Tenho mais duas semanas de treinamento: na terceira embarco para San Martin de Los Andes, de onde largo no El Cruce. Estou convicto de que o problema com uma prova dessas não é a rodagem em si – 100km em 3 dias – ou mesmo a altimetria, esta sim de uma intensidade poderosa. Tampouco o grau técnico das trilhas me deixa tenso: sem querer parecer presunçoso demais, acredito que as duas provas da Indomit que fiz (Bombinhas, há um ano, e Costa Esmeralda, há alguns meses – ambas encharcadas de tanto temporal) tenham deixado o couro mais rijo em relação a isso.
A dificuldade mesmo, acredito, estará em largar por dois dias (o segundo e o terceiro) com o corpo frio e as pernas cansadas. O cronograma da prova inclui, afinal, 40K no primeiro dia, 30 no segundo e 30 no terceiro – uma divisão quase homogênea de dificuldades não fosse esse acúmulo de exaustão. E, se o ideal em treinamento é buscar simular as provas ao máximo, creio ter feito isso bem.
Na semana do Reveillon, em Niterói, somei pouco menos de 100K em um sobe e desce de montanhas por trilhas diversas sem parar. O calor, elemento que dificilmente encontrarei nos Andes, serviu como pimenta para agregar um pouco mais de dificuldade.
As duas semanas seguintes até foram mais leves do ponto de vista de volume, mas organizei os treinos de forma a deixá-los consecutivos, fazendo back-to-backs que simulassem a sensação de correr sobre pernas cansadas. Foi diferente e bastante intenso – mas viável.
Na semana retrasada, 85Kms também comprimidos – desta vez em quatro saídas. Subi o que pude aqui em Sampa, somando algo como 1.000 metros de altimetria acumulada, mantendo um pace mais lento porém controlado.
E, claro, teve a semana passada: o pico perfeito de um treinamento que, se não foi radicalmente de acordo om o traçado, também passou longe de ser desleixado. Deixei segunda, terça e quarta para descanso total.
Na quinta, iniciei meus trabalhos de pacer na BR. Entre quinta e sábado de manhã, rodei quase os mesmos 85km da semana anterior – porém em menos dias e com muito, muito mais altimetria: 3 mil metros. Enquanto corria, a sensação que tive foi de absoluta surpresa: não podia imaginar o quão preparado estava. Não senti cansaço algum e, correndo o risco de soar arrogante, acredito que poderia até ter feito a BR inteira em formato solo.
Os intervalos de descanso, em que outros pacers assumiam, deveriam ter servido para esfriar o corpo – algo que não chegou, de fato a acontecer. Cada largada minha era mais marcada por empolgação do que pode dor, resultado também das paisagens fenomenais da Serra da Mantiqueira.
E, bom… se consegui fazer tão confortavelmente este último treinão, que de certa forma teve quase a mesma quilometragem que o Cruce em quase o mesmo tempo, embora em formato diferente, praticamente sem trilhas e com altimetria mais baixa, então creio estar preparado.
Bem preparado, arriscaria dizer.
Isso também significa que essas próximas duas semanas, a começar por hoje, devem ser mais dedicadas a um tapering leve, um descanso maior ao corpo para que ele fique mais forte.
De toda forma, entre volume de rodagem, altimetria, tempo e sensação de segurança, devo dizer que estou absolutamente confortável. Mais: esse pico de treinamento talvez tenha sido o mais perfeito de todos até agora.
Veremos os efeitos práticos em breve.