Na rua, em pleno domingo de manhã cruzando o centro do Rio, elas cruzaram meu caminho. Sensacional.
Inesquecível.
Ver essas monstras ao vivo, de perto, é outra daquelas coisas que jamais se esquece.
Depois de correr pela superfície do sol, de fechar o ano com mais de 3.700km rodados, de ter completado 6 ultras – incluindo uma Comrades, uma idealizada por mim mesmo na Estrada Real e meus primeiros 100K, nada mais natural do que resetar o organismo para prepará-lo para 2016.
Ou, colocando em outros termos: abri o ano com uma gripe daquelas que impede qualquer alma viva de sequer pensar em sair de casa. Verdade seja dita, fiz as minhas duas corridas inaugurais de 2016 – uma no Rio e outra em São Paulo – nos dias 1 e 2. Mas sair de 40 graus para pouco mais de 20 com direito a garoa teve seu preço.
Não reclamo: foram tantos os desafios em 2015 e tantas as conquistas que fará bem iniciar o ano com pernas frescas, ainda que motivadas por um descanso forçado e não planejado.
2016, portanto, começou com uma despedida de fim de ano e uma inspiração mais que bem vinda ao redor da minha segunda casa, o Ibira.
Já no primeiro trimestre serei pacer na BR 135 e farei o sonhadíssimo El Cruce entre Argentina e Chile. Não digo que é tempo de começar os treinos – estes nunca efetivamente pararam: apenas mudaram de foco no instante em que cruzei a chegada da Indomit. Mas digo que é tempo, sem dúvidas, de deixar o organismo se reorganizar.
Pela frente, certamente não faltarão novas trilhas a serem percorridas.
A ideia nem era sair pra correr hoje, 2 de janeiro, primeiro dia em São Paulo depois dos inenarráveis visuais cariocas que presenciei.
A ideia era descansar pelo menos um dia, dando tempo para o corpo se recuperar melhor das trilhas e montanhas, das subidas, do calor de mais de 40 graus.
Mas como resistir? São Paulo amanheceu bem paulistana: nublada, com temperatura amena e uma finíssima garoa deixando o cenário mais úmido. Foi o suficiente: precisava inaugurar o ano na minha cidade.
Cansado ou não, troquei de roupa, calcei os tênis e saí para o Ibirapuera. Claro: não havia lugar melhor para começar o ano do que lá, que considero uma extensão de casa.
Cruzei as ruas absolutamente desertas de uma cidade que ainda não voltou de férias, entrei pelo portão da República do Líbano e virei à direita. Fui, claro, pela trilha enlameada, encharcada, deliciosa.
Aliás, ela estava tão molhada e carregada de poças que parecia ter havido um dilúvia nos dias em que eu estava fora. Nada melhor: um pouco de lama colore o tênis e a umidade fortalece o aroma das árvores e folhas do caminho.
Cheiros, aliás, estavam mais que marcantes na trilha. Terra molhada, flores, plantas cultivadas na zona das estufas e mesmo a grama pareciam insandecidas na tarefa de perfumar os primeiros ares do ano.
“Que seja uma metáfora para os próximos 12 meses”, torci.
Voltei com esse pensamento em mente. Terminei o loop com o tênis deliciosamente imundo, cruzei a Groenlândia esquisitamente deserta, subi o trecho rápido da 9 de Julho, virei na Brasil, subi toda a Ministro até a Paulista.
Revi a avenida símbolo da metrópole, passei pelo pequeno e bem cuidado Parque Mário Covas, desci a Bela Cintra voando em ritmo queniano.
Estava de volta.
16km de volta a casa, de loop em trilha enlameada, de inauguração de ano.
E ainda tem amanhã.