Força e fraqueza, euforia e depressão, sorrisos e lágrimas.
Ao menos no meu caso, cada ultra que corro me faz reviver o Carnaval de 2011. Àquela época, minha mulher estava grávida e eu, mesmo alguns anos depois de ter passado por uma cirurgia complicadíssima que me custou metade do fígado, estava com 100kg e mais sedentário que uma samambaia. Naquele Carnaval, peguei os resultados de um exame clínico que apontaram que eu estava na rota do desastre, com indicadores hepáticos descendo para os mesmos níveis que estavam no pior momento da minha vida.
Olhei para a barriga da minha mulher e tive a nítida sensação de que, se não mudasse de vida radicalmente, não viveria para ver a minha filha crescer.
E mudei.
Comecei a dieta naquela mesma hora, ainda com os resultados na mão.
Quando o Carnaval terminou, comecei a caminhar passos lentos, mas decididos.
Baixei aplicativos de controle de peso.
Comprei revistas de corrida.
Mudei a rotina.
2 meses depois consegui correr meu primeiro quilômetro sem pausa para caminhar.
3 meses depois fiz uma prova de 2 milhas da Mizuno.
1 ano depois já havia perdido 30kg.
Daí para frente vieram provas de 5K, 10K, 16K, uma meia, maratonas e, de repente, ultras. Gostei delas – principalmente de seus altos e baixos.
Cada vez que me deparo com um percurso de 50 ou mais quilômetros, sei que vou reviver com o corpo os vales que enfrentei em 2011 e os picos que vieram depois. É como se o corpo forçasse a mente a metaforizar os tantos desafios que ficaram para trás, a “morrer” e a “ressuscitar” uma, duas, três, n vezes. Sentir essa batalha me revigora como poucas coisas no mundo e é, em resumo, precisamente isso que sinto a cada ultra, motivo pelo qual amo tanto esse esporte.
Mas, me deixando de lado um pouco, parece que há muito mais acontecendo no corpo de ultramaratonistas do que eu mesmo já presenciei. Li uma matéria interessantíssima no Washington Post que decidi compartilhar aqui no blog com um relato completo das mudanças fisiológicas que ocorrem em percursos que podem variar de 50km a 100 milhas (ou mais). Infelizmente, o texto está apenas em inglês – mas, se puder, aconselho muito a leitura!
Link: https://www.washingtonpost.com/graphics/health/ultramarathon/