De volta.

Há alguma coisa sobre a África.  Os cheiros, as cores, os cantos em coro, os sons de maneira geral. A pobreza, intensa, parece apenas somar pinceladas mais densas na selvageria do que, um dia, foi a vida de todos nós. Pensamento frio, cruel talvez, característico de quem nunca realmente viveu uma situação de necessidade como […]

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De volta

Voltar, depois de um esforço grande, sempre dói um pouco. O corpo parece meio enferrujado, os ossos reclamam, perde-se a noção de ritmo. Mas, ainda assim, faz bem.

Principalmente em um dia com quase 30 graus e um sol ardendo sobre a cabeça: sou apaixonado pelo calor. E, assim, saí hoje pela primeira vez desde a Indomit para um trote pela USP, somando pouco menos de 20K em um ritmo leve, confortável (dentro do possível) e feito para realinhar o corpo.

Funcionou.

Primeiro, porque cheguei mais tarde à USP, por volta das 10 da manhã, quando a maior parte dos corredores já estava de saída. Tinha o percurso mais livre e o dia mais quente para eu aproveitar.

Pude também rodar solto pela pequena trilha perto da subida do Matão, matando um pouco das masoquistas saudades que confesso que senti de lá de Bombinhas. A trilhinha da USP, no entanto, é bem, BEM mais leve. Carrega o ar fechado e abafado da mata atlântica, tem todos os sons de insetos que se pode esperar em uma floresta, um piso levemente úmido e feito de terra com folhas – mas sem nenhum trecho técnico.

Foi, em uma palavra, perfeito para que eu pudesse fazer as pazes com as trilhas que tanto me castigaram no sábado passado.

  

Depois disso, a subida do Matão me aguardava camuflando o calor com fios refrescantes de brisa enquanto fluxos bem vindos de pura endorfina atenuavam a percepção de esforço.

Foi um daqueles momentos em que nos sentimos no lugar perfeito e na hora exata.

Aquela subida foi precisamente o que eu estava buscando quando saí de casa hoje: a sensação de fluidez do corpo, a brisa acalmando o suor, os sons de passos esforçados contra o absoluto silêncio da mata que circunda tudo, o céu azul fazendo o chão brilhar.

Perfeito.

Não poderia ter pedido nada a mais desse dia.

Estou de volta.

  

Recomeçando, parte 2: de volta à USP

É impressionante como o corpo da gente reage depois de alguns meses de estresse e intensidade plenos. Já disse isso antes e não quero ser repetitivo, mas o tempo que estou levando para me recuperar desta temporada está acima das minhas mais pessimistas expectativas.

Corri bem pouco na semana passada justamente para dar tempo ao tempo e pegar de volta aquele impulso fundamental de ir para as ruas – impulso que, diga-se de passagem, parecia ter entrado de férias.

Depois de um tempo, a respiração foi acalmando.

A ansiedade, baixando.

O pulso, voltando ao normal.

E, assim, voltei para as ruas com ares de quem estava matando saudades.

Perfeito.

O corpo, no entanto, discordou um pouco. Ficou gripado, aparentemente em um último ato de revolta.

Desconsiderei.

Hoje, fui à USP pela manhã. Quem mora em Sampa sabe que a Universidade de São Paulo é uma das mecas da corrida em final de semana: o local é arborizado, bonito, bem cuidado e com todo tipo de terreno, de subidas íngremes a trilhas escondidas (como a da foto abaixo).

No total, fiz algo na casa dos 25km – meu maior longão desde a Maratona.

Serei sincero: o rendimento foi BEM abaixo do esperado. Travei em um pace de 6’20″/km e ainda tive que andar em um pequeno trecho na volta para casa. Cansei mais do que o usual e senti o corpo excessivamente pesado, quase que se arrastando.

Mas, depois que cheguei em casa, uma coisa esquisita aconteceu: entre ofegações suadas e pulsações corridas, um sorriso simplesmente brotou no rosto por ter completado o longão. E não foi um sorriso de alívio por ele ter terminado: foi de satisfação por ele ter existido. Uma diferença bem importante.

Na mesma hora, o pensamento sobre o desenho do percurso do dia seguinte veio à mente. Ótimo: olhar para o futuro, mesmo que de curtíssimo prazo, é sempre um bom sinal.

Ainda assim, arquivei o pensamento para depois. Era hora de voltar à rotina de regeneração pós-treino.

Gripe? Ela ainda existe e vai sentir um pouco o esforço de hoje, claro. Mas passará.

Não nego que o corpo estava pedindo algum tempo de descanso a mais. Mas ele não pode ser o único a tomar as decisões, certo?

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