quase todos: eu, afinal, estava lá.

E amei.

Sem música nenhuma nos ouvidos além do som dos ventos soprando a mata, fui serpenteando a estrada pico acima, desviando das árvores derrubadas pela tempestade da noite anterior e respirando o ar puro, úmido, típico de montanha. 

Fui lento, leve, constante. A cada curva cênica, uma conclusão qualquer sobre um pensamento também qualquer, aleatório, que se instaurava na cabeça. Estava tão só naquela montanha fria, belíssima, que me sentia correndo dentro de um sonho. 

Na medida que subia, o frio apertava. O verde intenso das encostas começou a ceder, sendo coberto por uma película de nuvens que, a cada metro, se engrossava. Em mais alguns quilômetros tudo era branco: enxergar qualquer coisa que não poucos metros de asfalto no chão se tornara impossível. 

Perfeito: não enxergar nada, às vezes, nos faz entender tudo muito melhor. Quando cheguei no alto, no pico, estava dentro de uma nuvem gelada sendo soprado por solitários cordões de vento, uivantes, de uma calma quase monástica. Era hora de descer.

Caminho oposto, sob todos os aspectos. Voei ladeira abaixo, a pace queniano, como se estivesse sendo perseguido por um urso polar. A cada passo, o branco foi cedendo e o verde, gritando. O frio foi cedendo espaço ao suor e até uma paisagem qualquer, em um dado momento, decidiu furar a neblina e se exibir. Havia movimento nela: carros, luzes, passos. 

À minha frente, dois corredores e um ciclista, furaram a solidão e superpopularam o local. Até mesmo algumas vozes decidiram contestar os ventos.

Aí cheguei de volta no carro.

Ao pico ermado, à base movimentada. Correr no Jaraguá tem disso: além da vista deslumbrante, aproveita-se toda uma imersão em metáforas mil e mergulha-se naquela zona densa, funda, encravada lá no interior da espinha. É um dos lugares mais incríveis para se comer quilômetros.

Antes de voltar para casa, fiz mais um bate-volta ao topo, fechando os 18km que tinha programado para o dia. E aí tomei o meu rumo.

Era hora se começar o dia.

Asfaltite aguda

Nunca fui exatamente radical quanto a corridas em trilha: para mim, o que importa mesmo é poder correr, é passar horas a fio cruzando percursos quaisquer imerso nos próprios pensamentos.

Nesse período, de treino pleno para o Caminhos de Rosa, tenho passado mais tempo no asfalto: é mais prático e abre espaço para rodagens mais “amplas”, por assim dizer.

Só há um porém: as paisagens das montanhas e trilhas estão realmente fazendo falta agora.

Talvez tente compensar um pouco treinando no Pico do Jaraguá amanhã… não sei ainda.

Mas essa asfaltite aguda realmente está pesada.

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Segunda com cara de domingo sedentário

São Paulo amanheceu molhada, cinza e com aquela estática paralizante rondando os céus. Amanheceu como um daqueles dias em que o melhor a se fazer é se camuflar sob as cobertas – coisa que desde que comecei a correr nunca mais fiz.

São Paulo, infelizmente, decidiu amanhecer assim em uma segunda-feira. Errou o dia: certamente os planos originais dos Deuses se destinavam ao domingo.

Vivemos, no entanto, com o que as curcunstâncias apresentam: pelo menos o clima de preguiça se materializou no meu dia de descanso das ruas e justamente na semana leve do meu treino.

Se não é um domingo para mim, que seja para o meu corpo, que precisa tão nitidamente de um descanso!

Checkpoint: Inteiro, mas meio assustado

92,4K, exatamente dentro do planejado. Claro: ter que diminuir o ritmo na semana passada não exatamente o plano, mas pelo menos me recuperei nesta.

Até agora, estou como que em fase de adaptação a esse modelo de treino de 3 semanas pesadas e uma leve, ampliando a volumetria apenas em blocos mensais. Fato: a resistência está mesmo maior: fazia tempo que não somava semanas acima dos 90K, incluindo longões em pares de 40K aos sábados e 20K aos domingos.

Por outro lado, o corpo fecha o domingo esmigalhado de dor, perto de um limite que não quero cruzar. Essa é a parte do “assustado” que se encaixou no título do post: a sensação de estar exigindo muito do corpo é constante.

São, no entanto, 140K sob o sol sertanejo que me aguardam: lembrar disso de vez em quando é sempre importante. Metas servem para encurtar a sensação de distância dos caminhos.

Bom… semana que vem é mais leve e devo ter algo na casa dos 60 ou 70K para rodar – ainda não conferi. Diferentemente da semana anterior de descanso, não pretendo “aproveitar” para encaixar tempos ou tiros: pretendo realmente fazer uma semana inteira de regenerativos. 

Vamos ver como funciona.

(De acordo com o Suunto, tenho 126 horas de “recovery time” pela frente).

Até o horto por novos caminhos

Esses últimos dias foram meio virtualmente ausentes. 

Virtualmente: foi só aqui, no blog, que sumi. E há uma desculpa para isso: com todas essas mudanças recentes no país, foi como se o ano pegasse no tranco e muitos dos projetos que estavam com freio de mão puxados subitamente se acelerassem. 

Com isso, claro, mergulhei feito um louco no trabalho – mas mantendo os planos de treino. Durante a semana, acabei totalmente recuperado e encaixei tudo o que queria. 

Hoje, sábado, escolhi uma rota diferente e fui correndo daqui até o Horto, dando um loop naquele que é um dos parques mais lindos de Sampa, na beira da Serra da Cantareira, e voltando.

Caminhos novos são sempre motivadores: abrem vistas inesperadas, revelam cenas diferentes e expõem uma cidade absolutamente diferente da que estamos acostumados. O caminho até o Horto teve disso, principalmente depois que cruzei o Tietê e me vi percorrendo a Braz Leme por um canteiro central que mais parecia um bosque.

De lá, entre curvas e cotovelos, acabei entrando no parque. Amplo, verdíssimo, com ares de mata virgem e trilhinhas perfeitas. 

Pausa para inevitáveis fotos. 

Pausa para respirar a Serra da Cantareira.

Pausa para repensar a semana.

Pausa para sentir aquela energia de missão cumprida, mesmo antes de voltar para casa, já com o Caminhos de Rosa em mente.

Um passo de cada vez

O primeiro foi hoje.

Não saí exatamente zerado, mas saí em condições muito, mas muito melhores do que eu estava no final do sábado. Descanso, às vezes, opera milagres.

Em tese, hoje deveria ter rodado 10K. Puxei um pouco mais: fiz quase 13.

Fui leve, bem leve: nada de velocidade e nem de testes desnecessários. Apenas uma voltinha ingênua pela pequena trilha de pedras no meio do Ibira.

O suficiente, embora a vontade estivesse mandando comer mais quilômetros.

Segurar a vontade, no entanto, é também parte do treino.

cooper

 

Checkpoint: Quebrado

Pequeno revés no plano: aparentemente, a carga da semana passada foi alta demais para a sua “repentinidade”. 

A semana até começou razoavelmente bem mas, quando pulei para os 20K na quarta com aumento na intensidade, as rodas simplesmente saíram.

Quinta e sexta foram dias de descanso difíceis; o sábado me estourou por completo. 

Bom… antes que seja tarde, desisti do dia de hoje. Semana que vem tentarei uma carga mais alta – mas sem exageros e dando mais tempo à evolução.

Às vezes, o mais difícil de um processo de treinamento é entender que se trata de um processo – e que, como tal, leva tempo. 

Cedamos, pois, ao tempo.