Originalmente, a ideia de ir para a Olimpíada era mais para sentir o clima do evento no Rio: a soma de brasilidade com o maior evento esportivo do mundo e com a Cidade Maravilhosa dificilmente daria um resultado ruim.
E, já que eu iria, assistir ao atletismo seria quase óbvio.
Já que assistiria ao atletismo, por que não ver o Bolt?
E, assim, lá fomos nós (minha mulher, minha pequena filha e eu) no sábado de manhã até o Engenhão para conferir a lenda. O que não poderia prever, claro, é que uma outra corrida seria muito, mas muito mais impactante.
Nada contra o Bolt, claro – mas o que aconteceu com a etíope Etenesh Diro nos 3 mil metros com barreira foi imbatível.
Já no começo da prova, quando a pista fica embolada de pernas e braços, um acidente acabou derrubando algumas atletas e deixando um dos tênis da etíope meio para fora. Em uma fração de segundos, Diro deve ter pensado na prova, no que faria e nas chances reduzidíssimas de vitória daquele jeito, provavelmente destroçando um sonho para o qual ela estava mais do que preparada (sendo considerada uma das favoritas).
E o que ela fez? Parou, tirou o tênis e a meia de um dos pés e saiu correndo descalça! Correndo não – voando: ela seguiu em uma velocidade inacreditável, ultrapassando atleta após atleta e chegando em sexto lugar.
Enquanto isso, a torcida que lotava o Engenhão simplesmente urrava, uníssona e descrente, tendo instantaneamente adotado a heroína olímpica. Tudo: o estádio, a velocidade, os telões e até o céu parecia empurrar Diro através dos quilômetros e da dor.
Sim, muita dor: a corrida era com obstáculos, o que agrega uma dose de impacto considerável aos pés de quem quer que seja. Na velocidade que ela estava, tanto pior – o que ficou claro depois que Diro desabou no chão em prantos assim que cruzou a linha de chegada.
Inacreditável.
Horas depois, apesar da colocação abaixo do limite de qualify, os juízes acabaram determinando que o acidente no início atrapalhou a corrida e colocaram as prejudicadas – incluindo Diro – na final. Vaga mais do que merecida.
Uma coisa é ver corridas. Outra é ver Olimpíadas.
E outra, totalmente diferente, é ver de perto o espírito olímpico.
São daqueles momentos que nunca vamos esquecer.