Verdade seja dita, o longão de sábado não estava exatamente nos planos para esta semana: cheguei em Niterói na noite anterior, cansado e com um sono que parecia exigir mais cama do que tênis.
Mas isso, claro, foi até o avião pousar no Santos Dumont, recheando a retina com aquelas paisagens exuberantes que apenas o Rio e Cape Town, as duas mais belas cidades do mundo, tem.
Acordei às 7:00 da manhã seguinte, me arrumei na velocidade da luz, programei a rota no Google Maps e me mandei. O percurso: sair da região da Serra da Tiririca e chegar aos pés do MAC, somando cerca de 30km de ida e volta e bebendo a vista do Pão de Açúcar, Cristo e tudo mais no mesmo plano.
E já saí com o céu azul e o calor batendo forte – um bônus para mim, que amo a sensação de ter as costas assando sob o sol. Por algum motivo, o Google me mandou margeando o morro do Cantagalo, por dentro, cruzando alguns morros leves. Não senti nenhum perigo ou coisa do gênero – mas certamente algum outro caminho seria mais bonito. Ainda assim, passar pelas pedras grandes que pontilham a paisagem e, vez por outra, sentir o mar perto dos olhos, faz toda a diferença.
E demorou. Morro acima, abaixo, acima, abaixo, casinhas decorando a paisagem, céu ficando cada vez mais azul e temperatura subindo. 29, 30, 31, 32 graus.
De repente, na descida de um morro, casas começaram a se transformar em prédios: estava no chegando ao centro da cidade. Com ele, trechos mais planos pareciam me guiar até o mar como um ímã.
Segui.
33 graus.
À minha frente, a mais espetacular das vistas se desacortinou. Do lado de cá da Baía de Guanabara o sol parecia apontar o horizonte com um orgulho sem precedentes: ali, logo do outro lado, descansava o Pão de Açúcar e os demais morros que fazem do Rio o Rio.
Não pude continuar: parei, tomei um bem-vindo gole d’água e fiquei imóvel por alguns instantes.
Outros corredores aproveitavam a orla, comum para eles, aparentemente sem perceber o quão inacreditavelmente belo era aquele lugar. Dei mais alguns passos em direção ao MAC, que se posicionava como uma nave alienígena em frente a uma pequena igreja no alto de outro morro. Não cheguei a ir até lá, mas cheguei perto o suficiente para babar.
34 graus.
Decidi ignorar o Google Maps: tracei a minha volta margeando a orla, deixando Icaraí por uma estradinha semelhante – mas mais bela – à Niemayer. Foi a melhor decisão que poderia ter tomado: àquela altura, às 9 da manhã, outros corredores e ciclistas já estavam aproveitando a cidade e transformando o clima em pura endorfina.
Aliás, a endorfina era tamanha que mal conseguia me lembrar de beber água.
35 graus.
Saí da orla cruzando o bairro de São Francisco, subindo e descendo mais alguns morros e seguindo paralelo à Lagoa de Piratininga.
Àquela altura estava já bastante cansado e com uma forte dor de cabeça por conta, provavelmente, do forte calor. Mas nem isso atrapalhou o dia: quando cheguei de volta em casa, quase às 11, o termômetro marcava 37 graus e o Strava computava 33km rodados.
Foram as melhores boas vindas que já recebi de uma cidade.