Repeti a dose de ontem.
Às 5 da manhã estava já de pé, devidamente trajado, ajustando o relógio e olhando pra a tempestade.
A noite estava escura, meio enevoada e com água saindo tanto dos céus quanto das valetas que descem da Paulista carregando cachoeiras nervosas.
Perfeito.
Fiz a mesma rota de ontem e, ligando a lanterna presa à testa, virei à direita na trilha. Familiariza-se rápido com situações diferentes: foi só dar o primeiro passo em uma poça de lama que me senti em casa. A luz estava a mesma, o tênis era o mesmo e o local estava igualmente irreconhecível. Ainda assim, trilhei os 6km como se fosse uma criança.
Corri onde pude, caminhei em locais mais difíceis de ler, respirei cada gota de umidade e cada cheiro de floresta molhada que consegui detectar com os sentidos aguçados. Aliás, desta vez deixei o celular em casa para poder me concentrar mais na trilha e em seus sons.
Muitos sons.
Grilos, insetos, sapos e toda uma gama de espécies rastejantes transformavam o Ibirapuera à noite e sob tempestade em um tipo de festa animada até o último decibel. Fosse alguém vendado e levado até aquele local, dificilmente deduziria estar no coração da maior cidade da América do Sul: nada ali sequer lembrava uma metrópole.
E assim o tempo foi passando regado a sons, chuva, lama e a visão enevoada do fio fino de luz que emanava de uma lanterna já cansada e quase sem pilha.
Quando voltei, novamente subindo a Ministro, era outra pessoa. Parecia que havia me teletransportado de volta para a cidade, provando que estive fora por roupas encharcadas, enlameadas e absolutamente felizes.