Tenho andado sumido

É, tenho. Há motivos – sempre há.

Correr, nessas últimas semanas, se transformou em uma espécie de momento religioso para mim, algo quase catártico dado o momento de vida.

Tudo está acontecendo. Toco duas empresas no cotidiano – uma agência de comunicação e uma editora online. Não tenho do que reclamar de nenhuma delas mas, como para todo empresário brasileiro, atravessar esse mar de incertezas gerado pela crise política, social e moral brasileira, tem demandado uma energia colossal. A cada instante, planos novos, projetos súbitos brotam da ansiedade de tentar deduzir se ainda teremos um país para trabalhar na semana seguinte. Incerteza é o pior dos inimigos da calma.

Some-se a isso o fato de eu estar finalizando uma obra para me mudar de apartamento no final do mês. Mais malabarismos.

Talvez soe como uma espécie de auto-tortura considerar que estou ainda beirando a fase de pico para o Caminhos de Rosa, rodando 100, 110km semanais. Mas não é.

É o oposto.

Em uma daquelas metáforas piegas de tão óbvias, pode ser que esteja mesmo é correndo dos problemas. Pode ser – mas o fato de sempre retornar a eles ao cabo de algumas horas com a cabeça mais fresca e o peito mais oxigenado não deixa de ser um bom sinal.

Essas 11 horas que passo entre ruas e trilhas são responsáveis, em verdade, pelas outras 157 horas divididas entre muito trabalho e pouquíssimo sono.

A acidez das mudanças é tamanha, no entanto, que sobra pouco espaço para uma descompressão mais suave, feita de palavras sendo marteladas aqui no blog. É desligar o relógio e pronto: sou imediatamente catapultado para dentro do celular, nova casa de todos os problemas que carecem de soluções imediatas.

Mal subo o elevador e, ainda suado, estou já imerso no trabalho.

Sim, ando sumido – e isso não está me fazendo bem. Espero que alguma normalidade volte a aparecer por essas bandas: definitivamente não é normal sentir, já em junho, aquele cansaço mental típico de dezembro.

O ano precisa correr mais rápido que nós.

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Que as trilhas e asfaltos me recebam bem

Os próximos 3 meses, estimo, serão de plena guerra. Teremos confusões envolvendo o ministério do Lula, as tentativas de barrar a Lava-Jato, delações premiadas, articulações para o impeachment, o impeachment em si. Enquanto isso, o mercado inteiro aperta os cintos e se segura esperando por melhores ventos e temendo os desastres que insistem em se colar a rupturas ideológico-político-sociais como as que estamos vivendo.

Resultado: do lado de cá das trincheiras, estou trabalhando dobrado, pintado e pembado para a guerra. Cada dia é uma batalha. Cada dia seguinte é uma estratégia. 

Cansativos, esses tempos. Mas confesso: estão sendo de uma adrenalina absolutamente empolgante. 

Só preciso mesmo é que as trilhas e asfaltos me recebam bem nos começos e finais de dia. 

Esses momentos de inspiração endorfinada somada a alívio de estresse tem sido fundamentais para a sobrevivência. 

  

Vida de soldado

A adrenalina de um dia de pico na selva publicitária de São Paulo, onde vivo, fica um tempo percorrendo artérias e veias. Impede que se relaxe, impõe ao instinto de sobrevivência uma capacidade de concentração multitarefa, exige onipresença e, aos poucos, mói os sentidos.

Não vou dizer que não goste desse estilo de vida: trilhar os meandros de um mercado tenso e ultracompetitivo é um desafio cotidiano perfeito para qualquer um que sinta prazer, por exemplo, correndo ultras.

Mas, assim como em ultras, há momentos em que picos se alternam com vales, em que a adrenalina de se ter conseguido vencer algum obstáculo inesperado com um golpe de pensamento e uma supersincronizada agilidade tática cede ao cansaço.

Depois de nem sei quantas horas coordenando uma verdadeira guerra em fronts paralelos, cheguei em casa depois de todos terem dormido.

Comi em silêncio, acalmando a memória recente. Não me preparei para o dia de hoje – era tempo de encerrar o ontem. Apenas.

Troquei de roupa.

Deitei cuidadosamente, mais silencioso que o tédio.

De imediato, fiquei imóvel esperando o sono que não queria vir. 

Acabou vindo.

Aos poucos.

Mas de forma decisiva.

Pelo menos até o próximo soar do despertador, às 5:15 da manhã – apenas poucas horas depois das pálpebras terem fechado.

Sem problemas: era hora da corrida. 

E há melhor maneira de se preparar para qualquer coisa do que acordar antes mesmo do sol, quando toda a cidade ainda dorme, e testemunhar, sob suor e passadas, uma cena dessas?

  
Decididamente não.

Poucas coisas nos preparam melhor para uma batalha do que uma boa dose de suor e endorfina antes dos primeiros tiros. 

Que venha o dia.

Deixando o estresse no caminho

Sabe quando se tem um dia para lá de complicado, com uma somatória insana de problemas e um desfecho digno de filme de terror? É impossível deixar esse acúmulo de problemas no caminho do trabalho para casa. 

Problemas no trabalho normalmente significam noites mal dormidas, estômagos que cismam em ficar tensos, mente que metamorfoseia qualquer mínimo desafio em barreiras intransponíveis. No passado, minha forma de lidar com problemas assim era “simples”: deixar o corpo cozinhar até transbordar. E, no passado, o corpo transbordou: cabei na mesa de cirurgia para retirar metade do meu fígado. 

Hoje, ainda bem, há uma opção mais fácil: a rua. 

Acordei cedo, por volta das 5, e decidi deixar o estresse ao longo do caminho. Claro: como o estresse era grande, o caminho também deveria ser. 16km que não estavam programados e que se iniciaram por volta das 5:15 da manhã, ainda antes de qualquer sinal de claridade de um sol que provavelmente nem pensava em acordar. 

Não fiz tiros, não me apliquei metas e nem controlei o tempo. Nem relógio eu levei. 

Simplesmente corri até a vontade acabar. 

Cortei a noite de casa até o parque, entrei com aquela precaução de quem não enxerga o solo escuro, cruzei o vento e passei por outros corredores tão compenetrados quanto eu. 

No fone, um podcast qualquer cuspia alguma história que eu mal prestava atenção. Mas a mantive ligada: de alguma maneira, ouvir zunidos de vozes ecoando entre os ouvidos estava me fazendo bem. 

Cheguei a pensar em pegar a trilha do lado de fora do parque na segunda volta: trilhas, mesmo as mais levinhas, sempre fazem um bem colossal. Só que ainda estava escuro e, sem lanterna, seria uma receita certa para acidentes indesejados. 

Sem problemas: dei outra volta. E parei. 

Respirei. 

Fundo.

Algumas vezes. 

A mente, então abarrotada de pensamentos espremidos como se estivessem em um trem indiano, de repente se viu vazia. Perfeito. 

Voltei para casa rejuvenescido, inteiro, intacto, novo. 

O estresse do dia anterior ficou lá atrás, no asfalto. O do dia corrente estava ainda por vir já nas próximas horas. 

Mas tudo bem: àquela altura, estava já preparado para matar qualquer novo leão. 

  

Checkpoint 4: Lidando com a exaustão

Dentre todas as semanas – provavelmente desde que comecei a me preparar para a Comrades, ainda no ano passado – essa foi a que a exaustão mais apareceu. Não pelo esforço físico em si: este realmente ficou em um distante segundo plano. Mas o trabalho foi tão intenso, tão além do humanamente plausível, que seus efeitos se alastraram pelas outras esferas do cotidiano.

Por conta disso, perdi um treino – que, embora leve, foi tempo na rua desperdiçado. Por conta disso, enfrentar o longão ontem foi cansativo ao ponto de fazê-lo um pouco chato, “desempolgante”. Por conta disso, todos os meus indicadores pessoais, que podem ser vistos nos gráficos abaixo, caíram.

Mas, enfim, faz parte. Não somos máquinas, afinal.

Hoje, no entanto, decidi fazer algo diferente para recuperar a energia: ser acordado pelo fim do sono (e não pelo despertador). Nada de madrugar: se não conseguisse me recompor, em poucos dias certamente desabaria com alguma lesão, gripe ou qualquer coisa que costuma vir com excesso de estresse. E não é que deu (muito) certo?

Descansado, saí mais leve para o trote do domingo. Apenas com a rua, o céu azul que iluminou Sampa, a temperatura amena e música: tem coisa melhor?

Tem: o resultado de se ouvir o corpo. Curiosamente, a energia que estava escondida, tímida, pareceu dar as caras. Desisti do trote programado e fiz uma tempo só para animar um pouco, para deixar as pernas acompanharem a vontade. E assim foram mais ou menos 40 minutos a um ritmo de 4’40″/km que pareceram tão leves que cheguei a questionar se o relógio estava correto!

Estava sentindo falta – muita falta – de ter uma corrida assim. Descompromissada mas intensa, solta mas absolutamente satisfatória.

Para a semana que vem, o ritmo deve apertar e a volumetria subir – mas o trabalho deve ser, senão light, pelo menos bem mais leve do que essa última semana. Pelo menos é o que espero!

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