Trilha urbana: Sumaré, Jardim das Perdizes, Parque da Água Branca e Minhocão

Há um pequeno novo parque no centro de São Paulo, ainda com árvores novas e pouco sombreado, que dá o tom do bairro que está surgindo em seu entorno: o Jardim das Perdizes.

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O bairro em si ainda é um embrião: prédios residenciais, torres comerciais, shopping e hotel ainda estão sendo erguidos. Apenas o parque está efetivamente aberto e correr nos seus pouco mais de 1km é como testemunhar o nascimento de um novo pedaço da metrópole justamente em uma de suas áreas mais antigas: o bairro da Barra Funda.

Não dá para fazer um longão em um parque tão pequeno, claro – e por isso o Jardim das Perdizes é apenas o começo do percurso. Ou meio.

Afinal, chegar lá inclui subir até a Dr. Arnaldo, descer até a Sumaré e correr pela faixa do canteiro central – perfeita para o esporte – passando ainda pelo novo Estádio do Palmeiras.

Depois de lá dá para esticar ainda até o Parque da Água Branca, nas proximidades. Esse é, talvez, o mais exótico dos parques paulistanos por ser estabelecido em torno de construções muito bem cuidadas que datam de 1929, quando ele foi inaugurado como centro de exposições e estudos zootécnicos.

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Assim, passa-se por um estábulo (que, hoje, abriga algumas feirinhas gastronômicas), por um museu, por espaços de leituras, por um parquinho de diversões e muito mais. Tudo isso com eventuais galinhas cruzando o percurso como se estivessem em alguma fazenda no interior do estado.

Relembrando: estamos no centro de São Paulo.

O Parque da Água Branca não é gigante – mas é maior, claro, que o Jardim das Perdizes. E um percurso incluindo os dois, ligados ainda pela Sumaré e pelo Minhocão.

Pois é: aos domingos, aproveitar o Minhocão fechado para trânsito para voltar para casa é a opção perfeita.

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Resultado? Em um único percurso consegue-se cruzar uma via fantástica – a Sumaré – ver uma parte da cidade nascer, passar por um parque com ares de fazenda interiorana e terminar subindo o icônico Minhocão.

Nada mal para um domingo qualquer.

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Trilha urbana: desbravando São Paulo

Ontem, com um pouco mais de tempo nas mãos para fechar a minha meta da semana, decidi criar um domingo diferente. Por que percorrer a mesma rota de sempre se eu poderia, afinal, desbravar um pouco mais de São Paulo em um domingo preguiçoso, calmo e perfeito para correr? Essa cidade é tão incrível e tão cheia de contrastes, afinal, que chega a exigir um pouco mais de atenção focada, do tipo que não se desfaz com buzinas ou distrações frugais.

Pois bem: vamos, então, ao centro.

Comecei subindo a Bela Cintra e cruzando a Paulista. Minha meta era chegar até a Estação da Luz e a Pinacoteca, rodar um pouco pela região e voltar. Simples assim.

Continuei pela Bela Cintra no sentido centro e troquei de via até a Consolação. No caminho, alguns mendigos se mesclavam com aquele cenário cinza de igrejas e praças cuidadosamente decadentes da região.

Igreja da Consolação

Igreja da Consolação

Entrei um pouco por algumas vielas, subindo escadarias só para sentir mais o local e, depois, voltei para a avenida. Prossegui ladeira abaixo.

Em um momento, acabei entrando na Ipiranga onde, ao fim, a Estação da Luz se estendia como uma linha de chegada. Belíssima de longe e de perto, assustadora a média distância. A estação em si é bem cuidada mas, aos domingos, mendigos, traficantes e prostitutas fazem de lá uma espécie de ponto de encontro para passar o tempo e discutir irrelevâncias. Seus risos altos atravessavam os fones de ouvidos e seus olhares eram ácidos, acostumados a meter medo. Tudo bem: era só seguir reto.

Estação da Luz

Estação da Luz

Atravessei a cena e margeei a estação até entrar no Parque da Luz, uma espécie de oásis verde em pleno centro feito de lagos, bosques e estátuas que servem de lar para inúmeras espécies de pássaros. Apesar de pequeno, é sem dúvidas um dos mais bonitos e bem cuidados parques de São Paulo.

Parque da Luz

Parque da Luz

Fui pela trilha que o circunda, driblando alguns japoneses tirando fotos, mães passeando com seus bebês e, vez por outra, algum corredor perdido. Do lado de fora, uma fila imensa se formava para entrar em uma exposição nova na Pinacoteca, outra jóia do centro que salta aos olhos.

Entre a fila e o prédio, fiquei com o prédio. Corri olhando cada coluna e detalhe arquitetônico, imaginando tudo o que já havia se passado por ali e o tanto de contraste que, hoje, ele leva ao centro velho.

Pinacoteca

Pinacoteca

De lá, saí do parque e voltei à região da estação. Desta vez, no entanto, entrei correndo por ela, atravessando-a por dentro e sentindo um pouco do clima dos que estão indo e vindo de algum lugar qualquer.

Na saída que escolhi, a Estação Júlio Prestes, que hoje abriga a Sala São Paulo, me puxou como um ímã. Segui pelas bordas de um terreno baldio pontilhado por prédios abandonados e – novamente – sob os sons das putas e cafetões. A polícia revistava dois suspeitos em uma das esquinas – o que me fez preferir outra. Ignorei um pouco a cena.

Corri, corri e cheguei ao incrível prédio.

Lindo, de uma branquidão pulsante, imponente, exalando orgulho.

Estação Julio Prestes

Estação Julio Prestes

Hora de voltar para casa.

Na busca por alguma placa que indicasse o melhor caminho, acabei me deparando com o Minhocão – uma avenida suspensa que corta parte do centro e que foi responsável por uma desvalorização quase hedionda de toda a região. Aos domingos, no entanto, todo ele fica fechado para trânsito e é usado por ciclistas, corredores e famílias de uma maneira geral.

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Subi boa parte dele até cair, novamente, na Consolação, já próximo de casa. À minha direita estava o Mackenzie e, alguns metros depois, o cemitério. Versão paulistana do cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, as esculturas fúnebres são facilmente visíveis pelo topo dos muros. Quando pensei em entrar, já era tarde: estava já adiantado demais e voltar não valeria à pena.

Cemitério da Consolação

Cemitério da Consolação

Entrei em seguida em um dos principais cartões postais da cidade, a Avenida Paulista. Como precisava ainda fazer alguns quilômetros, rodei até quase metade dela, na frente do MASP.

Avenida Paulista

Avenida Paulista

Entrei no pequeno Parque Trianon, um outro oásis perdido e muitissimamente bem cuidado que colore um pouco a capital. Cruzá-lo foi rápido: são poucos metros de extensão percorridos em calçadas de pedras portuguesas e pontilhadas com pequenas casas antigas.

Parque Trianon

Parque Trianon

A partir daí, foi só descer um pouco da 9 de Julho, pegar a Lorena e seguir de volta até a Bela Cintra.

A trilha urbana de 15km, composta por prédios antigos, zonas degradadas, parques e muita história estava terminada. E, sem sombra de dúvidas, foi uma corrida muito mais memorável do que qualquer bate-volta normal pelo Ibirapuera ou outra rota mais cotidiana.

Ainda faltou ver muita coisa: não passei pela Sé, pela zona da Bolsa de Valores, pelo Pátio do Colégio ou Mosteiro de São Bento. O centro de Sampa é tão grande quanto a cidade – o que acaba nos fazendo deixar sempre alguma coisa para uma próxima vez.

Que bom: certamente haverá muitas próximas vezes.

(Para quem quiser conferir, meu percurso inteiro está abaixo):

Trilha Urbana por São Paulo

Trilha Urbana por São Paulo