Desde que acordei, os olhos estavam pesados. Acordar, aliás, é quase um exagero: levei horas para conseguir me arrastar para fora da cama e mais horas para me concentrar nas poucas coisas que tinha para fazer. Correr pela manhã? Impossível.
Lá no fundo do cérebro, estava claro que o melhor que tinha a fazer era mesmo entender o sinal do cansaço e me entregar ao ócio.
Mas quem disse que fiz isso?
Enquanto o dia passava, fui encaixando uma programação de treino no dia. 4 da tarde: horário em que minha mulher sairia com minha filha e eu ficaria só em casa.
Não fiquei.
Para agregar um pouco mais de entusiasmo, tracei uma rota até a Freguesia do Ó, lá no alto de um pico do outro lado do Rio Tietê, local que já foi terra de bandeirantes e missionários e que, hoje, é praticamente uma coleção de bares em torno de uma igreja. Sagrado e profano, ao que parece, sempre conviveram bem por aquelas bandas.
Mas, por mais que tenha realmente adorado desbravar um novo percurso nos calcanhares da história paulista, correr em si foi difícil. Tudo pesava.
Estava sem energia.
Estava com sede, mais do que a capacidade da mochila de hidratação.
Estava exausto.
Estava até com um toque de sono.
Ainda assim, deu para correr até o largo da matriz velha, onde o bandeirante Manoel Preto construiu a primeira capela, que pegou fogo há mais de um século, e o largo da matriz nova. Deu para fazer isso cruzando os trilhos de trem de uma zona que, ao menos aos sábados, continua mantendo ares bucólicos dos tempos do começo da industrialização.
Deu para subir ladeirões e voltar pela interminável Av. Pompeia.
E, claro, deu para agradecer aos céus quando cheguei de volta ao meu quarteirão, encerrando o treino.
Valeu a pena?
Não sei. A sensação é de missão cumprida – mas o cansaço dá dicas de que talvez a missão tenha sido mesmo é comprida.
Hora de começar a levar a sério a necessidade de descanso antes que o Cruce chegue.