Quem me conhece ou acompanhou o blog anterior, Rumo a Comrades, sabe que nunca me dei tão bem com treinadores. Por algum motivo qualquer, quando passava a seguir as suas planilhas, ignorava todo e qualquer sinal do meu corpo. Sim: tinha plena ciência do tamanho da estupidez que fazia – mas simplesmente não conseguia agir de outra forma.
E, assim, com MUITA pesquisa, leitura e estudo, acabei me guiando sozinho por uma série de maratonas e duas ultras, sempre saindo inteiro delas, com resultados que me orgulho e sem nunca ter me lesionado. OK, tudo ótimo… mas trilha é outro bicho.
A mera noção de fazer, sozinho, um treinamento para uma ultra em montanha – terreno que desconheço completamente e sobre o qual há muito menos referência – seria algo ingênuo, infantil. Assim sendo, mergulhei na Web.
Acompanhado da força da globalização, fui atrás dos meus ídolos: Kilian Jornet, Ian Sharman, Sage Canaday, Emelie Forsberg, Anna Frost, Fernanda Maciel etc. Dificilmente conseguiria que um desses heróis das trilhas sequer prestasse atenção em mim – e então busquei algo ou alguém que todos tinham em comum. A resposta veio na hora: Ian Corless, um dos maiores blogueiros de ultra do mundo e responsável pelo podcast TalkUltra, que ouço nos meus longões já faz tempo.
Sem medo, entrei em contato com ele. E a resposta foi absolutamente positiva.
Ian é corredor, podcaster, blogueiro e fotógrafo de ultras. Sua vida gira em torno das trilhas, o que o permite conhecer a fundo estratégias, táticas e pequenos segredos dos maiores atletas desse esporte. E, claro, também treina corredores mundo afora.
Meu briefing para ele foi direto: transicionar do asfalto para a trilha em 3 meses, a tempo de pegar a Réccua Douro Ultra Trail com a confiança de poder terminar inteiro.
Desafio topado, primeiras planilhas mandadas, primeiras corridas já feitas.
De antemão, o que posso dizer é que ele não pega nada leve: nessa primeira semana já há sessões com tiros de 10 minutos, repetições em morro e tempo runs de 50 (!) minutos!
Do lado de cá, vou procurar seguir tudo – mas sem repetir erros do passado. Sinais esquisitos do corpo gerarão alertas que procurarei documentar logo depois do treinamento (antes da minha mente me forçar a ignorar problemas para seguir planilhas).
Como será esse novo processo, com treinador a distância por uma jornada absolutamente desconhecida? Nem ideia.
Mas em breve descobrirei.
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